Escolas de Pequim cancelaram nesta segunda atividades fora da sala de aula por conta da poluição que atinge níveis alarmantes e perigosos na capital chinesa. Hospitais registraram aumento de casos envolvendo problemas respiratórios. Autoridades ordenaram que fábricas diminuíssem a emissão de poluentes e a circulação de veículos oficiais do governo. Água foi jogada nos canteiros de obras para tentar conter a poeira e sujeira que agrava a névoa nociva que paira sobre a capital chinesa. A demanda por máscaras e purificadores de ar disparou, não só em Pequim, mas em várias outras cidades da China. Muitos idosos se mudaram temporariamente para casas de familiares nos arredores de Pequim para  evitar o pior da poluição.


Pequim é por demais conhecida por ser uma cidade com índices de poluição extremos e nocivos, mas durante o fim de semana eles adentraram a categoria da irracionalidade absoluta e até então impensáveis. Mundialmente se usa um índice de qualidade do ar, que inglês responde pela sigla AQI (Air Quality Index), que vai de 0 a 500. Às 20h (local) do sábado, o AQI foi a 755 no medidor que funciona dentro da embaixada dos Estados Unidos e que é objeto de protesto do governo chinês.

Curiosamente, o site das autoridades chinesas que informa a poluição ficou fora do ar por horas no momento em que a qualidade do ar atingia marcas fora da escala. Ao retornar, informou que o índice de PM10 (material particulado) ficou perto de 500. Já o índice PM2,5, também de material particulado, atingiu 886 sábado na capital da China, segundo a medição da embaixada americana. Há relatos na mídia internacional de marcas perto de 1000 em alguns pontos de Pequim. A cidade foi tomada por uma névoa marrom que não permitia se ver quase nada, apesar do dia ser de sol, ar seco e temperatura baixa.


Foto do edifício da CCTV em Pequim dias antes da aberturas dos Jogos Olímpicos de 2008 sob boa condição atmosférica (à esquerda) e o mesmo local no sábado em dia com poluição recorde e extrema na capital chinesa (direita)

Até a controlada imprensa chinesa cobrou nesta segunda providências contra a poluição que nos últimos dias cobriu várias regiões do país em níveis perigosos, e um jornal chegou a questionar a “fixação” com o crescimento econômico. A imprensa chinesa está sob rígido controle do Partido Comunista, e geralmente evita polêmicas, mas os meios de comunicação têm mais liberdade para falar da poluição, em parte porque não pode ser escondida. “Como podemos sair desse sufocante cerco da poluição?”, perguntou o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, no editorial de capa. “Que vejamos claramente a gestão da poluição ambiental com sentido de urgência”, acrescentou o texto.


Níveis de poluição atmosférica nas últimas 24 horas até a manhã de hoje na América do Sul e na China.

Dois fatores naturais contribuíram para que a poluição fora de controle atingisse níveis alarmantes em Pequim. Primeiro, a região estava sob influência de área de alta pressão (carta de superfície do sábado abaixo) em que o movimento do ar é descendente (efeito de subsidência), prejudicando a dispersão dos poluentes. Segundo, Pequim está ao lado de uma cadeia de montanhas (imagem de satélite em alta resolução do sábado abaixo), o que contribui para reter as emissões na região baixa onde se encontra a cidade.


Na Grande Porto Alegre, no pior dia que se tem notícia até hoje de qualidade do ar por aqui, em 18 de outubro de 2011, a grande quantidade de cinzas vulcânicas fez o PM10 (material particulado) atingir impressionantes 285 com um IQAr (AIQ) de 221, ambas marcas registradas pela estação de monitoramento da Refap em Canoas. Foi uma circunstância absolutamente excepcional e fora do comum decorrente de fatores naturais e não humanos, no caso as cinzas da erupção do vulcão chileno Puyehue Cordón Caulle. Em regra, o IQAr costuma estar abaixo de 50 na Grande Porto Alegre.