Prepare-se ! O calor fará história nesta semana. O Rio Grande do Sul enfrentará vários dias dias seguidos de máximas acima de 40ºC e que devem se situar entre 41ºC a 43ºC à sobre em estações meteorológicas, sobretudo na Grande Porto Alegre e nos vales. É alta a possibilidade de quebra de recordes históricos em algumas cidades. Inexiste dúvida por parte da MetSul Meteorologia que esta será uma das mais poderosas ondas de calor já registradas no Rio Grande do Sul, sendo que em alguns locais, como  na cidade de Porto Alegre (veja previsão), a semana que começa pode ser a mais quente em mais de um século de dados. No decorrer da semana, a bolha de ar extremamente quente (“heat dome” no jargão dos meteorologistas dos Estados Unidos), estará sobre o Sul do Brasil, proporcionado o calor extremo e em níveis históricos por vários dias seguidos.


O calor será tão extremo  nesta semana que é ameaça à saúde, especialmente em pessoas fragilizadas ou idosas. Evite esforço físico desnecessário, hidrate-se abundantemente com água e sucos, proteja-se do sol e atente para pessoas com risco de saúde. Não há perspectiva de alívio tão cedo do calor extremo, já que quase todos os dados apontam para um fevereiro tórrido e que pode ser o mais quente já registrado até hoje, depois do janeiro mais quente em um século na cidade de Porto Alegre. Neste domingo, os termômetros indicaram 40ºC na Base Aérea de Canoas e na zona Norte de Porto Alegre, 39,3ºC em Campo Bom e São Leopoldo, 39ºC em Santa Rosa, 38,8ºC em Teutônia, 38,6ºC em São Borja e 38,2ºC em Lajeado. O dia tórrido do verão gaúcho terminou com lindo entardecer em algumas cidades, caso de Osório (foto acima de Maurício Maciel).



Espantoso registro da chegada das nuvens de temporal na praia do Cassino ontem à tarde – Cortesia de Márcio Gandra

Mas não só de calor foi o domingo, 2 de de fevereiro de 2014. Pelo terceiro dia consecutivo, o Rio Grande do Sul enfrentou tempestades severas com estragos e saldo de feridos. Depois do vento destrutivo da sexta em Novo Hamburgo e do granizo que trouxe estragos para a Grande Porto Alegre no sábado, o domingo foi de vendavais fortes no Sul do Estado. O temporal que atingiu Pinheiro Machado deixou pelo menos 22 pessoas feridas. O vento derrubou as estruturas metálicas que sustentavam as lonas montadas na 30ª Feira e Festa Estadual da Ovelha (Feovelha). No momento em que a estrutura desabou havia uma apresentação musical em andamento. Em Rio Grande, o temporal também chegou com vento forte. As imagens da nuvem de tempestades sobre a cidade e na praia do Cassino foram assombrosas, entre as mais impressionantes vistas no Rio Grande do Sul recentemente. Apesar do aspecto de amedrontar das nuvens, não houve maiores conseqüências na localidade.


Chegada da nuvem de temporal à cidade do Rio Grande ao entardecer foi de assustar – Mateius Dias Nunes/Capincho Cumulus

As mesmas nuvens de temporal que atingiram Rio Grande passaram antes pela cidade de Pelotas com chuva forte de curta duração e vendaval. Houve queda de árvores. As fotos da chegada do temporal em Pelotas impressionam e chegaram em grande quantidade para a MetSul Meteorologia, que preparou uma galeria com os registros da tempestade na cidade do Sul.

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Os temporais atingiram também outros pontos da Metade Sul do Estado. Em Canguçu, por exemplo, a estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) acusou rajadas de vento de 100,3 km/h. Na Campanha, temporais isolados de forte intensidade foram registrados durante a tarde. Nuvem muito carregada avançou sobre Bagé (foto abaixo de Karla Figueiredo) e depois da passagem da tempestade o céu se cobriu de nuvens Mammatus na cidade (foto de Janice Menezes).


Na faixa de fronteira do Brasil com o Uruguai, igualmente, houve registro de tempo severo durante o domingo, com a interação do ar muito quente com a maior umidade na região. Caso de Aceguá (fotos abaixo de Mauricio Rodriguez e Gustavo Silveira no lado uruguaio). Jaguarão teve chuva forte com 17 mm em só uma hora. Choveu forte também na região do Chuí.


Na Metade Norte do Rio Grande do Sul, sob o domínio de ar seco, a instabilidade durante o domingo foi muito localizada e associada à termodinâmica. Nuvens carregadas se formaram principalmente sobre a Serra e depois avançaram para o Litoral Norte, onde à noite houve significativa uma tormenta elétrica nas praias (foto abaixo de Osório por Márcio Souza da Silva).


Os temporais tendem a ser muito isolados, apesar de potencialmente fortes onde vierem a ocorrer, nesta semana no Centro e no Norte do Estado. Na maioria das cidades não se espera tempo severo. Já no Sul e no Sudoeste gaúcho, diante da maior proximidade da instabilidade do Uruguai, é que será mais alto o risco de tempo severo. O Uruguai, aliás, é o que mais preocupa. Os modelos projetam agora que quase toda a primeira metade do mês de fevereiro será de chuva com acumulados, em geral, de 200 mm a 400 mm. O problema é que em alguns pontos do Centro, Sul e Oeste do Uruguai os volumes de chuva podem ser ainda mais altos, acima dos 500 mm. Apenas de sábado para domingo, alguns pontos do departamento de Soriano registraram 180 mm e esta mesma área pode ter acumulados de mais 300 mm a 500 mm nas próximas duas semanas. O presidente do Uruguai José Mujica, em declarações à imprensa, descreveu o quadro do seu país como de “calamidade climática”, horas depois da MetSul ter alertado que o Uruguai estava diante de uma “calamidade em partes do país” (reprodução abaixo do jornal El País). Muito correto o posicionamento do mandatário uruguaio, indicando que está consciente da gravidade da situação atual, primeiro e fundamental passo para a adoção das medidas de resposta a um desastre natural.


E, de fato, o que se desenha para o vizinho Uruguai é cenário extremamente grave para parte do país com conseqüências potencialmente desastrosas para a agricultura e pecuária (ganadería). A MetSul mantém seu alerta de transbordamento (desborde) de rios e arroios que podem atingir picos históricos de nível. Os transtornos serão significativos com alagamentos (anegamientos) em áreas urbanas, como em Montevidéu e outras cidades do interior do país. O impacto na agricultura vai ser um desastre em muitas áreas e há risco de uma grande quantidade de cabeças de gado morrer afogada no campo. Os rios devem subir muito mais e hoje rios que não apresentam problemas devem passar a apresentar. Há cortes de estradas (rutas) e o número deve aumentar nos próximos dias. Recomenda-se aos leitores uruguaios estarem atentos aos informes do SINAE.