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Fernando Frazão/Agência Brasil/EBC

Ou chove, onde precisa, ou vai faltar luz. A crise você já sente no bolso com a conta de energia mais cara pela bandeira tarifária e o acionamento das termelétricas.

O sistema elétrico nacional está cada vez mais no seu limite e o mercado financeiro já enxerga a crise energética como a maior ameaça para a economia brasileira ante a perspectiva de inflação maior e desaceleração da atividade econômica pela necessidade de diminuir o consumo, especialmente entre os grandes consumidores que estão na

O inverno é o auge da temporada seca no Brasil Central e a escassez de chuva somente agravou a crise energética. As perspectivas de curto e médio prazo são muitos ruins porque o auge da chuva no Brasil está distante e a energia disponível crescentemente no limite.


Imagem aérea da Barragem de Furnas em São José da Barra, Minas Gerais, em 19 de julho de 2021, com o Lago de Furnas em cerca de 20% de sua capacidade total Douglas Magno/AFP/MetSul Meteorologia

A crise energética não começou em 2021 nem tampouco em 2020. Há anos a chuva do verão não tem sido suficiente para recuperar os reservatórios das usinas hidrelétricas, mas a situação piorou muito desde o ano passado com precipitações muito abaixo da média na temporada chuvosa do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil e estiagem prolongada também no Sul do país.

O episódio de La Niña entre o final de 2021 e o começo deste ano contribuiu para piorar ainda mais o cenário hídrico nacional com dramática redução da precipitação em parte do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e ainda no interior do Nordeste.

O impacto da chuva irregular e mal distribuída dos últimos vários meses se somou a um contexto anterior em que as reservas hídricas já se depreciavam constantemente.

Bacia do Rio Paraná no centro da crise energética

A seca do rio Paranájá é a pior de toda a série histórica em Cáceres (MT), que data de 1967, e está entre as dez piores da série histórica em Porto Murtinho (MS), que data de 1937. Em Ladário já é a quinta pior vazante desde 1901. Este é o segundo ano consecutivo que a bacia está nesta situação.

Paraná, Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema e o Lago de Furnas (foto) sofrem com os efeitos da seca | Douglas Magno/AFP/MetSul Meteorologia

O pesquisador Marcus Suassuna afirma que os meses de julho e agosto apresentam um avanço mais rápido do processo de vazante, principalmente na calha principal do rio Paraguai.

São dezenas de usinas espalhadas pela calha principal do Rio Paraná e pelos rios que compõem a sua bacia, como Paranaíba, Grande, Tietê, e Paranapanema. A Bacia do Paraná responde hoje por mais da metade da capacidade nacional de geração de energia do País.

Seca excepcional

Segundo o último relatório da Agência Nacional de Água do mês de julho, a situação hídrica mais grave do Brasil neste momento se dá exatamente na área da bacia do Rio Paraná que é justamente a maior importante para o setor elétrico nacional. A bacia do Paraná tinha áreas de seca extrema a excepcional em julho e o mês de agosto até agora só trouxe a piora do quadro.

O monitor de seca utiliza como critério para definir as diferentes categorias de seca a distribuição da chuva comparada à média histórica, nos índices de reservatórios da região e também na condição da vegetação.
Portanto, quando se fala em índices mais severos e até extremos de secas são múltiplos.

Incluem aumento no número de focos de queimadas, prejuízo para as lavouras, comprometimento do abastecimento de água e, o problema mais grave de agora, reflexos na geração de energia que já era preocupação muito antes do começo da atual temporada seca do subsistema Sudeste/Centro-Oeste do sistema interligado nacional.

Uma crise em construção por anos

A situação hídrica nacional se agravou muito desde 2020, mas o quadro de deterioração dos reservatórios vem de anos. Há quase uma década a chuva tem estado abaixo dos padrões históricos em muitas áreas do Brasil Central. Mesmo o Super El Niño de 2015 e 2016 não alterou o cenário com excesso de chuva no Sul.

Cptec/Inpe

O Oeste e o Noroeste do estado de São Paulo, por exemplo, enfrentam chuva anual abaixo da média desde 2012 (gráfico). Igual tendência se observa em muitas áreas do subsistema Sudeste, o principal do sistema integrado nacional.

