Massa de ar muito quente cobre o Rio Grande do Sul e foi responsável neste domingo por máxima superior a 37ºC na zona Norte de Porto Alegre. Áreas de instabilidade formadas pelo calor e a umidade atuaram desde a madrugada no Centro da Argentina e trouxeram temporais com queda de árvores para o Norte da Grande Buenos Aires. No decorrer do dia a instabilidade intensa avançou pelas províncias argentinas de Santa Fé e Entre Rios, além do Oeste do Uruguai, com chuva intensa e vendavais, e atinge o Sudoste gaúcho na noite deste domingo.


Imagem de satélite em alta resolução mostrando a forte instabilidade na manhã de hoje no Centro da Argentina e fotos de queda de árvores em Buenos Aires (Reprodução/TN) e de temporal em Toledo, Canelones, no Uruguai (via Twitter da MetSul)

Recém no sábado a CEEE disse ter normalizado a sua rede após os graves danos dos temporais da noite de segunda-feira e da madrugada de terça no Rio Grande do Sul e nova ameaça paira no horizonte para as concessionárias do setor elétrico. Quem pensa que a “cota” de temporais de dezembro chegou ao fim na semana passada que não se engane. As empresas de energia e a Defesa Civil no Rio Grande do Sul ainda vão ter muito trabalho até o dia 31. A semana que começa promete ser uma das mais ativas em tempo severo no Cone Sul da América do Sul nos tempos recentes e o padrão favorável a tempestades pode prosseguir ainda na última semana de 2012. Esta segunda metade de dezembro, assim, promete ser período de altíssimo risco com frequência altíssima de temporais na Argentina, Uruguai, Paraguai, além do Sul e Sudeste do Brasil. Toda a região estará sob influência de ar quente e úmido, logo instável, e ainda são esperadas várias áreas de baixa pressão, o que acentuará ainda mais a instabilidade. A pressão atmosférica deve cair abaixo de 1000 hPa, principalmente entre quarta e quinta, piorando o quadro de tempo severo. Modelos indicam altas taxas de instabilidade atmosférica até quinta, o que significa sequência de quatro dias com alto risco de temporais. Chama atenção na análise dos modelos como as taxas de instabilidade já serão altas já de manhã de segunda até quarta no Rio Grande do Sul, sinal de que as nuvens carregadas podem se formar mais cedo e não apenas da tarde para a noite.


Projeção do modelo americano GFS (saída das 12Z de hoje) de precipitação e os índices de instabilidade CAPE (acima de 2000 é muito alto) e Lifted (valores negativos indicam maior instabilidade) para Porto Alegre (esquerda) e Uruguaiana (direita)

Os próximos dias não deixarão dúvida sobre este padrão de tempestades. O começo desta semana (segunda e terça) terá risco de temporais isolados no Rio Grande do Sul por conta da combinação de calor e o ingresso de ar úmido e instável, mas será a segunda metade da semana (19-22/12) que promete trazer condições de elevado risco com excessivos volumes de chuva em parte do Estado, granizo e vendavais. Neste período, espera-se a atuação de uma profunda área de baixa pressão atmosférica que será seguida de frente fria com possibilidade de temporais em grande parte do Cone Sul. Este sistema frontal vai atuar no Rio Grande do Sul entre quinta e sexta, mas especialmente na sexta, quando a chuva deve ser mais generalizada e volumosa com potencial de grandes acumulados em algumas localidades, o que pode trazer alagamentos.  Nestes dois dias ainda haverá risco de temporais no Estado, especialmente na quinta-feira.


Previsão do índice K do Modelo da Marinha dos Estados Unidos para a madrugada de quinta (esquerda) e de sexta (direita). O índice de instabilidade K, pela sua equação, é indicador melhor do risco de chuva forte que o de temporais. Valores acima de 40 são muito altos e acompanham o sistema frontal que vai avançar pelo Uruguai e o Sul do Brasil entre quinta e sexta-feira.

Uma projeção dos modelos que preocupa é a sinalização de uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera que, pelos dados de hoje, ingressaria a partir do Oeste do Rio Grande do Sul na segunda metade da quarta-feira, acompanhando a intensificação da área de baixa pressão. Entre a madrugada e a manhã de quinta, este jato de baixos níveis atuaria com muita força sobre o Rio Grande do Sul (mapas abaixo), o que permite se cogitar do risco alto de temporais fortes a severos durante este intervalo da segunda metade da quarta até a primeira metade da quinta. Pela configuração do “jato” há a ameaça de vendavais, alguns fortes a intensos.


Tempestades localmente muito severas e com alto potencial de danos são possíveis nesta semana não apenas aqui no Rio Grande do Sul, mas também nos países vizinhos como Argentina e Uruguai. Eventos extremos como “turbonadas” ou mesmo atividade tornádica devem tornar a ocorrer no Cone Sul, porém é impossível determinar quais localidades poderiam ser afetadas, exceto em curtíssimo prazo (nowcasting). O Centro-Norte da Argentina e o Uruguai têm risco de tormentas, fortes a muito intensas, até quinta-feira. Quarta pode ser uma das jornadas de maior instabilidade na região do Prata. Tanto Montevidéu como a cidade de Buenos Aires estarão sujeitas até a metade da semana a temporais com altos volumes de chuva em curtos períodos.