Violento temporal atingiu ontem (31/1) a cidade de Novo Hamburgo e outros municípios da região com menor gravidade. Os danos foram significativos. Houve chuva torrencial de curta duração, queda de granizo e principalmente rajadas de vento de grande intensidade. O prefeito de Novo Hamburgo decretou situação de emergência. A estrutura de serviços públicos essenciais foi seriamente comprometida com danos extensos e importantes à rede elétrica, o que deixou a cidade sem água.
Um dos locais mais afetados foi o Hipermercado Atacadão, cuja cobertura desabou sobre automóveis com a força do vento. Na BR 116, um eucalipto caiu perto do viaduto Ayrton Senna, sentido Interior-Capital, provocando bloqueio parcial da rodovia. O jornal NH, parceiro de 20 anos do serviço de previsão do tempo da MetSul, publicou uma das mais amplas coberturas locais da sua história recente com grande parte da sua edição de hoje dedicada a noticiar a tempestade e explicá-la para o leitor.
A força do vento foi tamanha que provocou o colapso estrutura total de algumas construções, inclusive de grande tamanho, como um templo. Os vidros de prédios e casas chegaram a estourar com o vendaval, inclusive no edifício da Prefeitura local.
Carro foi esmagado por uma das muitas árvores que tombaram com a força do vendaval – Inésio Machado/GES
Vento destruiu completamente um templo religioso na cidade durante o violento temporal ontem – Neia Dutra/GES
Fachada da Prefeitura com janelas arrancadas e vidros estourados depois do vendaval – Francine Natacha/GES
Força do vento derrubou um eucalipto sobre a pista e provocou o bloqueio da movimentada BR-116 – Daniel Damiani
A instabilidade que atingiu Novo Hamburgo começou a se formar ainda no começo da tarde de ontem entre os Vales do Rio Pardo e do Caí. Com o forte aquecimento diurno, a nuvem carregada aumentou muito de tamanho e se deslocou para Leste, alcançando o Vale do Sinos. Foi uma ocorrência localizada, tanto que cidades próximas nada sofreram. O mapa de georeferenciamento dos danos produzidos pela equipe de internet do Jornal NH mostra como as conseqüências mais graves foram concentradas e se deram na área urbana de Novo Hamburgo, e de forma mais esparsa no entorno da cidade do vale.
O fenômeno que atingiu Novo Hamburgo ontem não é raro, mas quando ocorre, em regra, causa graves estragos. A região foi castigada por uma tempestade severa localizada associada à supercélula de temporal, formada ainda no Vale do Caí numa atmosfera bastante quente e úmida. A temperatura antes do temporal era de 37ºC. É provável que a supercélula tenha gerado sobre a cidade o que se denomina de microexplosão atmosférica (microburst), coluna descedente de ar que se espalha radialmente ao atingir a superfície com vento intenso, gerando danos graves e comparáveis a até mesmo a de um tornado.
Não foi, porém, tornado. Tivesse havido um tornado na cidade, os danos não teriam sido tão amplos e sim ocorrido numa faixa mais estreita e delimitada do terreno. Ademais, haveria centenas de fotos do funil, afinal Novo Hamburgo é área de enorme densidade de população. Muito menos foi ciclone, furacão ou tufão (nome dado aos ciclones tropicais no Pacífico Oeste) por serem fenômenos de centenas ou milhares de quilômetros de diâmetro, e longa duração (dias e até semanas).
Supercélula de tempestade sobre o Vale do Sinos vista da BR-116 junto ao Parque Assis Brasil em Esteio às 16h – Claiton K
Nuvem de temporal sobre Novo Hamburgo vista a partir da cidade de São Leopoldo às 16h – Felipe Meert Silva
Momento exati em que o violento temporal atingia Novo Hamburgo na visão de São Leopoldo – Elaine Von Hohendorff
A ausência de estação meteorológica online na área afetada (mais próxima em Campo Bom saiu do ar com temporal) impede que se saiba a força exata do vendaval, mas com base na análise dos danos, a MetSul Meteorologia estima que ficou entre 120 e 150 km/h, até superior entre prédios altos que geram afunilamento. Ademais, Novo Hamburgo é uma cidade com edifícios altos e estudos mostram que a força do vento no 30º andar de prédio pode ser até 20% superior ao da superfície.
Imagem de satélite em alta resolução (NASA) da tarde de ontem mostra nuvem de estrutura supercelular que afetou o Vale
A MetSul Meteorologia alertava em suas redes sociais e site que havia risco de temporais fortes a severos localizados e com potencial de danos ontem. A atmosfera estava instável na região. A sondagem por balão meteorológico das 10h da manhã de ontem realizada no Aeroporto Salgado Filho não chegou a indicar índices de instabilidade em níveis críticos para tempestades severas, entretanto o perfil termodinâmico da atmosfera era favorável ao registro de eventos de tempo severo localizados com umidade alta nos médios níveis e temperatura alta.
Temporais de verão de forte intensidade como o que atingiu a cidade de Novo Hamburgo são comuns durante ondas de calor muito fortes. Não raro ocorrem em zonas rurais ou pequenos municipios, mas desta vez atingiu uma das áreas mais densamente povoadas do Estado. Possuem como característica a rápida formação e dissipação, especialmente entre o meio da tarde e o começo da noite, na hora de máximo aquecimento diurno que favorece movimentos ascendentes do ar na atmosfera (convecção). Por serem localizados não é possível prever com antecedência onde exatamente vão ocorrer, tanto que não raro chegam a atingir apenas parte de uma cidade.