Pelo menos três municípios do Rio Grande do Sul foram atingidos por tornados na madrugada do sábado (12), conforme análise da MetSul Meteorologia: Soledade, Erebango e Tapejara. Houve danos importantes na região de Getúlio Vargas. Supercélula de tempestade espalhou estragos numa faixa que vai de Erebango, passa por Getúlio Vargas e termina em Tapejara, entre Passo Fundo e Erechim, por volta das 5h de ontem. Há a possibilidade que o mesmo tornado que atingiu Erebango tenha provocado os danos em Tapejara. Os municípios de Erebango e Tapejara foram os mais atingidos, já que os estragos se deram em áreas urbanas. Houve colapso estrutural total de construções sólidas e ainda uma morte em Erebango.


Em Erebango, quase todas casas do bairro Esperança ficaram destelhadas ou danificadas, além de árvores e postes caídos. A igreja de São Sebastião e o salão paroquial também sofreram fortes estragos. No interior do município, propriedade rural foi destruída. Uma das casas do local veio completamente abaixo, ferindo os moradores. Também houve prejuízo em galpões da propriedade, onde havia soja e várias máquinas alojadas. Cerca de 200 residências sofreram danos na cidade. Oito pessoas ficaram feridas. Um homem de 26 anos morreu dentro de casa enquanto protegia o filho do temporal em Erebango. De acordo com a Brigada Militar, em uma casa sobrou só o alicerce. O dono foi arremessado pelo vento por vinte metros. As tábuas voaram das casas e ficaram cravadas nos pinheiro. O policiamento local informou à MetSul Meteorologia que os danos se deram em apenas metade da área urbana, em faixa bem definida, tendo o restante da cidade não registrado qualquer prejuízo.


Em Tapejara, o vento provocou danos em centenas de casas. O município, assim como Erebango, está em situação de emergência. Devido à falta de luz, houve falta de água na cidade. Os estragos não se deram na área central da zona urbana, mas numa faixa em que os prejuízos foram significativos. Um ginásio ficou completamente destruído, depósitos de empresas vieram abaixo, em algumas casas somente sobrou o assoalho, troncos grossos de árvores foram decepados, um caminhão chegou a ser jogado contra uma casa e um carro foi virado (fotos abaixo de Suelen Defeveri da Prefeitura e Rádio Tapejara).


Em Soledade, a área urbana não sofreu danos. Os estragos se deram na zona rural e foram muito localizados. Houve colapso estrutural total de residências, apesar das construções serem frágeis. Troncos de árvores foram decepados. Porta de metal foi parar a cerca de mil metros de distância da sua posição original. A estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), situada no aeroporto municipal de Soledade, acusou rajadas de vento de 80 km/h. A intensidade, contudo, seria insuficiente para provocar os graves danos verificados na zona rural. As fotos são de Paulo Henrique Pinheiro.


Classificar fenômenos pelos danos não é tarefa fácil eis que não raro as características dos estragos são semelhantes, caso da microexplosão (fenômeno que trouxe destruição para Novo Hamburgo no último dia de janeiro) e de um tornado. São detalhes que permitem identificar qual fenômeno deu causa aos danos. A severidade de alguns dos danos em Erebango é condizente com a passagem de tornado. O mapeamento feito pela Brigada Militar de que estes se deram apenas em um lado da área urbana reforçam a suspeita. Se deram numa área mais ampla, mas é a melhor hipótese para o ocorrido no município. Já em Tapejara, é induvidoso que se tratou de um tornado. Os danos foram muito graves e numa faixa bem delimitada da área urbana do município que, segundo o prefeito municipal nos informou na MetSul, teria entre 250 e 300 metros de largura com uma extensão de 1,5 quilômetro. Marca clássica de tornado. Nenhum outro fenômeno explicaria estragos tão sérios em área tão limitada de terreno. Em Soledade, igualmente a hipótese de tornado é a mais plausível, considerando-se o caráter muito localizado e definido dos danos assim como a presença de objetos pesados a uma grande distância de onde se encontravam.


A estimativa dos danos, no caso de Soledade, é condizente com um tornado F1 (vento de 117 a 180 km/h). Nos casos de Erebango e Tapejara, contudo, os danos oscilam entre as categorias F1 (de 117 a 170 km/h) e F2 (entre 182 e 252 km/h). Assim como a trajetória de um tornado é errática, também é a sua intensidade durante o seu tempo de vida. Ao atravessar uma área urbana, a magnitude dos danos não tende a ter a mesma severidade uniformemente ao longo de todo o seu trajeto.


No momento dos tornados no Norte gaúcho, frente fria atuava na região com nuvens de grande desenvolvimento vertical. Imagem de satélite (abaixo) do momento em que se produziram os fenômenos mostrava a instabilidade mais intensa sobre o Nordeste gaúcho enquanto pelo Oeste avançava rapidamente ar seco, em desenho sinótico semelhante ao da noite em que ocorreu o tornado de Gramado e Canela de 2010. Havia ainda um importante gradiente de temperatura com a presença ainda de ar muito quente no quadrante Nordeste do Estado ao passo que ar frio passava a atuar no Noroeste do Rio Grande do Sul.


Detalhe crucial para a ocorrência dos destrutivos tornados da madrufada de ontem no Norte do Rio Grande do Sul era a presença nas áreas atingidas de uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera (mapas abaixo com a projeção de vento do nível de 850 hPa ou 1500 metros de altitude do modelo GFS). O JBN é condição presente na maioria dos tornados que ocorrem no Rio Grande do Sul e se observa em praticamente a totalidade dos eventos de grave conseqüências ocorridos fora do período de verão. Vários destes episódios de grande repercussão pela magnitude dos estragos ainda estiveram associados à passagem de frentes frias com a presença de um ciclone extratropical em formação ou já formado mais ao Sul, como era o caso deste fim de semana. Normalmente, instala-se uma corrente de jato de baixos níveis, via de regra originada na Bolívia, transportando ar seco e quente de Norte, quando de cenários pré-frontais em ciclones extratropicais. O jato de baixos níveis favorece o forte cisalhamento vertical de vento, o que garante o ambiente propício para supercélulas e atividade tornádica.


Na tarde da última terça-feira, um tornado tinha espalhado estragos no interior do município de Marques de Souza, às margens da BR-286, no Vale do Taquari. São, assim, pelo menos, dois episódios de tornados em menos de uma semana aqui no Rio Grande do Sul e numa época que, em regra, é que a registra menor freqüência de temporais do ano no Estado. Tornados em abril aqui são bastante raros. Em regra, eles ocorrem no inverno, primavera e verão. Alguns dos mais intensos da história recente se deram justamente no inverno, como em São Francisco de Paula (2003), Gramado (2010) e Muitos Capões (2005). No outono, contudo, são raros os casos. A morte em Erebango é a primeira provocada por tornado no Rio Grande do Sul, desde que em dezembro de 2003 tornado atingiu uma escola no município de Antonio Prado, na Serra Gaúcha.