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Causou muita polêmica sugestão recente de integrantes da equipe econômica do ministro da Fazenda Guido Mantega de excluir do índice oficial de inflação do Brasil os preços dos alimentos. Segundo estes técnicos, ouvidos pelo jornal O Globo, os alimentos sofrem importantes impactos do clima, gerando variações “irreais”, como é o caso de agora com a seca no Sudeste do país. Não poderia ter havido pior repercussão no mercado. Para analistas, a mudança seria manobra das autoridades para colocar a inflação na meta à força. O tema é bastante controverso e promete provocar novos debates nos próximos meses, em especial com a perspectiva do fenômeno El Niño durante os próximos meses e que costuma provocar aumentos nos preços dos alimentos alimentícios em todo o mundo.

A relação entre clima e índices de inflação foi exposta recentemente em matéria do jornal Wall Street Journal sobre quem mede com mais precisão os índices inflacionários nos Estados Unidos. Desde 2008, uma dupla de economistas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) começou a acompanhar preços na internet numa tentativa de antecipar com precisão números oficiais de inflação ao consumidor pelo governo americano, o CPI (Consumer Price Index). O projeto chamado Billion Prices Project teve êxito e conseguiu prever os números do governo, o que por outro lado atesta também a correção dos dados oficiais. No fim de 2013 e no início deste ano, porém, se deu importante discrepância. Maquiagem da inflação oficial ? Não! Foi o clima. O inverno rigorosíssimo nos Estados Unidos com temperatura glacial e nevascas fez com que os americanos optassem por compras via web, o que derrubou o movimento no comércio tradicional. Os comerciantes de rua, com menor demanda em suas lojas, assim, baixaram preços enquanto na internet os vendedores online não tiveram necessidade de oferecer descontos atraentes ao público para manter suas vendas. Com isso, as curvas tomaram cursos distintos no período frio de 2013/2014.

Este tema de choque de preços e tendências inflacionárias pelo clima seguirá muito atual a partir de agora. A provável volta do fenômeno de impacto mundial El Niño afetará os preços de alimentos no restante de 2014 e ainda em 2015, conforme os especialistas de mercado. O banco Societé Générale até já encomendou índice de commodities atrelado ao El Niño. O fenômeno é ameaça no momento em que as reservas mundiais de matérias-primas estão em níveis baixos. Investidores ouvidos pelo Wall Street Journal já fazem forte aposta em contratos futuros de commodities que devem subir de valor se as reservas mundiais de alimentos encolherem ainda mais. “Se tivermos El Niño e os preços subirem demais, então com certeza veremos algumas agitações”, disse ao WSJ John Baffes, economista sênior do Banco Mundial.


O fenômeno El Niño de aquecimento das águas do Pacífico Equatorial está associado historicamente a fortes aumentos de preços em mercados tão diversos quanto níquel, café e soja pelos impactos no campo e no setor de mineração. Condições climáticas mais extremas e diversas (secas e enchentes) regionais em diversos pontos do planeta podem elevar ainda mais o preço das commodities que já estão em alta, como café, açúcar e soja, pressionando o orçamento do consumidor e prejudicando a recuperação econômica nos países desenvolvidos, avaliam técnicos do Banco Mundial. Os preços mundiais dos alimentos, que pelas estimativas do início de 2014 ficariam basicamente estáveis este ano após uma importante alta observada durante os últimos anos, podem facilmente subir 15% para níveis recordes, apenas três meses após um El Niño, diz um boletim trimestral de análise e tendências do Banco Mundial divulgado dias atrás.


A consultoria londrina Nomura estudou o impacto econômico do El Niño e determinou que, em regra, o fenômeno é positivo para os preços de commodities, negativo para o dólar na cesta de moedas e tem reflexo pouco relevante no crescimento econômico mundial, já que provoca conseqüências ao mesmo tempo positivas e negativas nas várias partes do planeta. Nos Estados Unidos, por exemplo, estudos mostraram que o Super El Niño de 1997/1998 teve um impacto de 25 bilhões de dólares na economia americana, sendo que destes 20 bilhões foram positivos. O fenômeno El Niño traz temperatura mais alta no inverno para muitas regiões dos Estados Unidos, o que reduz a demanda (e o custo) da energia de aquecimento domicilar, beneficiando diretamente o consumo. (Com informações do Wall Street Journal e foto de Wilson Dias/Agência Brasil/EBC)

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