De acordo com a análise feita pela MetSul Meteorologia são enormes as evidências que um tornado atingiu parte do Quinto Distrito no interior do município de Canguçu, no Sul do Estado, na tarde da sexta-feira (3). Um temporal com vento forte a intenso destelhou e destruiu dezenas de residências. As localidades mais atingidas em Canguçu foram Alto Alegre, Cordilheira, Bela Vista, Varzea do Sapato, Vau dos Prestes, Santo Antônio e Rincão do Progresso. Uma análise dos danos mostra que muitos dos estragos decorreram de vento forte de natureza não tornádica, mas numa faixa muito limitada e estreita do terreno os danos foram severos com colapso de estruturas sólidas e centenas de árvores completamente decepadas em seus troncos com características clássicas de tornado. As imagens são de Bianca Campos da Fonseca da Prefeitura de Canguçu.

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A estação do Instituto Nacional de Meteorologia no município acusou vento de 27,8 m/s ou 100 km/h, entretanto na faixa do terreno em que se produziram os danos mais severos as características dos estragos são consistentes com velocidade de vento muito superiores. De fato, a estimativa da MetSul é que o tornado que atingiu o interior de Canguçu tenha alcançado em alguns momentos (intensidade e deslocamento de um tornado são erráticos) força equivalente a F2 na escala de Fujita, o que significa vento perto ou até de 200 km/h. Observa-se com nitidez em vários pontos da faixa de maior destruição com as árvores tombaram em sentidos diversos, o que ocorre em tornados e não em um vendaval intenso típico (straight line winds).


Impressiona na análise dos danos do evento da última sexta-feira em Canguçu as conseqüências do tornado na vegetação numa faixa do terreno, mesmo sendo as árvores de troncos mais frágeis. Danos idênticos foram vistos nos tornados de Águas Claras (outubro de 2000) e de Muitos Capões (agosto de 2005), ambos classificados de forma consensual pela pesquisa meteorológica como eventos de escala F3 na escala Fujita. As imagens abaixo de Canguçu foram cedidas por Kairo Kappel.


O cenário era propício a ocorrência de tempo severo e, inclusive à atividade tornádica. Ar mais quente cobria a Metade Norte do Rio Grande do Sul na tarde de sexta-feira com temperatura de quase 34ºC no Centro do Estado e no Noroeste ao passo que pela Metade Sul avançava uma frente fria. No mesmo instante que eram atingidas estas marcas de verão, Jaguarão e o Chuí tinham apenas 18ºC. Veja na imagem de satélite abaixo registrado em horário próximo do registro do tornado que toda a Metade Sul gaúcha estava tomada por nuvens carregadas, mas que justamente sobre a área de Canguçu se observava o “overshooting” com topos salientes nas nuvens do tipo Cb (Cumulunimbus), sinalizando potencial para tempestades severas.


Detalhe crucial, comumente presente em tornados registrados aqui no Rio Grande do Sul, era a atuação de uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera (JBN), o que explica o forte aquecimento experimentado e o vento do quadrante Norte registrado com rajadas de até 80 km/h na tarde de sexta-feira em cidades da Metade Norte. A corrente de jato (JBN) favorece movimentos divergentes de vento (cisalhamento) na atmosfera propícios à gênese de tornados. Nos mapas abaixo, com a análise do modelo norte-americano GFS para o dia 3, observa-se que o vento mais forte no nível de 850 hPa (1500 metros de altitude) durante a tarde da sexta-feira se concentrava exatamente no Sul do Estado, onde se registrou o tornado. 


O tornado de Canguçu é o quarto que se tem registro neste ano no Rio Grande do Sul, de acordo com o levantamento que é mantido pela MetSul Meteorologia. O primeiro se deu em 17 de janeiro, fotografado por piloto entre os municípios de Pantano Grande e Encruzilhada do Sul (veja). O segundo se deu em 17 de fevereiro na forma de uma tromba d’água sobre a Lagoa dos Patos, em Tapes (veja). O terceiro ocorreu agora no outono, em Redentora, no Noroeste do Rio Grande do Sul, com importantes danos em uma reserva indígena (veja). Assim, são dois tornados já neste outono de 2013, justamente na estação do ano que a climatologia histórica mostra menor frequência de tempo severo e, por conseguinte, de tornados no Estado. (Colaboraram Alexandre Aguiar / MetSul Meteorologia e o meteorologista Douglas Lindemann)