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Ciclone causou vento de 150 km/h ontem no Rio Grande do Sul | PEDRO PIEGAS/PMPA

Grande número de meios de comunicação e pessoas do público em geral, nas redes sociais e por telefone, têm procurado a MetSul Meteorologia nas últimas horas para questionar se procede a informação publicada por meio de imprensa do Rio Grande do Sul de que o estado será atingido por outros dois ciclones extratropicais ainda neste mês.

A notícia, em matéria não assinada, foi publicada às 17h de ontem enquanto rajadas de vento ainda espalhavam destruição pelo Rio Grande do Sul e deixavam mais de dois milhões de gaúchos sem luz, com a população espantada e assustada com a violência de vento e a severidade dos danos em diversas cidades.

Conforme levantamento exclusivo da MetSul Meteorologia, a partir de diferentes redes de estações de monitoramento, as rajadas atingiram no Rio Grande do Sul 151 km/h em São Francisco de Paula, 148,1 km/h em Cambará do Sul, 146,3 km/h em Rio Grande, 133,0 km/h em Imbé (Ceclimar), 104,4 km/h em Cachoeira do Sul e 100,4 km/h em Canguçu.

O título da matéria que levanta dúvidas e causa angústia é: “Rio Grande do Sul deve ser atingido por outros dois ciclones extratropicais ainda em julho, prevê meteorologia”. O conteúdo está também em matéria da imprensa nacional. Então, teremos dois ciclones atingindo o Rio Grande do Sul até o fim do mês de julho?

De começo, a própria reportagem, aliás que nesta manhã gerava o segundo maior tráfego de leitores no site do veículo, afirma que ”a boa notícia é que as chances de impacto são quase nulas”. Ou seja, a própria matéria oferece o contexto correto que o título induz em sentido contrário.

Mais, meteorologista consultado é citado mais adiante no texto entre aspas afirmando: “essas áreas de baixa pressão vão estar no oceano e bem afastadas da costa, então não vamos sentir nada. Esses episódios não devem causar nenhum impacto na costa gaúcha e catarinense”. O texto diz que não deve se esperar nada.

Outro ponto importante. O título credita a informação à Meteorologia, mas a Meteorologia é uma ciência e no Brasil várias empresas e órgãos públicos fazem previsão para o Rio Grande do Sul. O correto seria creditar a quem fez a previsão de dois ciclone, tal como “diz fulano”, e não à Meteorologia com um todo.

Para ficar claro. Um, ciclones fazem parte do nosso clima. Dois, ciclones ocorrem em qualquer época do ano no Rio Grande do Sul. Três, são mais comuns e intensos entre o outono e a primavera. Quatro, quase sempre, praticamente todos os dias, há um ou mais ciclones extratropicais no Atlântico Sul influenciando o tempo direta ou indiretamente no Rio Grande do Sul e no Cone Sul.

Querem ver o exemplo mais próximo? Dia 16 agora, logo daqui a dois dias, uma baixa pressão vai se aprofundar na costa da Patagônia e dar origem a um novo ciclone no Atlântico Sul. Esse ciclone sequer vai chegar perto do Rio Grande do Sul, mas vai nos afetar porque impulsionará ar frio para o Norte que vai chegar ao Sul do Brasil no começo da semana. Não trará ventania ou tempestade, mas mesmo distante terá repercussão aqui. Não vai nos atingir diretamente, mas vai nos afetar.

Assim, que ninguém perca o sono por agora. O Rio Grande do Sul não será atingido diretamente por dois ciclones com impacto direto ou fenômenos severos, como os vistos na metade de junho e agora nesta semana, tal como dá a entender o título da matéria de jornal. Será afetado à distância por diferentes ciclones (baixas pressões) e anticiclones (altas pressões) no Atlântico Sul que influenciam o tempo diretamente ou indiretamente quase todos os dias no Sul do Brasil, seja impulsionando frentes frias ou ar mais frio, o que é absolutamente normal e corriqueiro.

Apesar de o cenário de curto prazo ser tranquilo, depois de dois eventos muito severos em apenas um mês, a a MetSul repete o alerta que vem fazendo há meses. Este segundo semestre será meteorologicamente hiperativo com muitos eventos extremos, alta frequência de tempestades severas e possibilidade de novos ciclones intensos.