O mês de janeiro marcou um agravamento ainda maior da estiagem no Rio Grande do Sul com um salto no número de municípios em situação de emergência para 218. As perdas no setor primário se acentuaram com quebra significativa na cultura de milho e perda de produtividade na soja. Os níveis de diversos rios baixaram e alguns municípios passaram a racionar água.

O calor contribuiu para agravar a estiagem com muitos dias de temperatura elevada e marcas significativamente acima da média no Oeste do Rio Grande do Sul. Na rede oficial do Instituto Nacional de Meteorologia foram cinco dias com mais de 40ºC: 1º/1 com 40,9ºC em Quaraí; 17/1 com 40,4ºC em Quaraí, 20/1 com 40,5ºC em Quaraí e 40,1ºC em Uruguaiana; 24/1 com 40,7ºC em Uruguaiana e 40,3ºC em Quaraí; 25/1 com 40,5ºC em Quaraí. Houve dias em que estações particulares anotaram mais de 40ºC, embora não tenha havido registro nas oficiais.

Em Santa Catarina e no Paraná, ao contrário, o mês de janeiro terminou com chuva frequente e mais abundante, o que faz com que os dois estados não sofram os efeitos da estiagem que assola área do Rio Grande do Sul para o Oeste e o Sul, em direção à Argentina e o Uruguai.


No Centro-Oeste e no Sudeste, as chuvas foram abundantes na maioria das áreas, mas ainda assim abaixo da média em muitos pontos do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Como a climatologia de janeiro tem altos volumes de precipitação nestas áreas, mesmo chuva abaixo da média acaba significando volumes expressivos. Grande parte de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro tiveram chuva acima da média.

Já fevereiro é o mês mais quente ou segundo mais quente do ano na maioria das áreas do Centro-Sul do Brasil pelas normais da climatologia histórica. O último mês do verão climático (trimestre dezembro a fevereiro) marca, assim, o auge da estação com muitos dias quentes e chuva principalmente de natureza convectiva, ou seja, associada ao quente e úmido.

No Sul do Brasil, historicamente, o mês não costuma ser muito chuvoso na maioria das áreas. A exceção é para o Leste de Santa Catarina, do Paraná e às vezes o extremo Nordeste gaúcho por conta da atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, um canal de umidade que se origina na Amazônia, passa pelo Centro-Oeste e chega ao Sudeste. Às vezes, a inclinação da ZCAS traz chuva abundante para áreas mais ao Leste do Sul do Brasil, exceto o Litoral Sul gaúcho.


Porto Alegre tem em fevereiro algumas das suas maiores médias de temperatura do ano. De acordo com as normais 1991-2020 da estação do Jardim Botânico, a temperatura mínima média é de 20,7ºC, idêntica ao mês de janeiro e superior a de dezembro de 19,4ºC ou março de 19,5ºC. Já a média máxima histórica do mês na capital gaúcha é de 30,5ºC, a segunda mais alta entre os meses do ano, atrás dos 31,0ºC de janeiro.

Na cidade de São Paulo, na estação do Mirante de Santana, a média mínima histórica para o Mirante de Santana é de 19,6ºC, a mais alta do ano. Por sua vez, a média máxima mensal de 29,0ºC é a mais alta da climatologia anual da capital paulista, sendo superior a de janeiro de 28,6ºC.

A chuva média histórica de janeiro em Porto Alegre é de 110,8 mm. Trata-se da terceira menor entre os meses do ano. Já em Florianópolis, a média mensal de precipitação de fevereiro é de 198,3 mm, a segunda mais alta entre os meses do ano e apenas atrás de janeiro. Em Curitiba, média mensal de chuva no mês de 188,7 mm, segundo maior valor da climatologia anual e só superado por janeiro.

Na cidade de São Paulo, a média de precipitação histórica de fevereiro é de 257,7 mm, a segunda mais alta da climatologia anual e somente atrás dos 292,1 mm de janeiro. É o auge da estação chuvosa em muitas cidades do Sudeste do Brasil que têm em janeiro e fevereiro os seus meses mais chuvoso do ano pela influência da instabilidade tropical com ar quente e úmido que traz os temporais, além do impacto dos episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul.


Fevereiro começa com La Niña

O verão teve início ainda sob influência do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial e que tanto impacto trouxe no clima nos últimos meses. É o terceiro verão seguido que começa com La Niña, mas que já atingiu seu pico de intensidade em outubro.

De acordo com o último boletim semanal da NOAA do ano das condições do Pacífico, a região chamada de Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, registrava uma anomalia de temperatura da superfície do mar de -0,6ºC, portanto na faixa intermediária da intensidade fraca. Já a área conhecida como Niño 1+2, perto das costas do Peru e do Equador, que aqueceu muito durante dezembro, a anomalia no final do ano era de apenas -0,2ºC, em quase neutralidade absoluta.

O fenômeno La Niña, assim, prossegue neste começo de fevereiro e ainda influencia o clima no mês. O evento de La Niña, entretanto, está em processo de enfraquecimento e a tendência é que chegue ao fim entre o fim do verão e o começo do outono, quando o Pacífico deve passar para neutralidade.

