Clima de primavera marca este mês de julho que pela estatística deveria ser o mais frio do ano na cidade de São Paulo | ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL/EBC

São Paulo tem o mês de julho com as tardes mais quentes na estação oficial do Mirante de Santana desde que tiveram início os registros meteorológicos no local. A temperatura máxima média na estação até o momento é de 25,9ºC, valor muito acima da normal climatológicas das máximas de julho de 22,9ºC, um desvio positivo impressionante de 3ºC até agora no mês.

Considerando que a cidade de São Paulo tem uma temperatura média máxima média de 25,2ºC em setembro e de 26,5ºC em outubro, a temperatura média máxima deste mês de julho na capital paulista tem sido equivalente ao que costuma ocorrer na cidade no final de setembro e no começo de outubro, portanto na primavera.

Julho é o mês com a menor média máxima dentre todos os meses do ano na cidade de São Paulo com 22,9ºC, a mesma de junho, de acordo com as novas normais climatológicas 1991-2020 que foram divulgadas neste ano. Assim, o mês que deveria ter as tardes mais frias está tendo um padrão que é mais típico do começo da primavera, quando alguns dias de calor são frequentes associados ao fim da estação seca.

Desde que começaram as medições em 1943, o julho com maior média máxima até 2022 tinha sido o de 1977 com 25,3ºC. Curiosamente, em uma repetição de padrão histórica, a onda de frio da terceira semana de maio deste ano, a maior no país até agora neste ano, foi a mais intensa no Centro do Brasil em maio desde 1977 com as menores mínimas em maio em Brasília, Belo Horizonte e Goiânia desde 1977.

Na sequência do ranking histórico, depois de 2022 e 1977, o julho com a média máxima mais alta na estação do Mirante de Santana tinha sido o de 2018 com 25,3ºC, na terceira colocação. Seguem 1987 com 24,8ºC; 1959 com 24,6ºC; 1999 com 24,5ºC; 2006 com 24,4ºC; 2008, 2010 e 2020 com 24,3ºC; e, por fim, 1995 com 24,0ºC.

Por que tantas tardes quentes?

O movimento do ar frio de origem polar tem estado predominantemente zonal no Cone Sul da América do Sul por semanas, ou seja, com as massas de ar frio se movimentando de Oeste para Leste no Sul do continente e sem progredir para o Norte de forma recorrente. Isso explica o julho até agora de temperatura muito acima da média no Centro-Sul do Brasil enquanto no Sul do continente tem feito muito frio e nevado em grande quantidade. Se no Sul do Brasil, os dias de frio têm sido escassos, muito mais no Centro do país que enfrenta a sua estação seca.

Frio escasso, chuva também

A capital paulista costuma ter pouca chuva nesta época do ano por julho ser parte da estação seca no Sudeste do Brasil, mas o mês também é de precipitação bastante escassa na cidade de São Paulo que está prestes a completar quase 50 dias sem chuva expressiva. E a escassez de precipitação não é recente.

Em junho, choveu somente 34,6 mm na estação do Mirante de Santana. O valor ficou 25,1 mm abaixo da normal climatológica 1991-2020 que é de 59,7 mm, o que significa um desvio de -42 %. O maior volume de chuva em 24 horas foi de 21,8 mm. Ao todo foram três dias com registro de precipitação acima ou igual a 1 mm, ou dois dias a menos do que a climatologia.

O desvio de precipitação deste ano, até junho, está negativo na cidade de São Paulo em 163 mm, ou seja, um déficit de 16 % em relação à climatologia do primeiro semestre. Janeiro anotou 378,6 mm e superou a média mensal histórica de 292,1 mm em 86,5 mm. O mês de fevereiro somou somente 69,2 mm, enorme desvio de 188,5 mm em relação à média de 257 mm. Já março teve chuva de 233,8 mm, apenas 4,7 mm superior à normal climatológica de 229,1 mm.

Durante o outono, a estação quase inteira teve pouca chuva na capital paulista. Em abril, apenas 61 mm se precipitaram no Mirante de Santana, 26 mm abaixo da normal mensal de 87 mm. Em maio, 52 mm ou 14,3 mm abaixo da média de 66,3 mm. Em junho, 34,6 mm ou 25,1 mm da média mensal histórica de precipitação de 59,7 mm.

A estação do Mirante não tem chuva diária acima de 10 mm desde o dia 10 de junho, logo há mais de um mês e meio. Sem precipitação, os paulistanos têm enfrentado dias de temperatura acima da média desta época do ano, mais secos e mais poluídos, uma vez que a falta de chuva prejudica a dispersão de poluentes e o tempo seco favorece inversão térmica no começo do dia que retém a poluição perto da superfície.