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O inverno que começa neste domingo às 13h38m será fortemente influenciado neste ano pelo El Niño, configurado no Oceano Pacífico pela primeira vez desde 2009/2010. Neste começo de inverno, o fenômeno apresenta intensidade moderada, contudo no decorrer da estação pode passar a forte. Tal estágio pode ser atingido em curto prazo, já que a intensificação do fenômeno se dá rapidamente. Os efeitos do El Niño já começaram a ser sentidos no Estado durante o outono e tendem a ser mais acentuados no inverno, especialmente na segunda metade da estação entre agosto e setembro.


Mapa de anomalia da temperatura da superfície do mar mostra significativo aquecimento das águas do Pacífico Equatorial Central e Leste nesta terceira semana de junho (Imagem: NOAA)

A MetSul Meteorologia enfatiza que este dia 21 marca somente o começo astronômico do inverno porque climatologicamente ele já teve início ainda no fim de maio com registros de vários dias com temperatura abaixo de zero no Rio Grande do Sul nas primeiras três semanas de junho. O outono termina com oito dias com mínimas negativas no Rio Grande do Sul, sete delas ocorridas em junho e a menor de -3,8ºC em São José dos Ausentes no dia 20. O inverno marca justamente o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado. Quando o frio está acompanhado de um ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, minimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve. Ocorre que mesmo no inverno são normais dias com calor, especialmente durante agosto e setembro. Não raro nestes meses chegam a ocorrer sequências de vários dias quentes.


Geada branqueou a paisagem em Ana Rech, Caxias do Sul, agora em junho de 2015 – Felipe Campagnoni/SBT-RS

De acordo com o prognóstico dos meteorologistas da MetSul, o fenômeno El Niño tende a trazer, historicamente, temperatura acima da média no inverno com maior número de dias de temperatura amena ou elevada. Isso não pode ser interpretado como ausência de frio intenso. Mesmo sob El Niño podem ocorrer episódios de frio intenso a extremo no Estado. Em 2009, primeiro ano do último episódio de El Niño, o Rio Grande do Sul registrou durante a segunda metade do mês de julho uma das mais potentes ondas de frio dos últimos 30 anos no Estado para depois em agosto experimentar uma sequência de dias de muito calor com temperatura atípica. Em anos prévios de El Niño houve frio intenso tardio até em setembro, e com neve, como em 2002. Por isso, a expectativa é que em 2015 haja alternância destes períodos amenos ou quentes com outros de frio intenso, logo sem frio regular e constante por semanas seguidas como é mais comum sob La Niña. 

E a neve? Ausente no ano passado, a neve pode aparecer este ano no Rio Grande do Sul. Previsão de neve somente pode ser feita no curto prazo, mas a história mostra que em anos de El Niño houve episódios de enorme relevância histórica, mesmo em invernos que na temperatura média não chegaram a ser muito frios. Dois dos anos análogos de El Niño usados pela MetSul em seu prognóstico climático para 2015, tiveram grandes nevadas, o que não significa se repetirão. Em 1957, em julho, uma nevada histórica atingiu o Planalto Sul catarinense. Em agosto de 1965, após enormes enchentes na Metade Norte, episódio incomum na história gaúcha trouxe neve com impressionantes acumulações no Centro e Norte do Rio Grande do Sul. Em várias cidades da Metade Norte foi a maior precipitação de neve já documentada.


Históricas grandes nevadas de julho de 1957 (esquerda) e agosto de 1965 (direita) – Fotos de arquivo pessoal

Atenção! A MetSul Meteorologia adverte que o El Niño deve ter um significativo impacto no regime de chuva no Sul do Brasil neste inverno com precipitação acima da média e número de dias igualmente acima do normal, principalmente na segunda metade da estação. A maioria das regiões deverá ter precipitação acima da média, especialmente as Metades Oeste e Norte do Estado. Alerta-se que são altamente prováveis episódios de chuva excessiva a extrema com volumes bastante altos com transtornos como alagamentos, inundações, interrupção de estradas, quedas de barreiras, além de cheias de rios. Foi o que ocorreu no primeiro ano do último evento de El Niño com chuva excessiva em agosto e setembro de 2009.


Enchente em Montenegro, Vale do Caí, no extremamente chuvoso setembro de 2009 – Fábio Winter/Arquivo Jornal NH

A MetSul alerta ainda que a transição de períodos amenos ou quentes para frios no inverno pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais. Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 mil metros de altitude são comuns horas antes da chegada de uma frente fria intensa associada a um grande ciclone. O Rio Grande do Sul tem histórico até de tornados graves no inverno, especialmente na Serra. Em 2009, no último El Niño, setembro teve temporais de grande intensidade com um tornado arrasador F-4 (vento acima de 300 km/h) no Oeste de Santa Catarina.