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Organização Meteorológica Mundial alerta que ondas de calor, como a que começa no Brasil, se tornarão tão frequentes que vão ocorrer em qualquer época do ano. Europa (foto) teve verão com marcas extremas perto de 50ºC na costa do Mediterrâneo. | SEBASTIEN BOZON/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Brasil está nos momentos iniciais de uma poderosa onda de calor que atingirá o seu ápice no final desta semana e no próximo fim de semana com potencial de marcas extremas e quebras de recordes. Pesquisador da ONU alertou que as mudanças climáticas estão a permitir ondas de calor cada vez mais intensas e duradouras, que em algumas áreas poderão em breve começar a ocorrer durante todo o ano, mesmo nas estações frias.

O calor extremo dominou as manchetes da imprensa no verão deste ano no Hemisfério Norte com “cúpula de calor” que assolou uma grande parte da Europa, incêndios florestais arrasadores alimentados pelo calor na Grécia, Espanha, Canadá e Havaí, onda de calor em agosto na América do Sul e calor extraordinário no Sudoeste dos Estados Unidos.

As ondas de calor estão começando mais cedo, durando mais e se tornando mais intensas, disse John Nairn, conselheiro sênior de calor extremo da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU, em entrevista à agência AFP.

“É a consequência emergente mais rapidamente do aquecimento global que estamos a ver nos sistemas meteorológicos”, disse ele, sublinhando que isto está de acordo com as previsões científicas. “As pessoas estão demasiadas relaxadas em relação aos sinais”, lamentou. “A ciência tem dito que isso está vindo em sua direção. E não é aí que termina”. “Isso só ficará mais intenso e frequente”, disse.

Uma das razões, explicou o cientista da OMM, é que o aquecimento global parece estar a levar a um enfraquecimento das correntes de jato, as correntes de ar que fluem em altitude na atmosfera terrestre como ondas.

À medida que as ondas da corrente de jato ficam mais lentas e onduladas, elas permitem que os sistemas climáticos “fiquem estacionados” em um local por mais tempo. “Você pode ter uma situação de verão em que há ondas de calor persistentes, e o calor simplesmente aumenta, aumenta e aumenta, porque a onda não está avançando”, disse Nairn.

Se você olhar para o planeta como um todo, ele disse que poderá ver que “essas ondas de calor estão aparecendo em cada um dos mesmos comprimentos de onda ao redor do globo”. “A desaceleração e o estacionamento dos padrões climáticos estão nos preparando para que a América do Norte, partes do oceano Atlântico, a Europa e a Ásia estejam simultaneamente sob cristas de ondas”, explicou.

As ondas de calor estão entre os perigos naturais mais mortais, com centenas de milhares de pessoas morrendo todos os anos por causas evitáveis relacionadas com o calor. Nairn pediu que a conversa sobre o calor se tornasse “mais inteligente”.

Entre outras coisas, disse ele, deveria haver muito mais foco no aumento das temperaturas mínimas durante a noite do que nas temperaturas máximas diurnas que ganham as manchetes. As altas temperaturas noturnas por dias seguidos são particularmente perigosas para a saúde humana, uma vez que o corpo não consegue recuperar do calor que sofre durante o dia.

As temperaturas mais elevadas durante a noite também significam que a energia acumulada durante o dia não tem para onde ir, aumentando ainda mais as temperaturas no dia seguinte. O fato de as temperaturas mínimas estarem a subir mais rapidamente do que as máximas está, portanto, a empurrar o excesso de energia “para períodos mais longos de temperaturas mais elevadas”, disse Nairn.

“É cumulativo… Portanto, as ondas de calor estão se tornando muito mais perigosas”. E à medida que o clima continua a mudar, a situação deverá piorar”, sentenciou. Ele expressou particular preocupação com a situação nos trópicos e subtrópicos, apontando para o calor recorde observado na América do Sul durante o inverno.

Olhando para o futuro, o especialista  alertou que “veremos muito mais ondas de calor durante um período muito mais longo do ano”. Nos trópicos e subtrópicos, “infelizmente, as indicações são de que ondas de calor severas e extremas poderão ocorrer em qualquer momento (do ano) antes do final do século”. Questionado sobre o que poderia ser feito para conter o calor desenfreado, Nairn sublinhou que “todos nós temos a capacidade de realmente reverter esta situação”. “Precisamos parar de queimar combustíveis fósseis. Não é mais difícil do que isso”.