Raio atinge as águas do Rio da Prata, na costa de Montevidéu, no Uruguai, na noite da terça-feira. Uruguai e o Centro da Argentina sofrem há dias com temporais de chuva forte, granizo, vento e grande quantidade de raios. | MARIANA SUAREZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A MetSul Meteorologia alerta para uma prolongada sequência de dias com condições atmosféricas muito instáveis no Sul do Brasil, em particular no Rio Grande do Sul, com alta frequência de chuva e elevado risco de temporais isolados. Os temporais podem ser isoladamente fortes a severos e são antecipados volumes de chuva significativamente altos em diversas localidades.

O que vai acontecer? Uma massa de ar quente, úmida e extremamente instável atua há vários dias com chuva forte e temporais, alguns isoladamente severos, no Uruguai e em províncias do Centro da Argentina com danos e transtornos para a população, especialmente na província de Buenos Aires.

O Aeroparque da cidade de Buenos Aires registrou na quarta-feira o seu maior volume diário de chuva em 24 horas já observado em março. Pontos da Grande Buenos Aires registraram em um só dia 150 mm enquanto os acumulados da semana estão entre 200 mm e 250 mm, o dobro da média do mês.

Houve temporais isolados muito fortes a severos de vento e granizo de variado tamanho, inclusive gigante no Norte da província de Buenos Aires, e uma enorme incidência de raios nos últimos dias no Sul e no Sudoeste do Uruguai, na província de Buenos Aires, e ainda no Sul de Santa Fé e Entre Ríos, na Argentina.

Bloqueio atmosférico associado a uma massa de ar muito quente que provoca uma forte onda de calor no Brasil e em países vizinhos é responsável por manter a instabilidade por muitos dias seguidos estacionada sobre o Centro da Argentina e parte do Uruguai. A instabilidade foi constantemente alimentada por ar muito quente, que elevou a temperatura a 44,5ºC no Norte argentino, proporcionando a energia para a formação sucessiva de tempestades.

Isso fez com que nuvens por demais carregadas e de grande desenvolvimento vertical com chuva localmente forte a extrema, muitos raios, granizo e vento se formassem de forma continuada numa faixa do Centro da Argentina e do Uruguai por vários dias consecutivos, situação que persiste nesta quinta-feira.

A partir desta sexta-feira, entretanto, a massa de ar quente, úmida e extremamente instável que atua no Prata vai se deslocar para o Rio Grande do Sul, o que irá trazer a ameaça de tempo severo e o risco de problemas em consequência de chuva e temporais para o Sul do Brasil, dando início a uma sequência de vários dias de alto risco por chuva e temporais localizados no estado gaúcho.

Vários dias seguidos com risco de chuva forte e temporais

A MetSul Meteorologia adverte que entre os dias 15 e 20 ou 21 de março as condições serão muito favoráveis a episódios de temporais em pontos isolados no Sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, embora se preveja instabilidade também para Santa Catarina e o Paraná. As mais fortes áreas de instabilidade, na maioria dos dias, vão se formar da tarde para a noite.

Uma vez que a instabilidade vai se dar sob uma massa de ar muito quente e instável, sob um padrão de bloqueio atmosférico, nuvens muito carregadas devem se formar sobre o Rio Grande do Sul diariamente no final desta semana e na primeira metade da próxima, provocando episódios de chuva com muito altos volumes e ainda temporais localizados com rajadas de vento forte e queda de granizo de variado tamanho, exatamente como se viu na Argentina e no Uruguai nos últimos dias, embora não necessariamente com a mesma severidade de alguns dos fenômenos observados nos países vizinhos.

Não é possível prever velocidade de vento exatas nas formações isoladas e passageiras de tempo severo, mas neste tipo de situação meteorológica podem ocorrer temporais com rajadas de vento de 70 km/h a 90 km/h, não se afastando fenômenos mais severos muito isolados.

É fundamental destacar que os prováveis temporais serão isolados, embora em várias regiões, o que significa que nem todas as cidades terão tempestade. Da mesma forma, apesar da possibilidade de temporais em Porto Alegre, importante esclarecer que tempestade severa como a do dia 16 de janeiro de janeiro na capital gaúcha não é comum e não ocorre a toda hora, sendo que a esmagadora maioria dos temporais na capital gaúcha apresentam menor ou muito menor severidade.

Grande número de raios deve ser esperado

Como instabilidade sob ar muito quente e úmido costuma provocar elevado número de descargas atmosféricas, alertamos para um número muito alto de raios no Rio Grande do Sul nos próximos dias. Além disso, com a atmosfera aquecida, é comum a ocorrência de grande número de raios nuvem-solo que impactam a rede de energia.

Os mapas abaixo mostram a projeção de quantidade de raios dia a dia entre 15 e 20 de março, de acordo com dados do modelo do Centro Meteorológico Europeu (ECMWF), em que se observa a tendência de vários dias seguidos com raios, alguns com enorme quantidade de descargas.

ECMWF

Dependendo, assim, do dia haverá maior ou menor incidência de descargas atmosféricas. O maior número de raios é projetado para a Metade Oeste do Rio Grande do Sul, embora se preveja um número alto de descargas também para a Metade Leste gaúcha nos próximos dias.

Risco de chuva excessiva a localmente extrema

A sequência de dias de forte instabilidade, com precipitações localmente até intensas, fará com que os volumes de chuva no Rio Grande do Sul nos próximos cinco a sete dias sejam muito altos, atingindo marcas 100% a 200% da média histórica do mês de março inteiro em algumas localidades.

O mapa abaixo, disponível ao assinante com quatro atualizações diárias, mostra a projeção de chuva acumulada nos próximos sete dias do modelo meteorológico alemão Icon. A chuva, assim, pode atingir marcas acima de 100 mm em muitos municípios gaúchos até a metade da próxima semana. Vários devem ter marcas de 150 mm ou mais no período. De forma mais localizada, alguns pontos podem anotar marcas tão altas quanto 200 mm a 300 mm nos próximos sete dias, de acordo com a nossa avaliação.

METSUL

Um dos principais riscos nesta sequência de dias de forte instabilidade, maior que o de temporais de vento, será a ocorrência de chuva com volumes muitos altos, de 50 mm a 100 mm, em curto intervalo, com potencial de causar alagamentos, inundações repentinas e transbordamento de arroios ou córregos.

Embora o período de grande instabilidade que prevê dure dos dias 15 a 20 ou 21 de março no Sul do Brasil, não significa que haverá chuva e temporais o tempo inteiro. No período, vão ocorrer momentos de melhoria temporária com aberturas de sol em diversas cidades, tempo quente e forte abafamento. A sensação de abafamento, aliás, será por demais acentuada com a maior umidade.

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