Primeiros dez dias de julho devem ter alguns dias de sol e temperatura elevada a muito alta para a época do ano com possibilidade mesmo de calor em algumas tardes com escassa ocorrência de frio intenso | FERNANDO OLIVEIRA/ARQUIVO

São crescentes os sinais de que o mês mais frio na média do inverno deste ano será o junho que está perto do fim. Normalmente, na esmagadora maioria dos anos, junho e julho são os meses de menor temperatura média no ano no Sul do Brasil e, no caso de 2022, julho se desenha como um mês menos frio que está sendo o atual por todos os dados analisados pela MetSul.

No caso da cidade de Porto Alegre, de acordo com as normais climatológicas 1991-2020, junho tem temperatura média de 14,8ºC enquanto julho de 14,1ºC. Já agosto possui média mensal de 15,7ºC. Já as médias mínimas são de 11,3ºC em junho, 10,4ºC em julho e 11,6ºC em agosto. As médias máximas são de 20,3ºC em junho, 19,7ºC em julho e 21,8ºC.

Em Porto Alegre, nos primeiros 25 dias deste mês de junho, a temperatura mínima média foi de 10,2ºC, ou seja, até o momento no mês está 1,1ºC abaixo da média histórica mensal. Por sua vez, a média máxima na capital gaúcha nos primeiros 25 dias deste mês foi de 17,8ºC ou 2,5ºC inferior à normal histórica.


Ou seja, como as mínimas estão abaixo da média e as máximas muito abaixo da média nos primeiros 25 dias do mês, sem previsão de forte calor até o dia 30, junho vai terminar com temperatura significativamente dos padrões médios históricos no Rio Grande do Sul neste ano. Para que seja superado como mês mais frio deste ano, julho ou agosto teriam que ser bastante gelados e não é o que se desenha para as próximas semanas.

Ao contrário, considerando o que os dados hoje mostram para os primeiros dez dias de julho, o frio teria que ser imenso e muito fora do normal na segunda metade de julho para que junho pudesse ser superado como o mês mais frio do inverno de 2022. Somente um padrão como do ano 2000, quando a segunda metade de julho foi extremamente fria, poderia reverter o desvio positivo na média que se projeta para a primeira metade de julho.

Isso porque a grande maioria dos dias da primeira metade de julho neste ano deve ter marcas acima da média histórica e alguns dias mesmo muito acima das normais climatológicas. Os vários modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia indicam vários dias de temperatura ou amena ou mesmo elevada nos primeiros dez dias de julho, sendo que alguns podem ser até de calor em pleno auge do inverno.


Mais do que isso, nenhum dos dois modelos indicam uma incursão de ar polar mais intensa e abrangente que pudesse anular os fortes desvios positivos de temperatura em alguns dias da primeira quinzena de julho neste ano. Sem incursão de ar polar expressiva que resultasse numa onda de frio e com tendência de ingresso de ar quente em diferentes momentos com alguns dias de temperatura muito alta e até de calor, os primeiros 10 dias de julho estão fadados a ter temperatura média acima da média climatológica.

Observe nos mapas abaixo dos modelos norte-americano GFS e europeu ECMWF como ambas as simulações projetam incursões de ar mais quentes vindas do Centro do Brasil em momentos da primeira quinzena de julho, o que contribuiria para trazer desvios positivos da temperatura média no período.


A perspectiva de alguns dias de temperatura alta na primeira metade de julho comprova uma vez mais que frio constante não é a regra no inverno gaúcho e que o normal é a alternância de períodos gélidos ou frios com outros ameno e até quentes. “Mesmo durante o inverno são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro, e 2022 não fugirá à regra”, destacou a MetSul em sua previsão para o inverno de 2022.

Na história climática recente, há um ano em que junho foi muito frio, como é o caso de 2022, e os demais meses de inverno não repetira o gelo do primeiro mês da estação. Foi o que se viu em 2016. No caso do Rio Grande do Sul, depois de um junho de temperatura muito abaixo das normais históricas, julho teve temperatura perto da média e agosto fechou com marcas acima da média na maior parte do território gaúcho.

Para quem gosta de frio ou torce por ver queda de neve, a tendência de julho e agosto neste ano dificilmente repetirem o frio de junho na temperatura média não é uma sentença de final de inverno que, pelo critério astronômico, recém teve início. A história está repleta de muitos exemplos de eventos extremos de frio e/ou neve em meses que não foram gelados na média.

Em 1965, por exemplo, uma nevada enorme com enormes acumulações atingiu a Metade Norte do Rio Grande do Sul e outras áreas do Sul do Brasil em agosto, mas o mês foi de temperatura perto da média e em algumas áreas até acima das normais. Em 1999, agosto teve uma grande queda de neve no dia 15 com a atuação de um ciclone e a grande maioria das regiões gaúchas terminou o mês com temperatura perto ou acima da média.

Portanto, mesmo que as médias mensais não repitam os desvios negativos significativos deste mês de junho nos meses restantes do inverno de 2022, podem ocorrer eventos pontuais de frio extremo ou com queda de neve. Em 2000, vale recordar, a grande onda de frio gerada por duas intensas massas de ar frio em sequência foi precedida por dias de temperatura alta na primeira quinzena de julho.

Aliás, uma maior oscilação entre ar frio e quente nas nossas latitudes tende a favorecer maior frequência de ciclones extratropicais e estes sistemas costumam acompanhar as incursões de ar mais gelado e queda de neve no Sul do Brasil. Os ciclones se formam justamente pelo contraste entre ar quente e fortes advecções de ar frio por baroclinia, portanto tem muito inverno pela frente e ainda vamos enfrentar dias de frio muito intenso.