Os últimos meses em nada colaboraram para alterar o cenário de continuada depreciação dos reservatórios nacionais. No último verão, quando a temporada chuvosa poderia trazer recuperação, as precipitações ficaram abaixo da média em muitas áreas do Centro do Brasil.

O cenário se manteve no outono deste ano com chuva muito abaixo da média em grande parte do Centro e do Sul do país, o que determinou um agravamento ainda maior da situação hidrológica.

O inverno deste ano, na temporada seca do Brasil Central, foi o grande marco de agravamento da crise hídrica com um período de chuva escassa ocorrendo em um sistema já em situação grave e ainda em meio ao aumento da atividade econômica e da carga do sistema.

Episódios de chuva volumosa, como deste final de agosto, no Rio Grande do Sul ou Santa Catarina, quase não têm reflexos no sistema energético nacional porque os dois estados muito pouco contribuem com a geração de energia hidrelétrica do país. É preciso chover e muito onde estão os rios dos principais reservatórios e usinas, no Paraná, no Sudeste e em parte do Centro-Oeste.

Boas e más notícias

São necessários muitos meses seguidos de chuva acima ou muito acima da média para que haja uma recuperação substancial dos principais reservatórios do país. A má notícia é que isso não deve ocorrer.

Durante a temporada chuvosa do final deste ano e do começo de 2021 haverá ou dois meses de chuva acima ou muito acima da média, entretanto nem toda a temporada terá precipitações abundantes. A tendência é de alguns períodos de chuva escassa ou tempo seco.

A boa notícia, entretanto, é que a chuva pode se antecipar neste final de inverno. Diferentemente de 2020, quando a chuva tardou a retornar para o Centro-Oeste e o Sudeste, neste ano as precipitações podem chegar mais cedo.

Modelos climáticos como o norte-americano CFS indicam que já neste setembro a chuva pode ficar acima da média em parte do Sudeste do Brasil e para outubro os dados de hoje apontam uma situação ainda melhor com uma área de chuva superior às normais históricas mais ampla que cobriria as bacias do Paraná, do Grande e a região de Furnas.

Medidas emergenciais

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) está orientando a necessidade de uso dos estoques hídricos armazenados diante do agravamento da crise energética no Brasil.

O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou na segunda diretrizes que permitem ao setor industrial participar de um esforço de economia de energia com a oferta de redução voluntária da demanda de energia elétrica.

Foi apresentada proposta pelo Operador Nacional do Sistema para flexibilizações temporárias da regra de operação do Rio São Francisco, considerando a importância de se dispor de recursos energéticos adicionais a fim de assegurar as condições de atendimento e minimizando a degradação do armazenamento nos reservatórios das usinas hidrelétricas das regiões Sudeste e Sul do país.

Foram ainda discutidas flexibilizações operacionais hoje existentes para níveis mínimos de armazenamento de usinas hidrelétricas e o CMSE indicou a necessidade de uso dos estoques hídricos armazenados.

Principais reservatórios do Brasil estão irreconhecíveis em razão da seca extrema a excepcional | Douglas Magno/AFP/MetSul Meteorologia

Hoje, o governo publicou decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro determinando a redução do consumo de energia elétrica, entre 10% e 20%, nos meses de setembro de 2021 a abril de 2022, nas sedes dos ministérios, autarquias e fundações federais.

O decreto estabelece várias recomendações com a finalidade de reduzir o consumo de energia elétrica. Entre as medidas estão a determinação de que aparelhos de ar-condicionado funcionem com temperatura a partir de 24oC.

Computadores devem ser programados para entrar em modo de espera quando o usuário se afasta, redução de iluminação de corredores e garagens e medidas nas licitações para se obter equipamentos de maior eficiência energética.

Também hoje, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o programa de redução voluntária voltado para consumidores residenciais iniciará a partir de 1º de setembro. O governo vai dar descontos nas contas de luz de consumidores residenciais que economizarem energia elétrica. A expectativa, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), é divulgar as regras da medida no início da próxima semana.

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