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Andrea Madruga

Temporais isolados voltaram a atingir pontos de diferentes regiões do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (10). A instabilidade mais forte ocorreu no Sul gaúcho com chuva que foi localmente intensa e acompanhada de vento forte. No Vale do Taquari, houve queda de granizo localizada, como nos municípios de Lajeado e Colinas. Desde ontem já são quase 20 municípios gaúchos que tiveram registro de granizo.

Observe como estes temporais de verão são localizados. Capão do Leão é município do Sul gaúcho que é próximo de Pelotas. A estação do Instituto Nacional de Meteorologia na localidade registrou 97,8 mm de chuva durante o temporal, sendo 91 mm em poucos mais de uma hora. As rajadas de vento chegaram a 90,4 km/h com estragos em evento agrícola.

Já em Pelotas, apesar da proximidade, a instabilidade sequer ficou perto da intensidade registrada em Capão do Leão. Os acumulados de chuva na cidade, conforme os dados de pluviômetros do Cemaden, variaram entre 3 mm e 20 mm até o fim da tarde, sendo que em alguns nem houve precipitação mensurável.

A MetSul antecipa que estas ocorrências isoladas de chuva e de temporais passageiros de verão devem se repetir mais uma vez durante esta quinta-feira em parte do Rio Grande do Sul e serão bastante freqüentes no Estado nos próximos dias.

O quadro de instabilidade atmosférica ao menos até o começo da próxima semana, antes do ingresso de ar mais frio e seco que se projeta.

Entenda a chuva e os temporais de verão

Diferentemente de uma frente fria, que é um sistema meteorológico que se estende por centenas de quilômetros e costuma trazer chuva mais generalizada, ou da instabilidade associada a um sistema de baixa pressão que igualmente afeta uma área mais ampla, tais instabilidades convectivas geradas pelo calor e a umidade são formações locais que ocorrem mais da tarde para a noite. Costumam se formar e se dissipar na mesma região e, se progridem para outras áreas, não avançam muito.

Assim, não é chuva que vem da Argentina ou do Uruguai, como é a regra do imaginário, mas que se forma na própria região. E, devido a sua natureza, são formações isoladas ou muito isoladas. Por isso, com grande frequência parte de uma cidade pode ter um verdadeiro “dilúvio” com chuva de 50 mm a 100 mm em apenas uma hora e a poucos quilômetros, muitas vezes dentro da mesma cidade, ou mal chove ou uma gota sequer cai.

Estas formações isoladas que podem trazer chuva forte às vezes chegam com vento forte e queda de granizo, afinal são geradas por nuvens carregadas de grande desenvolvimento vertical e cujos topos alcançam grandes altitudes. Foi o que se viu hoje em Capão do Leão. Em dias de muito calor, especialmente com máximas acima de 35ºC, cresce o risco destas pancadas de chuva trazem junto tempestades com vendavais ou granizo.

É importante assinalar, e não nos cansamos de reiterar, que uma vez que estas ocorrências de tempo severo, seja por chuva extrema ou temporais, tendem a ser predominantemente isoladas, não é possível prever que pontos exatamente podem ser afetados com grande antecedência, mas apenas delimitar as regiões de maior risco. 

Não raro tempestades severas nesta época do ano atingem apenas parte de uma cidade, na escala de bairros, sem causar qualquer transtorno em outros pontos do mesmo município.

A probabilidade de ocorrência destes eventos de chuva forte ou de temporais pode ser antecipada dias ou horas antes, mas não é possível antever quais cidades serão afetadas porque eventos bastante localizados. 

Em municípios de maior dimensão territorial, neste tipo de situação, não raro se observa chuva muito volumosa em um temporal em parte da cidade e em locais não muito distantes dentro da mesma cidade pouco ou nada de chuva.

Os modelos numéricos que geram projeções de volumes, ademais, não conseguem prever exatamente tais eventos de chuva extrema isolados, por isso prevêem volumes de 15 mm a 20 mm para um dia em determinado município e no fim, por um temporal, acaba chovendo 100 mm. 

Os meteorologistas que enxergam o cenário macro da atmosfera é que conseguem alertar para este risco de eventos porque não se limitam a observar projeções numéricas de chuva de modelos, atentando para as condições gerais da atmosfera que sinalizam o risco de episódios localizados extremos de precipitação.