Ciclones extratropicais são um fenômeno recorrente no Atlântico Sul e influenciam o tempo no Rio Grande do Sul e no restante do Sul do Brasil em qualquer época do ano. Que ocorra um ciclone em pleno verão, assim, não é algo fora do comum.

Em 20020, por exemplo, houve um ciclone extratropical que trouxe temperatura baixa e ressaca do mar na costa durante o Carnaval. Dois meses mais tarde, em abril, nada menos que quatro ciclones extratropicais tiveram impactos no território gaúcho, alguns com forte intensidade e intensa ressaca no Litoral Sul.

Este tipo de fenômeno pode ocorrer, portanto, em qualquer mês do ano. O mais comum é que sejam mais freqüentes nos meses mais frios do ano. Em julho de 2020, em um intervalo de apenas uma semana, houve dois ciclones extratropicais significativos.

O primeiro, formado entre 30 de junho e 1º de julho, foi o ciclone bomba que deixou 12 mortos no Sul do Brasil, dez milhões de pessoas sem luz no mais grave evento meteorológico de falta de energia até hoje no Sul do país, e chuva muito volumosa.

No segundo ciclone, uma semana depois, choveu demais em parte do Sul do Brasil, em particular no Nordeste gaúcho, o que se somou à chuva volumosa do ciclone anterior com graves enchentes. O Rio Taquari teve a terceira maior cheia em mais de um século e o Guaíba enfrentou uma de sua maiores cheias no período pós-1941.

Se ciclones são assim tão comuns, por que este é diferente e está sendo classificado pela MetSul como “completamente incomum e atípico”? A resposta se baseia em duas condições: intensidade e período do ano.

Das várias dezenas de ciclones que se formam no Atlântico Sul todos os danos, muitos apresentam um processo de ciclogênese explosiva, ou seja, transformam-se em ciclones do tipo bomba.

Ocorre que isso geralmente ocorre em latitudes mais altas e não em latitudes médias, como será neste caso e foi no ciclone de julho do ano passado. Estas ciclogêneses explosivas tendem a ocorrer da foz do Rio da Prata para o Sul, em regra na costa da Argentina e em pontos mais próximos da Antártida, como nas proximidades das ilhas Malvinas.

Aí entra o segundo fato atípico. Se ciclones são menos comuns no verão, ciclones muito profundos e de muito rápida intensificação ainda mais.

Mesmo na costa da Argentina. Que se tenha um ciclone intenso e ainda em latitudes médias, perto dos litorais do Rio Grande do Sul e do Uruguai, é muito incomum de se observar nesta época do ano, fazendo da situação bastante atípica do ponto de vista da climatologia histórica.

Modelos numéricos indicam que no final da quinta-feira e durante a sexta-feira o ciclone extratropical apresentará pressão mínima central abaixo de 980 hPa a Leste e Sudeste do Rio Grande do Sul com alguns modelos projetando valores tão baixos como 970 hPa. São valores de pressão excepcionalmente baixos para sistemas entre 30ºS e 35ºS de latitude.

Cada ciclone tem sua própria história. Que este ciclone tenha característica de bomba meteorológica não significa que será uma repetição do ocorrido durante o ciclone bomba de julho de 2020. Ao contrário, a MetSul antecipa que os seus efeitos serão menos adversos e amplos do que os observados meses atrás. Massas de ar frio mais intensas, de inverno, têm forte influência para que um ciclone traga mais vento.

Apesar deste ciclone ter uma pressão muito baixa, o gradiente de temperatura entre as massas de ar não será enorme. Isso deve atenuar os efeitos em termos de vento e organização de linhas de tempestade (causa maior dos danos e vítimas no ciclone de julho).

Se este ciclone, com a pressão que vai apresentar, tivesse uma potente massa de ar polar acompanhando, gerando um gradiente térmico muito grande, os riscos meteorológicos seriam muito mais graves.

Independentemente disso, há riscos meteorológicos por conta deste sistema já descritos em nossos alertas e que exigem atenção, particularmente em alto mar e em áreas costeiras do Rio Grande do Sul, sobretudo do Sul gaúcho.