Fernando de Oliveira/Arquivo

O verão 2020/2021 começa nesta segunda-feira (21) no Hemisfério Sul com o solsistício às 7h02 (hora de Brasília). A estação tem início com o Pacífico Equatorial Central sob a influência do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. A La Niña persistirá o verão inteiro, mas com tendência de enfraquecimento. Isso, contudo, não significa que seu efeito no clima cesse. O fenômeno, historicamente, agrava o risco de estiagem no Rio Grande do Sul no verão, mas anomalias positivas de temperatura do mar – mesmo que breves – no Pacífico Leste da região equatorial, que não é a região usada para identificar a presença de La Niña, podem ter o efeito de aumentar temporariamente a chuva no Sul do Brasil.

O verão de 2021 vai apresentar a comum irregularidade da chuva da estação com significativa variabilidade nos totais de chuva de uma área para outra. Neste verão, a chuva tende a ser ainda mais irregular com valores abaixo das médias históricas e déficit de precipitação em muitas áreas, o que partes do Estado ainda sob um quadro de estiagem e de deficiência hídrica. Em algumas regiões, no decorrer danova estação, a estiagem pode atingir níveis de moderada a forte com possibilidade de ser severa em alguns municípios.  

Com isso, partes do Estado devem voltar a enfrentar problemas de falta de chuva mais volumosa com perda de produtividade nas safras de verão, diminuição dos níveis dos rios, risco de escassez de água para consumos humano e animal e mais decretos de emergência por seca, além derisco acentuado de incêndios em vegetação (queimadas).

O cenário hídrico, apesar de não muito favorável em diversas áreas, é melhor que o do verão de 2019/2020. Isso porque o final de novembro e este dezembro têm sido mais chuvosos com precipitações acima da média em muitas áreas do Sul do Brasil enquanto no mesmo período do ano passado estes períodos foram muito secos. Assim, o verão de 2021 começará sob condição hídrica mais favorável. Por isso, a tendência é que mesmo com chuva irregular e abaixo da normal histórica em algumas regiões, a situação seja menos crítica – a despeito de preocupante – que no último verão.

A despeito do quadro de chuva irregular, devem ser esperados episódios pontuais de chuva volumosa a excessiva, de curta duração, e com características muitolocalizadas ou regionalizadas. Em regra, acompanham temporais passageiros de verão em dias muito quentes e mais úmidos. Do ponto de vista da climatologia histórica, as regiões Norte, Leste e Nordeste do Estado têm uma maior propensão a estes episódios de chuva volumosa, sobretudo o Litoral Norte que sofre maior influência das correntes de umidade que atuam nesta época do ano no Sudeste do Brasil e nos litorais de Santa Catarina e do Paraná.

No caso do verão de 2021, a Metade Norte do Rio Grande do Sul e áreas mais próximas da costa devem ter mais chuva, apesar de irregular, que o Sul, o Centro, a Campanha e o Oeste que terão um risco de estiagem maior em cenário semelhante ao do ano de 2006. A Metade Norte, que concentra a maior parte da produção agrícola do Estado, terá mais chuva que no último verão, mas ainda assim com períodos secos que vão gerar déficit hídrico com impacto na agricultura.

O verão é a época em que tradicionalmente ocorrem pancadas localizadas e passageiras de chuva que se dão, em regra, da tarde para a noite em dias de calor e umidade alta. Não raro chegam são acompanhadas de temporais, alguns fortes de vento e granizo, e podem despejar volumes altos de chuva em curto período com transtornos nas cidades por alagamentos. Casos mais extremos, sobretudo em dias de calor muito intenso com marcas entre 35ºC e 40ºC, trazem até tempestades severas com estragos por granizo, chuva excepcionalmente volumosa em curto período, vendavais, tornados e correntes descentes violentas de vento (downburst), como se viu em Porto Alegre em 29 de janeiro de 2016.

O tradicional calor, obviamente, se fará presente. MetSulprojeta estação com temperatura acima da média histórica na grande maioria ou totalidade das cidades gaúchas com algumas jornadas de calor muito intenso em que as máximas devem ficar próximas ou até superarem os 40ºC em partes do Estado. Como se antecipa um verão com períodos secos e alguns até longos, e uma vez que longos intervalos secos tendem a favorecer extremos de calor, é alta a probabilidade que se registrem fortes ondas de calor neste verão, não se descartando até uma ou outra intensa.

Mesmo sendo verão é provável que ocorram na estação dias de temperatura amena com maior influência de rápidas passagens de ar frio de trajetória marítima afetando mais o Sul e o Leste do Estado, especialmente em março. A influência do fenômeno La Niña, aliás, pode trazer alguns dias de temperatura baixa mais cedo que o habitual no final de verão.

Vento. Quando pulsos de ar frio de trajetória marítima atuarem sobre o Atlântico Sul perto da costa gaúcha, o vento Nordestão nas praias se fará mais presente em nosso litoral. Como neste verão espera-se temperatura mais alta do mar na nossa costa com ingresso da Corrente do Brasil favorecido pelo quadro de precipitação deficiente a partir de frentes frias que chegar fracas ou mesmo desviarão do Estado, os veranistas tendem a enfrentar menos dias com Nordestão e vão desfrutar mais dias com mar claro e quente. Por outro lado, em marco com ingresso mais cedo de ar frio a tendência é de aumento da frequência de vento Nordeste.

Neste verão, especialmente entre o fim da estação e o começo do outono, devido à menor divergência de vento na atmosfera resultante do tempo mais seco e menor frequência de frentes frias, há um risco muito aumentado de formação de ciclones atípicos na costa do Rio Grande do Sul e do Sul do Brasil, seja de natureza subtropical ou mesmo tropical, raro na nossa climatologia.