Voltou a chover isoladamente forte nesta terça-feira em algumas das cidades castigadas pelo desastre da chuva no fim de semana. Como a MetSul havia antecipado, a chuva foi típica do que ocorre nesta época do ano, chegando entre a tarde e a noite após hora de sol e calor, e com uma grande variabilidade de volumes de um ponto para o outro.

Os dados de pontos de medição do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres indicaram nas últimas 12 horas, até 20h desta terça, volumes que não foram altos na maioria dos locais. Em São Sebastião, por exemplo, a estação que mais registrou chuva anotou 25 mm. Em Bertioga, 9 mm. No Guarujá, 21 mm. Em Ubatuba, 6 mm em alguns locais e 55 mm em outros. Em Ilhabela, 7 mm.

Durante todo o dia foram muitas as advertências de chuva forte por parte das autoridades, por uma chuva normal de verão, ênfase que faltou antes do desastre nos avisos, embora o cenário que se via na semana passada em modelos meteorológicos prenunciasse chuva catastrófica para a região entre sábado e domingo.

Por isso, é fundamental pontuar para uma população já abalada e traumatizada pela chuva, que ainda busca pessoas sob lama em deslizamentos, que o cenário de chuva para a região é totalmente diferente do observado no fim de semana e que levou à tragédia.


O que ocorreu hoje em termos de chuva e se antecipa para os próximos dias no litoral paulista, na cidade de São Paulo e no interior é o que ocorre normalmente nos meses de verão com chuva mais da tarde para a noite e que, isoladamente, pode vir com pancadas fortes a torrenciais acompanhadas de raios, alguma vezes produzindo alagamentos.

Trata-se, portanto, de chuva que os moradores da região estão acostumados a ver e que costuma ocorrer quase todos os dias nos meses quentes do verão em que calor e umidade formam nuvens carregadas que localmente trazem precipitação mais intensa com risco de volumes altos em curto intervalo.

É muito, mas muito diferente do verificado no fim de semana, quando foram várias horas seguidas com chuva extrema e mais ampla na região, o que culminou com os acumulados extraordinários e sem precedentes na história climática brasileira.

O que ocorreu hoje e vai se repetir nos próximos dias é chuva por convecção, ou seja, por ar quente e úmido. Que forma nuvens carregadas durante o dia e despejam água, como se dá na cidade de São Paulo com grande frequência em fim de tarde. Foi o que se viu em vários pontos do estado de São Paulo na tarde de hoje com múltiplas áreas de instabilidade geradas pelo aquecimento diurno.

No fim de semana passado, ao contrário, não era um temporal de verão. Era uma situação muito especial gerada por sistemas meteorológicos de grande escala com frente fria e um centro de baixa pressão na costa, gerando aporte de umidade do oceano para o continente que levou à chuva orográfica (induzida pelo relevo) com acumulados excepcionais.

O mapa abaixo mostra a projeção de chuva acumulada em 72 horas até 9h de sexta-feira a partir dos dados do nosso modelo de alta resolução WRF. Observe que os acumulados em pontos isoladíssimos perto da costa sobre a Serra do Mar são altos, da ordem de 100 mm a 200 mm (manchas pequenas marrons), mas em pontos dentro de um mesmo município a chuva não passa de 20 mm ou 30 mm (em azul).

Esta enorme variabilidade de volumes dentro de uma mesma localidade e chuva forte isolada de caráter passageiro é que pode se esperar normalmente nesta época do ano que é a mais chuvosa entre todas as estações no litoral paulista.

No restante desta semana e também na próxima semana, as condições serão favoráveis para a ocorrência destas chuvas típicas de verão quase todos os dias. Por serem isoladas, pode ocorrer de em um determinado dia cair uma pancada muito forte de meia hora no Guarujá e não chover em São Sebastião ou Ilhabela. Ou chover quase 100 mm em algum trecho de Serra de São Sebastião e não chover mais que 10 mm numa das praias do município.

O grande problema agora é que estas chuvas que serão frequentes, diárias ou quase diárias, na área atingida, se dão numa zona de desastre e sob risco geológico de deslizamentos que é extremo. Mesmo sem chuva ou apenas garoa o risco de deslizamentos ou queda de barreiras seguiria alto pelo fato de o solo estar saturado e extremamente instável.

Portanto, o cenário segue absolutamente crítico para escorregamento de encostas e novos deslizamentos com a chuva que se alternará com horas de sol repetidamente durante os próximos dias. Estas pancadas isoladas fortes típicas de verão, que em setores isolados trazem até alagamentos, acabam apenas por manter o risco de escorregamento de encostas em nível crítico.