A temperatura elevada junto à península antártica no início de fevereiro não só trouxe a maior temperatura já registrada no continente (18,3°C) como derreteu boa parte do gelo que cobre Eagle Island, uma massa de terra na ponta da península. O satélite da NASA Landsat 8 registrou o derretimento da região entre os dias 5 e 13.
A ilha fica a cerca de 40 quilômetros da Base Esperanza, da Argentina, onde foi registrada a temperatura recorde. Os pesquisadores estimam que a temperatura muito acima da média derreteu dez centímetros de neve da ilha, sendo 25% desse volume só no dia 6.
CLIMA | Contamos aqui como a península antártica enfrentou duas semanas de temperatura muito acima da média com recorde de máxima na base Esperanza da Argentina. Agora, satélites revelam o efeito dramático na cobertura de neve. Veja a transformação em Eagle Island entre 5 e 13/2. pic.twitter.com/PsyTfD5IK9
— MetSul.com (@metsul) February 25, 2020
A NASA calcula que a temperatura elevada possa ter derretido 20% de toda a acumulação sazonal de neve da região. “Nunca vi derretimento ocorrer tão rapidamente na Antártida”, disse Mauri Pelto, glaciologista do Nichols College. “Você vê esses tipos de eventos de derretimento no Alasca e na Groenlândia, mas geralmente não na Antártida.”
A temperatura alta de fevereiro de 2020 ocorreu por uma combinação de fatores meteorológicos. Uma crista de alta pressão estava centrada sobre o Cabo Horn no início do mês e permitia o aquecimento. Normalmente, a península é protegida das massas de ar quente por uma faixa de vento de Oeste que circunda o continente, mas o vento em altitude estava enfraquecido, o que permitia que o ar quente extratropical atravessasse o Oceano Antártico e chegasse à camada de gelo.
No caso do Leste da península houve ainda um fenômeno de vento local do tipo Foehn (temperatura sobe muito quando o vento desce a encosta de morros ou montanhas) que gerou superaquecimento local e o recorde em Esperanza. A temperatura da superfície do mar na área também foi superior à média em cerca de 2°C a 3°C.
O período quente do começo deste mês foi o terceiro grande evento de derretimento do verão antártico de 2019-2020, após períodos de alta temperatura em novembro de 2019 e janeiro de 2020. “Se você pensar nesse evento de fevereiro isoladamente, não é tão significativo”, disse Pelto. “É mais significativo que esses eventos ocorram com mais frequência”.