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O Rio de Janeiro teve uma máxima nesta quarta de 43,2ºC, o que, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, é a maior máxima na capital fluminense desde que iniciadas as medições regulares em 1915, apesar de existirem dados meteorológicos esparsos da cidade desde o período imperial. Mas a Cidade Maravilhosa não teve apenas calor extremo neste dias. No dia de Natal, fuligem de cor branca foi observada em vários bairros do Rio como no Centro, Glória, Catete, Copacabana, Flamengo, Leblon, Ilha do Governador e Baixada Fluminense. Fina camada de poeira cobria ruas e jardins.

Cogitou-se a hipótese de que eram cinzas do vulcão Copahue, que entrou em erupção na fronteira entre o Chile e Argentina no sábado. O Comando da Aeronáutica, porém, descartou essa possibilidade e chegou a associar a fuligem a um possível incêndio em Duque de Caxias, teoria posteriormente refutada também. Ainda de acordo com a Força Aérea, não houve registro de fuligem nos dois principais aeroportos do Rio: Galeão e oSantos Dumont. O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, também descartou as cinzas vulcânicas. “Fossem cinzas, elas não apareceriam apenas em alguns bairros e o fenômeno duraria horas”, disse ao Jornal O Dia.

A mídia também ouviu colega meteorologista do Centro do Brasil. “Meteorologicamente falando, acho quase impossível. Seria impossível chegar ao Sudeste sem ter deixado um rastro em outras cidades do Sul, por exemplo”, afirmou. “Os ventos também não estão favorecendo esse movimento. Além disso, há a formação de uma instabilidade no Sul, verdadeiros paredões formando uma barreira para a passagem dessa cinza. Também não houve qualquer relato por parte de aeroportos. Com as informações de que dispomos, eu diria que é muito mais provável que o fenômeno esteja relacionado a algum incêndio na região”.

Respeitamos o posicionamento, que possui fundamentos técnicos sólidos, mas pensamos diferente. Não seríamos tão rápidos em afastar possibilidade da fuligem ter, de fato, uma origem vulcânica. Explico na sequência. Primeiro, o fato de nenhum aeroporto ter informado cinzas nos parece secundário pela experiência que tivemos aqui no Rio Grande do Sul na erupção do Cordón-Caulle. Foram inúmeros os dias com restrição de visibilidade no Salgado Filho (Porto Alegre) e aeroportos do interior do Estado em que os boletins meteorológicos (metares) não reportavam VA (volcanic ash), código para cinzas vulcânicas. Muito diferente dos metares de aeroportos da Argentina e do Uruguai que reiteradamente informavam VA em seus metares. Ademais, a ideia que, devido à instabilidade presente no Sul do Brasil, seria impossível as cinzas atingirem o Rio de Janeiro seria correta, contudo sob a premissa de que elas estivessem avançando sobre o interior do continente. No caso, foi o oposto. As cinzas estavam sobre o Oceano Atlântico, onde ingressaram pelo litoral da Argentina, e avançaram para Norte, passando pela costa do Uruguai e a costa do Sul do Brasil. Veja os mapas abaixo que falam por si só e são claros. Eles foram emitidos pelo VAAC (Volcanic Ash Advisory Center) de Buenos Aires, responsável pela previsão de cinzas para a aviação na América do Sul. Observem o indicativo para os dias 23 e 24 e notem como as cinzas estavam na altura da costa brasileira. E mais, já na latitude do Rio de Janeiro.


Agora o dado mais relevante. Os norte-americanos e europeus possuem satélites que são usados em monitoramento de atividade vulcânica e aerossóis em geral, sobretudo para estudo ambiental. Estes equipamentos detectam na atmosfera os níveis de SO2 (dióxido de enxofre) associados, por exemplo, às plumas vulcânicas em caso de erupção. Atente na sequência de imagens de satélite a seguir como a pluma do vulcão Copahue move-se para Leste sobre o Centro-Sul da Argentina e, como na sequência, ela se move para Norte e alcança o Sudeste do Brasil. A sequência de imagens é incrivelmente esclarecedora e nota-se ainda como a pluma se estendeu pelo Atlântico até o Sul da África.


Outra imagem de satélite de detecção de dióxido de enxofre é interessante. Nota-se como era muito grande a concentração da substância na atmosfera sobre a costa do Sudeste do Brasil no dia em que se deu a precipitação de material particulado na cidade do Rio de Janeiro. O sistema chegou a emitir um “SO2 alert” pela alta concentração na costa do Brasil.


Análise química laboratorial pelas autoridade ambientais fluminenses, imaginamos, dará a resposta definitiva e cabal sobre qual a natureza e a origem da poeira que se precipitou no dia de Natal sobre a cidade do Rio de Janeiro, mas diante das evidências expostas acima jamais descartaríamos, como fizeram as autoridades, que a natureza do material particulado seja mesmo vulcânica. É muita coincidência.