Tempo extremo na Argentina com tempestades, nevascas, frio intenso e calor acima de 40ºC no país hoje e nos próximos dias. Uma série de sistemas meteorológicos vai trazer condições atmosféricas radicalmente distintas nas diferentes províncias do país vizinho ao longo desta segunda metade da semana com um cenário radicalmente distinto entre o Sul e o Norte do país.

Uma série de áreas de baixa pressão atmosférica atuará no Sul da América do Sul e junto à costa do Chile, no Pacífico Sul. Ao mesmo tempo, frente fria vai avançar no Centro da Argentina e outra no Chile. E, no Norte argentino, uma área de baixa pressão térmica favorece calor muito intenso. Esta série de sistemas de escala sinótica será responsável por gerar fenômenos diversos e em alguns casos com tempo severo.

Neve intensa

A atuação de vários centros de baixa pressão no Sul do continente e junto ao Chile trará instabilidade na Cordilheira dos Andes. No fim de semana, a neve já retornou para vários pontos dos Andes argentinos e chilenos com acumulações de até 20 cm a 30 cm.

Com a perspectiva de sucessivos sistemas de instabilidade no Chile e na Patagônia, acumulados ainda maiores são esperados e que podem chegar mesmo a metros nas partes mais altas das montanhas.

As precipitações abundantes de neve chegam tardiamente. Enquanto nevava forte no Sul do Brasil no final de julho, famosas estações de esqui na Argentina fechavam suas pistas por falta de neve. Os Andes, até agora, têm a menor cobertura de neve em 50 anos. Julho foi de temperatura acima da média no Sul do continente. O frio e a neve da Argentina, entretanto, não avançam no curto prazo para o Sul do Brasil. A temperatura deve cair na próxima semana, mas não se espera frio muito intenso.

Vento Zonda

Áreas mais a Oeste da Argentina, na região do Cuyo, como Mendoza e San Luis, devem enfrentar vento Zonda com a instabilidade na cordilheira e no lado chileno. Rajadas perto ou acima de 100 km/h de vento seco e quente são esperadas na região, o que deve trazer queda de árvores, incêndios em vegetação e falta de luz.

O Zonda é um vento típico do Oeste argentino e se caracteriza por ser persistente e com intensas rajadas. É muito quente e extremamente seco, não raro reduzindo a umidade relativa do ar a valores até abaixo de 5% a 10%. O Zonda descende das montanhas dos Andes e sua direção predominante é de Oeste.

Ocorre em regra quando há instabilidade no outro lado da Cordilheira dos Andes, no lado chileno da cadeia montanhosa. Rajadas acima de 100 km/h podem ocorrer e costumam ocorrer transtornos como falta de luz e destelhamentos, queda de árvores, além de alto risco de incêndios. A temperatura se eleva acentuadamente, especialmente na região de Mendoza.

De acordo com o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina, o Zonda se produz quando o ar úmido do Oceano Pacífico ascende pela Cordilheira do Andes, deixa a sua umidade no lado chileno e descende no lado argentino com ar muito seco que esquenta rapidamente à medida que descende no setor argentino da cadeia montanhosa.

O SMN enfatiza que pode ocorrer em qualquer época do ano, mas é mais recorrente entre os meses de maio e agosto. Ainda segundo o órgão meteorológico argentino, é mais comum se dar em horas da tarde que em outros momentos do dia. Às vezes não alcança a superfície e se denomina de “Zonda de altura”.

Fenômeno semelhante ocorre em outras partes do mundo com cadeias montanhosas com diferentes nomes. São os casos do Chinook nos Estados Unidos e no Canadá, Foehn nos Alpes europeus, Canterbury na Nova Zelândia e vento Berg na África do Sul.

Tempestades severas

O avanço de uma frente fria vai provocar chuva e temporais no Centro da Argentina. A frente, ao encontrar uma massa de ar muito quente em sua dianteira, tende a gerar áreas de instabilidade intensa com tempestades de variada intensidade, algumas fortes a severas com granizo até médio a grande e vendavais que isoladamente podem ser muito fortes com vento destrutivo.

O sistema frontal encontrará entre o Centro da Argentina e o Uruguai uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera muito intensa e que é responsável por trazer ar muito quente de Norte para as latitudes médias do continente. O padrão divergente de vento com acentuado cisalhamento não permite se descartar o risco de tornados no avanço da frente pelo Centro da Argentina e a região do Prata.

A frente fria traz chuva para o Rio Grande do Sul na sexta-feira e no fim de semana, não se descartando a possibilidade de temporais, mas não se espera que o sistema frontal atue com a mesma intensidade que se projeta para a região central do território argentino.

Calor extremo

Uma área de baixa pressão atua entre o Norte da Argentina e o Paraguai. Trata-se de uma baixa térmica, associada ao ar quente. Uma intensa corrente de jato (vento) nos baixos níveis da atmosfera que se origina na Bolívia percorre quase todo o Norte argentino e o Paraguai, trazendo ar muito quente e forte vento de Norte.

Com isso, a tendência é de calor extremo nesta segunda metade da semana em cidades de províncias do Norte da Argentina com máxima acima dos 40ºC e que em alguns pontos podem atingir valores recordes para agosto ou até próximos de recordes. A temperatura na tarde da terça-feira já chegou aos 40ºC no Paraguai pela primeira vez desde o final do último verão.

O calor muito intenso, com vento seco e quente, vai aumentar dramaticamente o risco de fogo em vegetação no Norte da Argentina e no Paraguai. Ontem, um grande incêndio já foi registrado no departamento de Alto Paraná, no território paraguaio. Com a seca que é forte e prolongada, o risco de fogo se torna ainda maior.