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Secretários de Saúde do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, formalizaram no final de novembro um pedido ao Ministério da Saúde para que haja mudanças na estratégia de combate à gripe no Sul do país, região brasileira mais atingida pela doença. Gaúchos, catarinenses e paranaenses querem que a campanha comece mais cedo, no início de abril, e não em maio, como aconteceu em 2012. Ainda foram solicitadas mudanças nos grupos de risco, além do aumento das atividades de conscientização sobre a importância da vacinação e do tratamento correto. O Secretário de Saúde gaúcho, Ciro Simoni, defendeu que o número de doses disponibilizadas no próximo ano tenha como base as vacinas aplicas em 2012. O Rio Grande do Sul teve inicialmente disponibilizado pelo Ministério da Saúde um lote de 1,9 milhão de doses, mas ao final foram mais de 3 milhões de vacinados pela alta procura, tendência que se repetiu também nos estados de Santa Catarina e do Paraná.

A solicitação das autoridades de saúde pública é correta, no entendimento da equipe de meteorologistas da MetSul. São dois os motivos. Primeiro, em qualquer ano o frio tende a ser sentido com mais força no Sul do Brasil ainda no outono, muitas vezes já no final de abril e começo de maio. Considerando o tempo necessário de imunização da vacina, que em regra é de duas a três semanas, uma campanha de vacinação entre maio e junho seria tardia. No caso de 2013, a antecipação da imunização mostra-se ainda mais prudente, já que há indicativos por modelos de clima que episódios de frio mais intenso poderiam ser antecipados. Há anos em que o pico do frio é em junho. Em outros, como foi o caso de 2012, apesar de uma histórica onda de frio em junho, em julho. Foi justamente entre o fim de julho de 2012, mês que teve 16 dias com temperatura, e o começo de agosto que se deu o pico da gripe no Estado no ano passado. O mês de agosto mais quente em um século no Rio Grande do Sul em 2012 foi forte aliado para uma drástica redução dos casos de Influenza aqui no Estado.


O que ocorre neste momento nos Estados Unidos é um sinal de alerta para que os pleitos das autoridades de saúde pública do Sul do Brasil sejam atendidos na sua integralidade. O pico da gripe ocorre um mês antes do habitual entre a população norte-americana e ocorre de forma mais cedo desde 2003/2004, aliás um dos análogos que baseou as projeções do clima deste verão no Rio Grande do Sul.  O Centro de Controle do Doenças dos Estados Unidos (CDC) informou que 47 estados norte-americanos reportam hoje atividade do Influenza “generalizada” contra 41 na semana anterior. O gráfico abaixo, divulgado pelo CDC, mostra a evolução de relatos de sintomas de gripe na comparação da temporada 2013 com anos anteriores.



Houve uma corrida em procura da vacina da gripe nos Estados Unidos, onde o acesso é muito mais fácil que no Brasil. As pessoas não precisam buscar clínicas ou postos de saúde, sendo imunizadas em locais de uso freqüente como supermercados e farmácias. Com a grande procura, começa a haver falta de vacina em algumas áreas dos Estados Unidos com uma maior densidade de casos da enfermidade. A população, contudo, conta com ferramentas como o site HealthMap Vaccine Founder que inclui 44 mil locais no país e que permite ao usuário, com seu CEP, localizar o ponto mais próximo de vacinação.


A Prefeitura de Boston declarou emergência devido à gripe. Até o momento foram mais de 700 casos confirmados contra apenas 70 na temporada anterior. A diferença é enorme entre 2013 e 2012 nos Estados Unidos. O Centro de Controle de Doenças (CDC) tinha reportado 22048 casos de gripe entre setembro e a última semana de 2012. No mesmo período do ano anterior tinham sido apenas 849, um crescimento de 26 vezes no número de casos. O inverno norte-americano até o momento não tem sido muito rigoroso (ficará no restante de janeiro em várias regiões do país), mas é muito mais frio que o de 2012, o mais quente já registrado no país, em especial pelas anomalias de temperatura de março. Os mapas do CDC mostram a diferença dos níveis de Influeza nos Estados Unidos entre a primeira semana de 2013 e agora a primeira de 2012.


O Google descobriu que termos de pesquisa em seu buscador servem como indicadores da atividade da gripe e opera o Google Tendências da Gripe que usa dados agregados das pesquisas para estimar a atividade da gripe nos Estados Unidos e outros países do mundo, inclusive o Brasil. Conforme o Google, “as estimativas foram feitas usando modelo que se mostrou preciso quando comparado com dados oficiais do histórico de atividade da gripe”. De acordo com o site, o pico de 2013 nos Estados Unidos não só é antecipado como é o maior dos últimos anos na comparação com as curvas de tendência iniciadas em 2007.


Interessante é verificar a tendência de Influenza hojenos três principais destinos turísticos dos brasileiros nos Estados Unidos, especialmente em se tratando de um período de férias como janeiro. As cidades de Orlando, Miami e Nova York apresentam até dados de 13 de janeiro os maiores índices dos últimos anos no gráfico de tendências do Google Trends.


A Meteorologia auxilia as mais diversas atividades como agricultura, comércio, seguros, indústria, mídia, etc, mas também é relevante para a saúde pública. Índices de chuva e de temperatura podem permitir projeções, por exemplo, de doenças tropicais como a dengue. E com a gripe não é diferente. Tendências climáticas pode sinalizar um maior ou menor risco de epidemias do vírus Influeza. Peter Palese, professor e diretor de departamento de Microbiologia da Universidade Mount Sinai, de Nova York, publicou há cinco anos um artigo no periódico técnico PLoS Pathogens em que associa o contágio da gripe ao frio (frio não provoca gripe, mas facilita o contágio de acordo com a pesquisa) e a valores baixos de umidade relativa do ar.


Palese, ao revisar a literatura sobre gripe, se deparou com um artigo publicado em 1919 sobre epidemia de Influenza no Novo México. O texto continha uma observação curiosa: na época da epidemia, porquinhos-da-índia começaram a morrer no laboratório. A equipe de Palese infectou cobaias e verificou que elas serviam bem como modelo da doença em seres humanos. Variando a temperatura e a umidade relativa do ar, Palese descobriu que o vírus se espalhava mais rápida e longamente a 5°C e umidade relativa baixa, de 20%, por permanecer mais tempo no ar. Quando o ar está mais quente e úmido, os perdigotos (gotículas minúsculas de saliva que são expulsas na fala ou tosse) agregam moléculas de água, crescem e acabam se precipitando, como gotas de chuva, levando junto o vírus. Como no inverno flutuam mais tempo no ar, aumenta-se a chance de contágio. Alguns especialistas da área médica, porém, contestam as correlações feitas no estudo de Palese. 


E há novidades. Dois pesquisadores norte-americanos desenvolveram um modelo capaz de prever picos regionais da gripe com até sete semanas de antecedência. Eles esperam que um dia a técnica possa auxiliar as autoridades e o público a se prepararam melhor às temporadas anuais da enfermidade. Jeffrey Shaman, professor-assistente da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia (Nova York) e Alicia Karspeck, climatologista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), de Boulder, no Colorado, escreveram sobre o seu novo modelo na última edição da Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS. Eles combinaram dados em quase tempo real da gripe do Google Trends, compararam aos dados reais das autoridades de autoridades, e se valeram de informações meteorológicas diárias para gerar as projeções que se mostraram confiáveis. Segundo os pesquisadores, eles esperam um dia ver na televisão previsão de gripe ao lado dos prognósticos do tempo.

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