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Municipalidad de Los Angéles/Divulgação/Arquivo

Uma rara e sem precedentes ondas de tornados atingiu o Sul do Chile nos dias 30 e 31 de maio de 2019. Fora ao menos sete tornados em um período de 24 horas em uma região em que é extremamente rara a ocorrência deste tipo de fenômeno.

A região afetada, localizada entre 36ºS e 38°S de latitude não seria desfavorável a esse tipo de evento atmosférico não fosse o fato de ocorrer a Oeste da Cordilheira do Andes, no Chile, o que impede a chegada de ar quente e úmido vindo da Amazônia.

A cidade mais atingida pela onda de tornados foi a de Los Ángeles, localizada a 37,5ºS, onde o vento atingiu EF na Escala Aprimorada de Fujita com vento entre 179 km/h e 218 km/h. O outro tornado atravessou a segunda maior área metropolitana do Chile ao longo de uma trajetória de 15 quilômetros entre Talcahuano e Concepción, localizada a 36ºS, com vento estimado entre 180 km/h e 198 km/h, entre EF1 e EF2 na Escala Aprimorada de Fujita.

Além destes tornados, mais cinco foram relatados, passando por pequenas cidades e áreas rurais do país. Os tornados trouxeram diversos danos em telhados, viraram veículos, deixaram feriados e causaram uma morte. Até o evento, tornados e mesmo condições de tempo severo eram vistos com ceticismo no Chile.

Um estudo sobre o evento de 2019, realizado por um grupo de meteorologistas de diversas universidades chilenas e uma universidade de Buenos Aires na Argentina, buscou descrever as características sinóticas e de mesoescala do evento raro de tempestades tornádicas. O trabalho relata que a onda de tornados ocorreu em meio a condições de tempo severo que incluíram relâmpagos, chuva forte e granizo de aproximadamente 3 centímetros de diâmetro.

Todas essas características, por si só, já seriam raras para a região Centro e Sul do Chile. O estudo traz breve histórico sobre eventos atmosféricos severos para região, onde pelo menos 43 tornados foram registrados, conforme um banco de dados criado pelo Serviço Meteorológico da Marinha do Chile. Os registros de tornados entre 2015 e 2019 representam sessenta e nove por cento do total.

Os tornados são observados na maioria dos continentes, com exceção da Antártida, porém são mais frequentes em áreas como as Planícies Centrais dos Estados Unidos. Na América do Sul, os funis são mais comuns na região da Bacia do Prata, pegando parte da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. A Oeste da Cordilheira do Andes não há registros em estudos para dias favoráveis a ocorrência desses fenômenos.

O país localizado na costa Sudoeste da América do Sul tem sobre o Oceano Pacífico uma área de alta pressão, o que cria um clima relativamente ameno e estável, com a maior parte de suas chuvas originando-se de frentes frias, não favorecendo o surgimento de nuvens com grande desenvolvimento vertical.

O estudo buscou uma descrição sinótica e de mesoescala dos tornados chilenos e também uma base de comparação com grandes eventos de tornado nos Estado Unidos. Para essa análise os meteorologistas fizeram uso de vários dados disponíveis, com, por exemplo, satélites e modelos atmosféricos de reanálise.

Com base nos dados, os cientistas observaram uma configuração sinótica em que tempestades tornádicas foram provocadas pela presença de um bloqueio atmosférico sobre o Oceano Pacifico e uma área de baixa pressão quase estacionária ao Norte do Chile.

Somou-se o transporte de ar frio em torno das latitudes 35ºS a 37ºS em níveis médio e alto da troposfera. A localização da área de baixa pressão, quase estacionária, perto da superfície foi importante para o transporte do ar mais quente ao longo da costa do país, aumentando a instabilidade.

A interação entre o ar instável e a passagem de ondas curtas em nível médio (500hPa) da atmosfera, ao longo do jato subtropical, iniciou a convecção sobre o Vale Central do Sul do Chile em 30 de maio de 2019 e convecção mais organizada associada a uma nuvem de vírgula (assinatura típica de tornados em radares) em 31 de maio de 2019.

Em uma visão de mesoescala, ou seja, mais pontual, os cientistas buscaram ter uma evolução local do cisalhamento, que é a variação da velocidade do vento com a altura e da instabilidade do vento, devido ao seu papel crucial nas tempestades com formação de tornados usando dados do modelo WRF.

Com as análises, os meteorologistas puderam observar também uma rápida desestabilização pelo aquecimento da superfície que foi identificada como um fator chave na gravidade das tempestades de baixo CAPE (índice que mede a quantidade de energia, que uma parcela de ar, tem para realizar a convecção) e alto cisalhamento.

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