Anúncios

Estudos e estatísticas mostram que ondas de calor ficaram mais frequentes na Europa e que extremos de calor hoje são muito mais prováveis que no passado | ALAIN JOCARD/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A probabilidade de a temperatura atingir sem precedentes 40ºC ou mais no Reino Unido pode ser até 10 vezes mais provável ​​no clima atual do que sob um “clima natural não afetado pela influência humana”, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) declarou nesta segunda-feira. Em um comunicado, a OMM observou que o Met Office do Reino Unido emitiu pela primeira vez um “aviso vermelho” para calor excepcional e prevê temperaturas chegando a 40ºC nesta terça-feira. A temperatura recorde atual no Reino Unido é de 38,7ºC, observada em 2019.

“As noites também provavelmente serão excepcionalmente quentes, especialmente em áreas urbanas”, disse o meteorologista-chefe do Met Office, Paul Gundersen. “Isso provavelmente levará a impactos generalizados nas pessoas e na infraestrutura. Portanto, é importante que as pessoas se planejem para o calor e considerem mudar suas rotinas. Este nível de calor pode ter efeitos adversos para a saúde”, advertiu.

A bolha de calor também age como uma tampa, retendo poluentes atmosféricos, incluindo material particulado, resultando em uma degradação da qualidade do ar e efeitos adversos à saúde, principalmente para pessoas vulneráveis, explicou Lorenzo Labrador, Diretor Científico do Programa Global Atmosphere Watch, da OMM. “Da mesma forma, o sol abundante, altas concentrações de certos poluentes atmosféricos e atmosfera estável são propícios a episódios de formação de ozônio perto da superfície, o que tem efeitos prejudiciais sobre pessoas e plantas”, continuou.

Nikos Christidis, cientista de atribuição climática do Met Office, acrescentou que um estudo recente descobriu que a probabilidade de dias extremamente quentes no Reino Unido tem aumentado e continuará a aumentar ao longo do século. “A mudança climática já influenciou a probabilidade de extremos de temperatura no Reino Unido”, disse Christidis. “A probabilidade de exceder 40ºC em qualquer lugar do Reino Unido também está aumentando rapidamente e, mesmo com as promessas atuais de redução de emissões, tais extremos podem ocorrer a cada 15 anos no clima de 2100”.


Eventos de calor extremo ocorrem dentro da variação natural do clima devido às mudanças nos padrões climáticos globais. No entanto, a OMM aponta que o aumento da frequência, duração e intensidade desses eventos nas últimas décadas está claramente ligado ao aquecimento observado do planeta e pode ser atribuído à atividade humana.

O calor excepcional é acompanhado de enormes incêndios florestais no Sudoeste do continente, que causaram centenas de mortes e viram milhares de pessoas evacuadas de suas casas. Em Portugal, as temperaturas atingiram máximas de até 47°C e os alertas vermelhos estão em vigor em grande parte do país, pois as condições quentes aumentam o risco de incêndios florestais.

Mais de 13.000 hectares de terra estavam em chamas na região francesa de Gironde, e 15 dos 96 departamentos da França estavam listados em alerta vermelho e 51 em alerta laranja, com os moradores dessas áreas instados a ficarem vigilantes.

Em sua mensagem de vídeo para um evento climático de alto nível na Alemanha na segunda-feira, o chefe da ONU, António Guterres, alertou que “metade da humanidade está na zona de perigo”, enfrentando inundações, secas, tempestades extremas e incêndios florestais. Dirigindo-se a ministros de 40 países na cidade de Petersberg.

Guterres disse que a meta do Acordo de Paris de 2015 de limitar o aquecimento global a 1,5ºC já estava em suporte de vida saindo da COP26 em novembro passado, e seu “pulso enfraqueceu ainda mais”. Conforme Guterres, as nações continuam jogando o jogo da culpa em vez de assumir a responsabilidade por nosso futuro coletivo”, declarou o secretário-geral, pedindo aos países que reconstruam a confiança e se unam.

As altas temperaturas desta segunda-feira na França e Reino Unido ilustram a multiplicação das ondas de calor na Europa, causadas pela mudanças climáticas. As emissões de gases do efeito estufa aumentam a potência, duração e o ritmo de repetição dessas ondas, segundo os cientistas. Essas foram as principais ondas de calor que afetaram a Europa desde o início do século XXI:

Verão de 2022: duas ondas de calor em menos de um mês

Uma onda de calor extremo e precoce atinge o centro e o sul da Europa e causa numerosos incêndios em meados de junho. Países como Alemanha e Áustria registram recordes de temperatura para um mês de junho. A segunda onda, um mês mais tarde, também provoca incêndios florestais na França, Espanha, Grécia e Portugal. Por conta disso, milhares de habitantes e turistas são obrigados a deixar suas residências. Também houveram vítimas fatais nos serviços de emergência. O Reino Unido emite pela primeira vez um alerta nacional, por conta dos picos de temperatura acima de 40ºC.

Verão de 2021: Grécia e Espanha

Entre o final de julho e início de agosto, em 2021, a Grécia sofre “a pior onda de calor desde 1987”, com picos de 45ºC. Incêndios devastam regiões mediterrâneas no país, na Turquia, Itália e Espanha. Entre os dias 11 e 16 de agosto, a Espanha registra mais de 45ºC em partes de Andaluzia e no sul, em Múrcia.

Duas ondas de calor em 2019, temperaturas recordes

A Europa registra duas ondas de calor entre o final de junho e meados de julho de 2019. Segundo estimativa feita pela Universidade de Lovaina, na Bélgica, cerca de 2.500 pessoas falecem por conta das ondas. Entre os dias 24 e 25 de julho são registrados recordes na Holanda, Bélgica, Alemanha e Reino Unido: 42,6ºC em Leuven, noroeste da Alemanha, 41,8ºC em Begijnendijk, Norte da Bélgica, 40,4ºC no Sul da Holanda e 38,7ºC em Cambridge, no Leste da Inglaterra. – 2018: calor, seca e incêndios – Na segunda metade de julho e início de agosto, a seca deixa o Rio Danúbio em um nível mínimo de água. Grandes incêndios são registrados em Portugal e na Espanha.

2017: incêndios e temperaturas extremas

As ondas de calor se repetem entre o final de junho e a primeira metade de agosto. Portugal sofre incêndios florestais de grande magnitude. Espanha registra um pico de 46,9ºC no dia 13 de julho em Córdoba, segundo os dados de Aemet.

2015: onda de calor precoce

As ondas de calor começam em junho. A Inglaterra registra um pico de 36,7ºC no início de julho. As mortes causadas pelas ondas de calor na França são estimadas em 1.700, segundo um estudo publicado em abril de 2019.

2007: Europa Central e do Sul

A onda de calor golpeia os países do centro e do sul da Europa no final de junho. A Hungria lamentou mais de 500 mortos. Itália, Macedônia e Sérvia sofrem muitos incêndios florestais.

2003: milhares de mortos

Na Europa Ocidental, em particular na França, Itália, Espanha e Portugal, os países sofrem o período de ondas de calor na primeira metade do mês de agosto. No dia 1 de agosto de 2003, Amareleja no Sul de Portugal registra uma temperatura recorde de 47,3ºC. As ondas de calor afetaram especialmente as pessoas na terceira idade. Através de um estudo posterior, cientistas calcularam a morte de mais 70 mil pessoas mortas devido as ondas no verão de 2003 em 16 países europeus. França e Itália lideraram esse recorde, respectivamente, com 15 e 20 mil mortos.

Anúncios