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Granizo de grande tamanho atingiu a cidade de Bagé, na Campanha gaúcha, por volta das 4h da madrugada deste sábado. As pedras de granizo em váris pontos do município excederam dez centímetros de diâmetro e causaram extensos danos materiais. Análise preliminar da Defesa Civil Municipal aponta que mais de oito mil casas e prédios em Bagé tiveram danos pelo temporal.

Granizo é um fenômeno extremamente comum no Rio Grande do Sul e não raro pedras de maior diâmetro são observadas durante tempestades severas que assolam o estado, mas o evento da madrugada deste sábado foge ao convencional pelo grande tamanho das pedras e seu enorme impacto numa área urbana.

A última vez que uma tempestade severa de granizo causou danos em número tão alto de moradias numa cidade de porte médio a grande no Rio Grande do Sul foi há oito anos, também em outubro, durante um temporal muito intenso que atingiu a cidade de Canoas, na Grande Porto Alegre. Tal como agora, naquele mês o clima era influenciado pelo fenômeno El Niño com forte intensidade.

A prefeitura de Bagé afirma que foi o maior temporal de granizo da história de Bagé, cidade fundada em 1811, e não há evidências históricas que permitam desmentir a declaração. Foi um evento extraordinário de granizo para a histórica local, embora nada inédito em termos de climatologia histórica gaúcha.

O que levou ao incomum temporal de granizo em Bagé foi também uma incomum situação meteorológica que se experimenta neste momento na América do Sul. Evento atípico, assim, decorrer de uma quadro meteorológico maior que é igiualmente raro de se observar.

Neste momento, no interior da América do Sul, há um enorme bolsão de ar quente de intensidade excepcional e que traz temperaturas extremas. O calor horas antes do granizo destrutivo em Bagé atingiu 42,5ºC no Norte da Argentina, 44,5ºC no Paraguai e 42ºC no Centro-Oeste do Brasil, na tarde de sexta-feira.

A atmosfera em Bagé no momento da tempestade estava mais quente do que o habitual com temperatura em 850 hPa (nível de 1.500 metros). Uma corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera trazia vento de Norte com ar quente, o que forneceu energia para a formação de nuvens de tempestade na madrugada deste sábado na fronteira com o Uruguai e áreas próximas.

A imagem de satélite das 4h10 da madrugada deste sábado, instante em que ocorreu o temporal violento de granizo, mostrava nuvens extremamente carregadas entre o Oeste e o Sul gaúcho, produzindo chuva forte, muitos raios e queda de granizo de variado tamanho.

Um destes núcleos de instabilidade, e muito mais intenso por ser isolado e não ter a energia drenada por outros próximos, ganhou muita intensidade com uma célula de tempestade que se intensificou exatamente sobre Bagé. As imagens de radar da hora do temporal identificavam a célula sobre o município com elevados valores de refletidade, condizentes com granizo e de maior diâmetro.

Então, vários fatores entraram em cena concomitamente para a formação do granizo em Bagé. Primeiro, uma massa de ar expcionalmente quente no interior do continte. Segundo, correntes de vento trazendo ar quente para a Campanha e a energia para a formação de nuvens de tempestade numa atmosfera mais úmida e instável. Terceiro, uma frente semi-estacionária sobre o Rio Grande do Sul com contraste de temperatura e maior umidade sobre o Sul e o Leste gaúcho.

O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos possui quatro categorias para definir o tamanho de granizo: pequeno (menos de 2 centímetros), grande (2 cm a 4,5 cm), muito grande (4,5 cm a 7 cm) e gigante (maior que 7 cm). O granizo de Bagé, assim, pelas muitas fotos das pedras de gelo que caíram na cidade, variou entre muito grande e gigante.

Dentro de uma nuvem Cumulunimbus de tempestade, partículas de gelo se desenvolvem a partir de água superresfriada. As partículas caem em direção à parte inferior da nuvem devido à força da gravidade, mas são forçadas a subir por poderosas correntes ascendentes de ar dentro das nuvens (updrafts).

Na parte superior da nuvem, eles encontram mais água superresfriada, que congela sobre as partículas de gelo, adicionando outra camada de gelo, o que se dá de forma repetida. Assim, os pequenos pedaços de gelo ficam cada vez maiores, tornando-se bolas de gelo, as pedras de granizo. As pedras de granizo finalmente se tornam pesadas demais para serem elevadas de volta ao topo da nuvem e caem em terra.

Devido à forma como se formam, o granizo tem uma estrutura em camadas, como uma cebola. Pedras de granizo realmente grandes, como as de hoje em Bagé, se formam em nuvens de tempestade com correntes ascendentes excepcionalmente fortes, como era o caso na nuvem de tempestade que cresceu sobre a cidade da Campanha.

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