Chuva em fevereiro

Fevereiro, como mês do auge do verão, tem a comum irregularidade da chuva com significativa variabilidade nos totais de chuva de uma área para outra. Em um mês, ponto de um município pode ter muita chuva e outros baixos volumes de precipitação. Os volumes são determinados demais por pancadas que são isoladas.

Neste fevereiro, assim como nos últimos três anos, o mês começa com chuva mais irregular do que o normal com valores abaixo das médias históricas e déficit de precipitação em muitas áreas do Rio Grande do Sul que vê a estiagem piorar com a maior parte da umidade concentrada sobre o Brasil e ar mais seco do Rio Grande do Sul para o Sul no continente.

A MetSul Meteorologia projeta para fevereiro um mês mais chuvoso que janeiro na maioria das cidades do Rio Grande do Sul, mas é difícil pontuar um padrão de chuva abaixo, ao redor ou acima da média para todo o estado gaúcho. A chuva será “manchada” (mal distribuída), mas com volumes mais altos que nos últimos dois meses na maioria dos municípios, em momento crítico para a cultura de soja.

Isso porque a nossa previsão é que a chuva varie enormemente em volumes no mês, o que fará com que a precipitação em fevereiro acabe acima da média e abaixo da climatologia em municípios dentro de uma mesma região geográfica do território gaúcho. No dia 28 de janeiro, bairros mais ao Norte de Porto Alegre tiveram apenas 8 mm enquanto pontos mais ao Sul da cidade anotaram até 84 mm.

Deve persistir o padrão de janeiro em que os estados de Santa Catarina e do Paraná registram chuva mais frequente e volumosa que o Rio Grande do Sul. Por isso, cidades mais ao Norte gaúcho tendem a registrar pancadas mais frequentes.

O modelo climático norte-americano CFS indica chuva acima da média em Santa Catarina e no Paraná para fevereiro ao passo que para o Rio Grande do Sul sinaliza chuva abaixo da média na maior parte do território gaúcho.

Por sua vez, o modelo climático europeu aponta um padrão mais seco no Sul do Brasil quando comparado a janeiro. Os mapas a seguir mostram as anomalias semanais de precipitação entre os dias 6 e 26 de fevereiro.

A previsão da MetSul está em terreno intermediário entre os modelos de clima norte-americano e europeu, mas divergindo das simulações dos centros em relação ao Rio Grande do Sul. Assim, nosso entendimento é que o território gaúcho, embora tenha enorme ainda irregularidade enorme, deva ter chuva acima da média em pontos do estado e um mês mais chuvoso no geral que janeiro enquanto nos estados catarinense e paranaense não esperamos chuva acima da média generalizada.

No Rio Grande do Sul, do ponto de vista da climatologia histórica, as regiões Norte, Leste e Nordeste do estado têm uma maior propensão a episódios de chuva volumosa, sobretudo o Litoral Norte que sofre maior influência das correntes de umidade que atuam nesta época do ano no Sudeste do Brasil e nos litorais de Santa Catarina e do Paraná. No Sul, eventos de chuva volumosa podem ocorrer, pela climatologia histórica, com áreas de baixa pressão.

Chuva perto ou acima da média em fevereiro é esperada em parte do Centro-Oeste e da Região Sudeste do Brasil. Algumas áreas devem ter excessos de precipitação com elevado risco de inundações e deslizamentos. As áreas de maior risco no Sudeste são Minas Gerais e o interior do estado de São Paulo, mas temporais isolados podem gerar problemas por excesso de chuva em curto período no Rio e no Espírito Santo.

Mesmo que algumas áreas do Centro-Oeste e do Sudeste terminem o mês com chuva abaixo da média, isso não significa que faltará chuva. Como as médias de chuva são muito altas nas duas regiões, se o mês terminar, por exemplo, com precipitação 50 mm abaixo da normal histórica ainda assim terá chovido 200 mm ou 250 mm.

Volumes muito altos e até extremos certamente vão ocorrer no Centro-Sul do Brasil em curtos intervalos de maneira muito isolada acompanhando temporais localizados que ocorrem precipuamente da tarde para a noite, sobretudo em dias de calor mais intenso. Estes temporais podem vir com granizo, vendaval e em casos mais extremos até tornados e correntes descendentes violentas de vento (downobursts ou micro-explosões).

Como fica a temperatura

Os modelos de clima apresentam tendências radicalmente distintas de temperatura para o mês de fevereiro no Centro-Sul do Brasil. O climático de referência da NOAA, por exemplo, aponta temperatura perto ou abaixo da média no Sul do país e acima da média no Brasil Central.

Já o modelo europeu apresenta sinal inverno com temperatura mais acima da média no Sul do país e abaixo no Brasil Central, como se enxerga nas projeções semanais de 6 a 26 de fevereiro.

A previsão da MetSul é de um mês com temperatura acima da média em grande parte do Sul e do Sudeste do Brasil. No Sudeste, fevereiro deve ser mais quente que janeiro e com dias muito abafados. No Sul, fevereiro deve seguir com temperatura acima da média em muitas localidades.

O Oeste gaúcho deverá seguir como a região mais castigada pelo calor no território gaúcho com muitos dias de temperatura acima da média e valores ao redor de 40ºC de máximas em algumas tardes, o que contribui para agravar a estiagem e aumentar o risco de fogo.