A Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, em um comunicado na quinta-feira anunciou o fim do evento de El Niño de 2019. Já era um anúncio esperado pela MetSul Meteorologia, uma vez que desde junho não mais eram observadas condições típicas de El Niño no oceano e na atmosfera na região do Pacífico Equatorial.
As condições, assim, são hoje de neutralidade (sem Niño ou Niña), contudo chama atenção no mapa de anomalia de temperatura da superfície do mar (mapa) uma língua de águas mais frias do que a média no Pacífico Equatorial Leste. É um desenho que tipicamente se observa na presença de La Niña, mas não se pode afirmar a presença do fenômeno porque a parte central da faixa equatorial do oceano, onde se constata se atua El Niño ou La Niña, está com águas mais quentes do que o normal ainda.
Modelos climáticos indicam que para os próximos três meses a tendência é a manutenção destas condições de neutralidade no Pacífico com águas mais frias no Leste. Não apresentam, entretanto, um consenso quanto ao fim do ano e o verão de 2020. A maioria indica neutralidade e alguns chegam a projetar La Niña. É o caso do modelo climático da agência espacial americana NASA que sinaliza Pacífico Central e Leste em níveis de La Niña no próximo verão.
O evento de El Niño de 2019 foi tardio, fraco e com curta duração. E se apresentou na forma Modoki com o aquecimento concentrado no Pacífico Central. Por isso, ao contrário do Super El Niño de 2015/2016 que não só foi intenso como veio na forma clássica, não tivemos grandes enchentes.
O que chama atenção desde junho é o predomínio de temperatura abaixo da média no Pacífico Leste, a região que tecnicamente é denominada de Niño 1+2. É uma área menor perto da costa da América do Sul, cuja anomalia de temperatura da superfície do mar na última semana foi de -0,5°C.
Essa região Niño 1+2 é conhecida por ter um impacto no regime de chuva e na temperatura aqui no Sul do Brasil. Quando está mais fria do que o normal, como agora, tende a trazer chuva mais irregular. Há áreas do Sul do Brasil, por exemplo, em estiagem em pleno inverno. Caso de Santa Catarina. Favorece ainda episódios pontuais de frio muito intenso e estamos a caminho da terceira incursão de ar muito gelado deste inverno.
Preocupam os indicativos de manutenção do Pacífico Leste com águas mais frias do que a média. Se por um lado, independente de El Niño ou La Niña, a primavera costuma ter chuva e não raro volumosa (há precedentes de enchente na primavera com Pacífico frio), por outro se esse resfriamento do Pacífico Leste se mantiver no verão, como indicam alguns modelos, agravar-se-ia o risco de estiagem ou chuva irregular no primeiro trimestre de 2020.
Outra consequência do resfriamento do Pacífico Leste é o risco aumentado de eventos de geada tardia agora na primavera. Ademais, apesar de não trazer aumento do número de tempestades, pelo maior contraste térmico de pulsos de ar frio encontrando ar quente, agrava-se o risco de tempestades muito fortes neste segundo semestre, em especial na primavera. Há dados indicando que sob Pacífico Leste mais frio há um aumento no número de ocorrências de danos em lavouras por granizo.