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Tempestades severas são comuns nos Estados Unidos no verão e na primavera, com grande impacto da rede elétrica. Uma grande onda de vendavais em 2012, em fenômeno conhecido como derecho, deixou milhões sem luz e forçou mudanças no setor elétrico nos anos seguintes. | JUSTIN SULLIVAN/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma onda de vendavais destrutivos, acompanhando uma linha de instabilidade com centenas de quilômetros de extensão, atingiu o estado de São Paulo na tarde da sexta-feira (3), dentro de um ambiente de instabilidade associado à formação de um intenso ciclone extratropical junto à costa do Sul do Brasil.

As rajadas de vento atingiram mais de 100 km/h em vários pontos do estado de São Paulo. Medição no Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, apontou 104 km/h. Na Baixada Santista, estação meteorológica da Praticagem do Porto de Santos registrou uma rajada de 151 km/h.

As tempestades severas causaram muitos estragos, como destelhamentos, colapso de estruturas e queda de mais de mil árvores na capital paulista e outras cidades. O maior impacto para a população, entretanto, foi a falta de energia. No pico da crise, mais de quatro milhões de consumidores estavam sem luz, ou seja, perto de 15 milhões de pessoas sem luz em casa e nos seus trabalhos.

Evento semelhante, porém, mais intenso, atingiu vários estados norte-americanos no ano de 2012 e trouxe um enorme impacto no setor elétrico, também com milhões de pessoas sem luz, o que levou a mudanças no setor elétrico norte-americano nos anos seguintes ao desastre.

No final de junho de 2012, uma poderosa linha de tempestades de longa duração e com extensão de centenas de quilômetros, um fenômeno chamado de derecho e que acabou por popularizar o termo na Meteorologia e na mídia local, atingiu diversos estados do Meio-Atlântico e do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Percorreu mil quilômetros em só dez horas.

O derecho varreu por grande parte do Meio-Oeste até os Apalaches Centrais e estados do Meio-Atlântico na tarde e noite de 29 de junho de 2012 e no início da manhã de 30 de junho de 2012. Os ventos, que em vários pontos ficaram entre 150 km/h e 200 km/h, causaram 22 mortes e prejuízos estimados à época de quase 3 bilhões de dólares.

Nas horas seguintes aos vendavais, concessionárias, cooperativas e municípios relataram aproximadamente 4,2 milhões de clientes sem energia elétrica em onze estados e no Distrito de Columbia (Washington). Os esforços de restauração do serviço, em muitos casos, levaram sete a dez dias, e algumas áreas rurais ficaram sem energia por semanas.

Foi a pior tempestade em número de clientes sem energia elétrica em muitos estados norte-americanos até hoje. Por exemplo, no estado da Virginia Ocidental, 63% de todos os clientes ficaram sem luz. Em Maryland, um terço de todos os consumidores. Na Virgínia, 32%. O Distrito de Columbia teve um quarto dos consumidores no escuro.

O restabelecimento da luz depois do derecho de 2012 demorou mais do que em outros episódios de tempo severo nos Estados Unidos. Temporais no dia seguinte ao derecho acabaram por agravar a situação. Dois dias após a grande tempestade, tão-somente 45% tinham tido a luz restaurada enquanto em outras ondas de tempo severo a média de restabelecimento 48 horas após era de 55% ou mais. A luz somente foi normalizada para 90% dos clientes cerca de uma semana depois do derecho.

DEPARTAMENTO DE ENERGIA DOS ESTADOS UNIDOS

O ritmo de retomada dos serviços variou muito de estado para estado. Um dia após o primeiro relatório de interrupção, apenas 6% da capital Washington voltaram a ter luz enquanto o número atingia mais de 90% em Illinois. Nos estados que tiveram um maior número de clientes afetados (Maryland, Ohio, Virgínia e Virgínia Ocidental), a volta da luz avançou em um ritmo mais rápido na Virgínia, com mais de 80% dos clientes religados após quatro dias, em comparação com taxas de restauração de cerca de 71% em Ohio e 51% na Virgínia Ocidental, nos mesmos quatro dias.

DEPARTAMENTO DE ENERGIA DOS ESTADOS UNIDOS

Em relatório depois do evento extremo, o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) destacou que “não existe curva de restabelecimento ´normal´ após estas grandes tempestades, pois cada evento oferece conjunto único de condições e circunstâncias”.

O relatório oficial do governo norte-americano explica que as empresas de energia normalmente concentram os esforços iniciais na reparação de usinas, subestações e linhas de transmissão. A seguir, trabalham para restaurar clientes que prestam serviços essenciais à comunidade, como hospitais, delegacias de polícia e bombeiros. Depois que os clientes essenciais forem restaurados, as concessionárias se concentram em concluir reparos em circuitos que atendem o maior número de clientes e podem ser restaurados em menor tempo.

Depois que grandes circuitos são reparados, os esforços de restauração normalmente apresentam retornos decrescentes, à medida que as equipes de técnicos voltam as suas atenções para circuitos que atendem menos clientes. No fim, os estágios de restauração geralmente são os mais demorados, pois as concessionárias restauram a energia para pequenos grupos e clientes individuais, o que leva alguns clientes a ficarem até uma semana ou mais no escuro.

O derecho de 2012 foi um aprendizado para as concessionárias de energia (utilities) dos Estados Unidos com melhorias nos sistemas de resposta a emergências “Ninguém avisou. Desafiou todos os modelos de previsão e nenhuma empresa de serviços públicos estava preparada para isso”, disse Jerry Pasternak, vice-presidente de assuntos governamentais da empresa de energia Pepco.

“Ninguém nunca tinha ouvido falar do termo ‘derecho’, disse Chuck Penn, da Dominion Virginia Power. “Foi um período de restauração de sete dias. Tivemos ajuda mútua de 18 estados e de lugares tão distantes como o Canadá”, acrescentou. “Tínhamos 6.000 trabalhadores em campo e 55 aposentados da Dominion se sentiram tão mal por nós que saíram de sua aposentadoria para nos ajudar na restauração”, afirmou Penn.

Para a Pepco, Pasternak disse que o derecho ensinou duas grandes lições. “Uma era a necessidade de melhorar o nosso alcance na comunicação ao público, e a segunda era a necessidade de investir no nosso sistema para torná-lo mais resiliente. E acho que fizemos as duas coisas”, explicou.

A Pepco desenvolveu um aplicativo onde os clientes podem relatar uma interrupção, verificar seu status e consultar um mapa de falta de luz de sua região. Além disso, disse Pasternak, a concessionária intensificou a comunicação nas redes sociais e melhorou a interlocução com os gestores públicos em momentos de crise.

A empresa BGE fez uma avaliação das “lições aprendidas” após grandes eventos e realizou uma série de reuniões comunitárias com a população. As podas de árvores foram aumentadas e foi instalada fiação atualizada porque a anterior não era tão durável quanto a existente atualmente no mercado.