Por que o Guaíba está subindo em dia de céu azul e sem chuva em Porto Alegre? Ninguém é obrigado a entender de hidrologia e o que, para alguns parecer ser um questionamento absurdo, para muitas pessoas é uma dúvida legítima, que lemos várias vezes hoje, e que agora vamos responder.
O Guaíba não é como uma rua, em que precisa estar chovendo para a água subir. Trata-se de um corpo hídrico (lago ou rio é uma discussão infindável) que está na ponta final de vários rios. Rios que percorrem centenas de quilômetros das suas nascentes até Porto Alegre.
Assim, o Guaíba sobe hoje pela chuva que caiu até o sábado, quando parou de chover no Rio Grande do Sul, nas bacias destes rios. Os elevadíssimos volumes de chuva da semana passada, mas, em especial, de sexta para sábado, fizeram com que os rios subissem muito.
Agora, as águas destes rios, que já percorreram (e ainda percorrerão nos próximos dias) um longo caminho estão chegando em Porto Alegre, elevando o nível do Guaíba muito acentuadamente.
Que rios são esses? Jacuí, o maior contribuinte do Guaíba, que nasce na região de Passo Fundo e depois desce até o Centro do estado, na região de Cachoeira, estendendo-se depois para Porto Alegre. O Taquari, que nasce nos Campos de Cima da Serra com o Rio das Antas, percorre a Serra, depois passa pelo Vale do Taquari, e desagua no Jacuí logo a Oeste de Porto Alegre.
O Guaíba recebe ainda as águas do Caí, cujas nascentes estão nos Campos de Cima da Serra, e desce a Serra até o Vale do Caí, seguindo depois para Nova Santa Rita e o delta do Jacuí. Tem também o Rio dos Sinos, que possui suas nascentes entre a Serra e o Litoral, na região de Caraá. E ainda o Gravataí que se forma no chamado Banhado Grande, que abrange os municípios de Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viamão.
As águas que chegam mais rapidamente em Porto Alegre são do Caí, Taquari e da parte do Jacuí entre Rio Pardo e a capital. Já o pico de vazão do Sinos, que recebe também as águas do Paranhana, leva muitos dias até alcançar Porto Alegre. Assim, os picos de vazão dos rios chegam em diferentes momentos, e com condições de vento distintas a cada dia no Norte da Lagoa dos Patos, o que faz das previsões de nível do Guaíba as mais difíceis no Rio Grande do Sul.
Todos os rios que desembocam no Guaíba apresentam cheia e três deles (Taquari, Caí e Sinos) registram cheias de grandes proporções. Taquari e o Caí estão com quadros de cheias históricas. O Jacuí, maior contribuinte, também apresenta cheia entre Cachoeira do Sul e Triunfo com tendência de se elevar ainda mais.
O Rio Taquari atingiu ontem cedo no Porto de Estrela 28,94 metros. Trata-se da quarta maior cota em 150 anos de observações e a terceira maior nos últimos cem anos. Somente é superada no último século pelos 29,98 metros de 1941 e os 29,62 metros da enchente de setembro deste ano no vale. Duas das três maiores cheias em um século do Taquari, assim, ocorreram com intervalo de apenas três meses (setembro e novembro de 2023).
Já o Rio Caí alcançou no domingo 9,01 metros em Montenegro, segunda maior cota desde 1940, conforme dados do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM). Cota só é superada pela marca de 9,20 metros da enchente de 1941. Em São Sebastião do Caí, o rio atingiu a marca de 16 metros, a maior desde que a prefeitura local tem registros. Duas das três maiores enchentes no Vale do Caí desde 1940, portanto, se deram neste ano (junho e novembro).
Choveu muito em todas as bacias que desembocam no Guaíba. Os acumulados de chuva na última semana nas estações do Instituto Nacional de Meteorologia na Metade Norte, onde estão as nascentes dos rios com cheias, foram de 333 mm em Cambará do Sul, 328 mm em Serafina Corrêa, 303 mm em Cruz Alta e em Teutônia, 264 mm em Santo Augusto e Soledade, 277 mm em Canela, 264 mm em Soledade e 259 mm em Caxias do Sul.
Choveu ainda no mesmo período 249 mm em Bom Jesus, 240 mm em Santa Rosa e em Erechim, 236 mm em Passo Fundo, 232 mm em Lagoa Vermelha, 224 mm em Torres, 220 mm em Palmeira das Missões e 205 mm em Porto Alegre.
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