O Rio Grande do Sul vem enfrentando uma sequência de temporais neste outono com danos em diversas localidades e grande impacto na rede elétrica por efeito de vendavais que acompanharam as tempestades, algumas fortes a severas. Praticamente todas as regiões gaúchas sofreram com os temporais.
Desde o começo do chamado outono meteorológico, em 1º de março, foram diversos episódios de tempo severo ou chuva excessiva no território gaúcho. Municípios foram obrigados a decretar situação de emergência em consequência de excesso de chuva ou estragos por vento intenso.
No dia 8 de março, Porto Alegre, por exemplo, teve metade da média histórica de chuva do mês inteiro de 103,3 mm em pouco mais de seis horas. O volume na estação de referência climatológica do Jardim Botânico foi de 53,2 mm. Como consequência da chuva, houve queda de árvores na cidade.
Uma semana depois, na metade do mês, um evento de chuva extrema atingiu o Oeste do Rio Grande do Sul. Acumulados de 200 mm a 300 mm foram anotados em estações nas áreas de Barra do Quaraí em Uruguaiana. Produtores rurais chegaram a informar, por suas medições próprias, marcas de 400 mm a 500 mm. Uruguaiana decretou situação de emergência. Na noite do dia 18, chuva de 150 mm em curto períodos inundou Frederico Westphalen.
O mais grave episódio de tempo severo do outono até agora viria no dia 21 com uma frente fria que avançou sobre uma massa de ar excepcionalmente quente. O Rio Grande do Sul teve vendavais generalizados com rajadas acima de 100 km/h em um grande número de cidades. Em alguns pontos, o vento passou de 140 km/h. Cerca de quatro milhões de pessoas ficaram sem luz, número semelhante aos dos temporais de 16 de janeiro deste ano.
Pouco mais de uma semana depois, na Sexta-Feira Santa, em 29 de março, uma nova rodada de temporais no Rio Grande do Sul, causando falta de luz e danos. Houve registro de destelhamentos em cidades como Cruz Alta, Venâncio Aires e Porto Alegre. Na capital, três pessoas ficaram feridas em desabamento.
Na noite de ontem, 3 de abril, mais uma rodada de temporais, que atingiram o Oeste e o Sul do estado. Bagé, que teve rajadas de vento de quase 100 km/h, foi o município mais castigado com destelhamentos, queda de árvores e falta de energia elétrica.
Mas por que tantos temporais neste primeiro mês do outono meteorológico? Conforme a análise da MetSul Meteorologia, a causa principal está no comportamento das massas de ar na América do Sul com temperatura muito acima da média no Brasil e na parte central do continente.
Se analisado cada episódio de tempo severo, quase todos têm como coincidência ar muito quente atuando entre o Centro-Sul do Brasil e os países vizinhos, inclusive com recordes de temperatura de várias décadas a mais de um século em algumas cidades do Sul e do Sudeste, além da Argentina que teve vários recordes derrubados.
Os episódios de chuva extrema de 8 de março e da metade do mês passado se deram sob uma situação de ar quente e mais seco no Centro do Brasil, o que fez a umidade da Amazônia com ar tropical quente e úmido escoar pelo interior do continente, gerando episódios de chuva extrema no Centro e no Nordeste da Argentina, além do Rio Grande do Sul.
O mais importante evento de tempo severo de março, o do dia 21, se deu com uma frente fria encontrando uma massa de ar quente muito intensa, o que potencializou os vendavais no Rio Grande do Sul. Dias antes, a cidade de São Paulo igualou o seu recorde de calor para março de 34,3ºC por dois dias seguidos e no terceiro estabeleceu novo recorde com 34,7ºC, o maior valor da série histórica no mês desde o começo dos dados em 1943.
A bolha de calor que precedeu a frente fria do dia 21 teve ainda recordes de mínimas e máximas para março em elevado número de cidades da Argentina, onde a temperatura chegou a 45ºC na onda de calor. Na véspera da frente, no dia 20, Porto Alegre registrou em pleno primeiro dia do outono a sua mais alta temperatura do ano com 37,1ºC na estação convencional.
No evento de menor porte do dia 28 de março, novamente o ar quente estava presente. A temperatura máxima foi de 33,1ºC em Porto Alegre e Campo Bom anotou 35,2ºC, marcas muito elevadas para o final de março e que agravaram o risco de vendavais no estado.
Ontem, outra vez o calor esteve presente. A linha de instabilidade que avançou na dianteira de uma frente fria encontrou a atmosfera aquecida no estado. Cidades do Norte e do Noroeste chegaram a anotar máximas de 35ºC a 36ºC. Passo Fundo anotou a sua maior máxima em abril desde o começo das medições em 1913, com 33,7ºC.
Muitos eventos de tempo severo, assim, acompanharam neste outono até agora muitos eventos de calor excessivo e até histórico. O El Niño, mesmo perto do fim, ainda estava forte em parte de março e certamente influenciou para a ocorrência de eventos de chuva extrema e temporais.
Os reiterados eventos de calor excessivo e recordes, entretanto, podem ter influência de mudanças climáticas, mas a atribuição de eventos isolados de tempo severo a alterações do clima geradas por emissões de gases estufa é muito intricada. Estudos de atribuição já encontraram evidências de impacto das mudanças climáticas no recente histórico dos últimos meses de muitas ondas de calor no Brasil, e que coincidiram com temporais fortes frequentes no Rio Grande do Sul.
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