Corações gremistas vão transbordar de emoção neste domingo de despedida do Estádio Olímpico. Se o último jogo ocorre em jornada de calor, o primeiro foi disputado em dia ameno. Foi no distante 19 de setembro de 1954. Vitória de 2 a 0 do tricolor sobre o Nacional de Montevidéu. Fotos do dia mostram que o sol apareceu, mas nuvens escuras se fizeram presentes, possivelmente em razão de circulação de umidade de área de baixa pressão no Atlântico. Reanálise realizada pela MetSul da data de 1954 mostra que havia no dia uma área de pressão continental na área de Mendoza, na Argentina, e um centro de baixa pressão na costa argentina.


Grêmio 2 X 0 Nacional (URU) em 19 de setembro de 1954 – Arquivo Grêmio

O primeiro jogo se deu sob umidade alta que teve média diária de 79% em Porto Alegre. Não fazia frio. Naquele dia festivo, a mínima em Porto Alegre foi de amenos 16,5ºC. A máxima atingiu 24,8ºC. Valores agradabilíssimos que permitiram que muitos dos milhares de espectadores do jogo inaugural vestissem camisas de mangas curtas em pleno fim de inverno.


Grêmio 1 X 0 Internacional em 25 de setembro de 1977 – Arquivo Grêmio

São quase seis décadas de jogos épicos no Olímpico. De vitórias gloriosas e derrotas de triste assimilação. O tempo esteve longe de estar de “perna pro ar”, por exemplo, em 25 de setembro de 1977, mas André Catimba deu uma cambalhota na história no clássico Gre-Nal que encerrou oito anos de dolorosa hegemonia colorada para o lado azul do Rio Grande. Foi um dia mais que agradável. A mínima, ainda no inverno, foi de 14,5ºC. E a máxima alcançou 23,5ºC no Jardim Botânico, em Porto Alegre. Bem diferente do dia do passo gigante de seis anos depois.


Grêmio 2 X 1 Peñarol (URU) em 28 de julho de 1983 – Foto de internet

“Eu disse que acreditassem. Eu pedi que acreditassem. Eu nunca deixei de acreditar que o Grêmio ia ser Campeão da América esta noite em Porto Alegre”. A narração inolvidável de Armindo Ranzolin anunciava que a capital gaúcha não dormiria naquela noite. Foi em 28 de julho de 1983. Grêmio 2 a 1 contra o Peñarol. Dia úmido e frio de inverno com mínima de 13,2ºC e máxima de apenas 17,4ºC.

Mínima menor foi registrada em 2 de setembro de 1989, dia em que o Olímpico foi palco do primeiro campeão da Copa do Brasil, o Grêmio. Porto Alegre tinha amanhecido com 9,4ºC no Jardim Botânico. Mas tinha sol. O Olímpico estava superlotado e a tarde de vitória por 2 a 1 contra o Sport teve máxima de 18,3ºC. Nem de perto a marca de sete anos mais tarde, no abafado 15 de dezembro de 1996. Fazia calor em Porto Alegre, com máxima de 31,2ºC, mas o Velho Casarão parecia estar a 40ºC. Incendiou quando Ailton fulminou com seu tiro a Lusa. Era o bi do Brasileiro.


Grêmio 2 X 2 Portuguesa em 15 de dezembro de 1996 – Reprodução Zero Hora

Hoje, o tempo da histórica tarde de 1996 se repete. Outra tarde com calor. Mas diferente pelo seu enredo. Não está em jogo um título, mas um “Adeus”. Obrigado, Olímpico ! Minha segunda casa pelos últimos 38 anos. Onde dei os meus primeiros passos, onde chorei, onde ri, onde vivi. De piá com 5 anos, acompanhando o vô nos treinos de todas as tardes, a dirigente e conselheiro como adulto, sempre como um apaixonado. Neste fim de semana de profunda tristeza e orgulho, em que as lembranças do passado se fundem às esperanças do futuro, o céu já fez a sua parte. Despejou lágrimas na véspera. Pintou-se de azul para a despedida.

* Alexandre Aguiar é sócio da MetSul Meteorologia, sócio gremista desde 1975, ex-conselheiro do Grêmio (2004-2010), e atuou na diretoria de Planejamento Estratégico e na Grêmio Empreendimentos (Projeto Arena)