As últimas 24 horas foram muito interessantes no Rio Grande do Sul após longo período sem eventos extremos no Estado. A tarde de terça-feira registrou forte calor para o mês de maio com marcas acima de 30ºC pelo segundo dia seguido. A máxima no Estado foi anotada em Torres com 33,5ºC. Os termômetros indicaram máximas na casa dos 30ºC em Santa Rosa (32,6ºC), Campo Bom (31,9ºC), Teutônia (31,8ºC), Santa Cruz do Sul (31,6ºC), São Leopoldo (31,5ºC), Três Coroas (31,5ºC), Lajeado (31,1ºC), São Borja (31,0ºC), Tramandaí (30,7ºC)) Santa Maria (30,6ºC), São Gabriel (30,6ºC), Rio Pardo (30,2ºC) e Iraí (30,0ºC). Já em Porto Alegre, a maior temperatura na cidade foi registrada na estação do Sistema Metroclima da zona Norte com 31,2ºC.

A máxima em Torres de 33,5ºC foi uma das mais altas já registradas na cidade em maio nos últimos cem anos, conforme levantamento exclusivo da MetSul com apoio do Oitavo Distrito de Meteorologia, e ficou perto de igualar o recorde do último século de 33,8ºC de 2 de maio de 1997. Foi o dia mais quente dos últimos quinze anos em maio no município. Na série histórica 1913-1948 o maior registro para o mês tinha sido de 29,2ºC em 1948. Já na série 1961-1990 a máxima absoluta para maio em Torres foi de 31,6ºC em 29 de maio de 1970.

Normalmente, pelo predomínio de vento de Leste, Torres tem temperatura amena. Muito raramente as máximas superam 30ºC na estação do Inmet no balneário mesmo no verão. “Com uma corrente de jato em baixos níveis atuando no Estado, o balneário sofreu a ação de vento de Oeste a Norte, seco e quente, que passou sobre os Campos de Cima da Serra e desceu em direção ao Litoral”, destacou o meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall. “No movimento de descida da encosta da Serra, processa-se uma compressão da massa de ar que aquece mais, o chamado aquecimento adiabático, elevando muito a temperatura na planície junto à encosta”, explicou. A máxima em Torres ocorreu entre 14h e 15h, quando o vento era de Noroeste a Norte. Às 15h já tinha caído para 26,3ºC, com o vento que virou para Leste, trazendo a parcela de ar mais frio e úmido que vem do mar (fotos do Litoral Norte de Marcelo Nitschke).

Depois da calor, a chuva. E que comemorada chuva ! Tal como projetado pela MetSul, os maiores volumes se concentraram na Metade Norte do Estado. No Sul, as precipitações foram escassas. Pelotas vai terminar maio com apenas 5,1 mm. Em Bagé foram apenas 4 mm. Pontos isolados, contudo, tiveram volumes maiores, especialmente em cidades mais próximas do Centro do Estado. Encruzilhada do Sul acumulou 33,0 mm. Caçapava do Sul registrou 19,8 mm. Camaquã anotou 46,4 mm. A frente fria se intensificou muito a partir do fim da tarde e do começo da noite sobre o Centro do Estado e avançou muito ativa em direção ao Norte gaúcho, onde perdeu força na manhã de hoje.


Onde mais choveu foi na faixa central do Estado. As áreas de instabilidade mais intensas ficaram por horas paradas na região de Santa Maria, despejando enormes volumes. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia indicaram 130 mm na estação automática e 124 mm na estação convencional do município, ou seja, Santa Maria teve a média histórica do mês todo de 129,1 mm em só doze horas. Medições particulares chegaram a acusar 166 mm na zona Norte da cidade. Nuvens de desenvolvimento vertical já eram observadas ao entardecer em Santa Maria (foto de Amanda Comassetto Iensse recebida com tratamento) e à noite a instabilidade explodiu com aguaceiros e muitos raios (foto de Lukas Neusser). O volume de 124 mm na estação convencional do Inmet em Santa Maria foi o maior em 24 horas para o mês de maio desde 25 de maio de 1994, quando caíram 136,6 mm.

Cidades próximas de Santa Maria também tiveram acumulados altos. A MetSul recebeu relatos de até 150 mm na região de Restinga Seca. Altos volumes de chuva foram ainda anotados em São Sepé e Cachoeira do Sul com acumulados acima de 70 mm. A região dos vales foi igualmente muito beneficiada pelas precipitações. Em Santa Cruz do Sul, no campus da Unisc, choveu 78,2 mm. Levantamento realizado pela Rádio Gazeta junto a moradores do interior de municípios da região revela que a precipitação foi irregular. Em Ferraz, no interior de Vera Cruz, pluviômetros indicaram acumulado de 100 mm. Mesmo volume foi verificado em Formosa, no interior de Vale do Sol. Já em Cerro Alegre Alto, que fica ao sul de Santa Cruz, o acumulado foi de 120 milímetros. Em Albardão, interior de Rio Pardo, choveu 63 mm. Mas o mau tempo trouxe problemas no Vale do Rio Pardo. Chuva de granizo que, segundo moradores, não durou mais do que dois minutos foi suficiente para danificar cem casas no distrito de Monte Alverne, distante 25 quilômetros do Centro de Santa Cruz do Sul (foto de Igor Muller do Portal Gaz).

No Vale do Taquari, os volumes de chuva também foram localmente elevados. Relatos dão conta de volumes perto de 100 mm em alguns pontos. No campus da Univates, em Lajeado, foram 38 mm na madrugada. Já no Vale do Sinos, a chuva agora permite o Rio dos Sinos agora “respirar”. No eixo entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, os volumes variaram entre 30 e 40 mm. Em Taquara caíram 40 mm e Riozinho registrou quase 50 mm. Cidades mais ao Norte do Estado também tiveram volumes de chuva mais altos, mas sem os níveis extremos do Centro gaúcho. Em Vacaria, que enfrenta racionamento, foram 20,8 mm. Em Erechim, que igualmente raciona água, foram apenas 9 mm na estação do Inmet. Passo Fundo teve 27,8 mm e Bom Jesus 30 mm. Em Santa Rosa, a precipitação também alcançou a casa dos 20 mm.

Em Porto Alegre, nuvens de desenvolvimento vertical já podiam ser observadas no céu ao entardecer (foto de Carol Jardine) com raios no horizonte, sobre a Lagoa dos Patos. A noite e a madrugada foram de muitos relâmpagos (foto de Fernando Mainar) e, em alguns momentos, com forte trovoadas. Os volumes de chuva variaram muito na cidade. No Centro e na zona Norte ficaram ao redor de 15 mm, mas fortes áreas de instabilidade que passaram pelo Norte da lagoa trouxeram até 42 mm para o bairro Lami, conforme dados do Sistema Metroclima.

De acordo com os meteorologistas da MetSul, a expectativa para os próximos dez dias é de pouca chuva no Rio Grande do Sul. No fim de semana, a passagem de uma frente fria de escassa atividade pode trazer precipitação muito irregular. Os maiores acumulados no Sul do Brasil nos próximos 15 dias devem ocorrer sobre Santa Catarina e, sobretudo, no Paraná, onde as precipitações podem ter volumes excessivos e muito acima da média. Forte massa de ar polar atua no Rio Grande do Sul no começo da semana que vem. São esperadas marcas negativas e Porto Alegre pode ter entre 3ºC e 5ºC, conforme as saídas dos modelos desta tarde.