NOAA

O verão de 2023 começa nesta quarta-feira às 18h48 com o solstício de verão no Hemisfério Sul e de inverno no Hemisfério Norte. Na climatologia, o verão do Sul e o inverno do Norte, considerado pelo trimestre de dezembro a fevereiro, portanto pela convenção da ciência climatológica já se vive o verão há 20 dias, mas pelo critério astronômico o verão se inicia hoje na parte Sul do planeta.

“As estações do ano ocorrem devido à inclinação do eixo da Terra em relação ao seu plano de órbita e também devido à sua translação em torno do Sol. O início das estações do ano é associado aos instantes dos solstícios (inverno e verão) e dos equinócios (outono e primavera)”, explica a Dra. Josina Nascimento, do Observatório Nacional

O termo “solstício” vem do latim e significa “sol parado”. O termo teve origem a partir da observação da trajetória do Sol no céu por astrônomos antigos. Eles notaram que o local em que o sol se encontrava no céu ao meio-dia mudava a cada dia. Esta localização ia ficando cada vez mais alta no céu até que alcançava um ponto máximo e “parava”. Depois, ia ficando cada vez mais baixa e também “parava” para, então, tornar a subir. Essas “paradas” correspondem, respectivamente, aos solstícios de verão e de inverno.

“Uma outra forma de observar o ‘sol parado’ é contemplar os locais onde o sol nasce e se põe a cada dia. Nos equinócios, o sol nasce no ponto cardeal Leste e se põe no ponto cardeal Oeste. Após as datas dos equinócios, o sol nasce cada dia mais afastado do ponto cardeal Leste e, nos dias dos solstícios, atinge o máximo afastamento a Nordeste (no solstício de inverno no Hemisfério Sul) e a Sudeste (no solstício de verão no Hemisfério Sul)”, diz Josina.

O mesmo acontece nos locais onde o sol se põe. Após as datas dos equinócios, o pôr do sol ocorre cada dia mais afastado do ponto cardeal Oeste. Já nos dias dos solstícios atinge o máximo afastamento a Noroeste (no solstício de inverno no Hemisfério Sul) e, inversamente, o máximo afastamento a Sudoeste (no solstício de verão no Hemisfério Sul).

DEPARTAMENTO DE ASTRONOMIA DA UFRGS

Mas não saia para ver o sol e entender esta mudança. Em hipótese alguma se deve observar o sol diretamente, sob pena de causar lesões na retina. Para observar o Sol, é preciso o uso de filtros apropriados ou fazer-se observação indireta.

Outra característica com as mudanças das estações é a variação dos comprimentos dos dias e das noites. Nos equinócios, o comprimento do dia é praticamente igual ao comprimento da noite. Após o equinócio de outono, o sol vai nascendo cada dia mais tarde e se pondo cada dia mais cedo até chegar na maior noite do ano em data próxima do solstício de inverno.

“A partir de então, o sol começa a nascer mais cedo e a se pôr mais tarde para novamente chegar ao mesmo comprimento do dia e da noite em data próxima ao equinócio de primavera. Os dias continuam sendo cada vez maiores até a menor noite do ano que ocorre em data próxima ao solstício de verão. Esse efeito é tão maior quanto mais afastado do equador terrestre o observador se encontra”, explica Josina.

FERNANDO LANG DA SILVEIRA/UFRGS

A astrônoma esclarece, ainda, que nem sempre o início do inverno ocorre no dia 21 de junho, podendo começar também no dia 20. Essa mudança ocorre porque o nosso ano civil de 365 dias não é igual ao ano trópico, que é o intervalo de tempo médio de translação da Terra contado a partir de um equinócio de março até o próximo equinócio de março.

O ano trópico, no qual o nosso calendário gregoriano é baseado, tem o comprimento de 365 dias, 48 minutos e 46 segundos. Como o acerto entre o ano civil e o ano trópico é feito através do ano bissexto, o horário do início das estações é defasado de cerca de 6 horas de um ano para outro, até que no ano bissexto isso é corrigido.

Uma outra curiosidade. Embora a quantidade de radiação solar atingindo o pico da Terra no solstício de verão em 21 de dezembro no Hemisfério Sul, as temperaturas em muitas áreas tendem a continuar aumentando em janeiro.

O aumento da temperatura ocorre porque a taxa de entrada de calor do sol durante o dia continua a ser maior do que o resfriamento noturno por várias semanas. Só a partir de março é que as temperaturas começam a descer e ainda lentamente. Por isso, em muitos locais, como o Rio Grande do Sul, as médias de temperatura de janeiro e fevereiro são mais altas que as de dezembro e março.