As temperaturas globais provavelmente atingirão níveis recordes nos próximos cinco anos, alimentadas por gases de efeito estufa que retêm o calor e um evento de El Niño, de acordo com uma nova atualização divulgada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que anualmente divulga uma tendência climática para cinco anos em parceria com o Met Office da Inglaterra.

Projeção climática para cinco anos do Met Office para o Brasil indica tendência de redução da chuva na Amazônia e aumento da instabilidade no Sul e áreas perto da costa no Sudeste | YASUYOSHI CHIBA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

De acordo com a atualização, há probabilidade de 66% de que a temperatura global média anual entre 2023 e 2027 supere em 1,5°C os níveis pré-industriais em pelo menos um ano. Há 98% de probabilidade de que pelo menos um dos próximos cinco anos, e o período de cinco anos como um todo, seja o mais quente já registrado.

“Este relatório não significa que excederemos permanentemente o nível de 1,5°C especificado no Acordo de Paris, que se refere ao aquecimento de longo prazo ao longo de muitos anos. No entanto, a OMM está soando o alarme de que iremos ultrapassar temporariamente o nível de 1,5°C com frequência cada vez maior”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas.

“Espera-se que o aquecimento do El Niño se desenvolva nos próximos meses e isso se combinará com a mudança climática induzida pelo homem para empurrar as temperaturas globais para um território desconhecido”, disse ele. “Isso terá repercussões de longo alcance para a saúde, segurança alimentar, gestão da água e meio ambiente. Precisamos estar preparados”, disse o Prof. Taalas.

Há apenas 32% de chance de que a média de cinco anos exceda o limite de 1,5°C, de acordo com a Atualização Global Anual a Decadal do Clima produzida pelo Met Office do Reino Unido, o principal centro da OMM para tais previsões.

A chance de ultrapassar temporariamente 1,5°C aumentou constantemente desde 2015, quando estava próxima de zero. Para os anos entre 2017 e 2021, houve 10% de chance de superação da marca do acordo. “Prevê-se que as temperaturas médias globais continuem aumentando, nos afastando cada vez mais do clima a que estamos acostumados”, disse Leon Hermanson, cientista especialista do Met Office que liderou o relatório.

A temperatura média global em 2022 foi cerca de 1,15°C acima da média de 1850-1900. A influência de resfriamento das condições de La Niña durante grande parte dos últimos três anos atenuou temporariamente a tendência de aquecimento de longo prazo. A La Niña, porém, terminou em fevereiro e um El Niño deve atuar nos próximos meses. Normalmente, o El Niño aumenta as temperaturas globais.

A temperatura média anual global perto da superfície para cada ano entre 2023 e 2027 está prevista entre 1,1°C e 1,8°C acima da média de 1850-1900. Isso é usado como linha de base porque era antes da emissão de gases de efeito estufa das atividades humanas e industriais. Há 98% de chance de pelo menos um nos próximos cinco anos bater o recorde de temperatura registrado em 2016, quando houve um El Niño excepcionalmente forte. A chance de a média de cinco anos para 2023-2027 ser maior do que nos últimos cinco anos também é de 98%.

O aquecimento do Ártico é desproporcionalmente alto. Em comparação com a média de 1991-2020, prevê-se que a anomalia de temperatura seja mais de três vezes maior que a anomalia média global quando calculada a média dos próximos cinco invernos prolongados do Hemisfério Norte.

Os padrões de precipitação previstos para a média de maio a setembro de 2023-2027, em comparação com a média de 1991-2020, sugerem aumento das chuvas no Sahel, Norte da Europa, Alasca e norte da Sibéria, e chuvas reduzidas para esta temporada de cinco anos na Amazônia e partes da Austrália.

Além de aumentar as temperaturas globais, os gases de efeito estufa induzidos pelo homem estão levando a mais aquecimento e acidificação dos oceanos, derretimento do gelo marinho e das geleiras, aumento do nível do mar e condições climáticas mais extremas.

O que a previsão mostra para o Brasil

A projeção de chuva divulgada hoje pelo Met Office para o período 2023 a 2027 indica aumento da chuva no Sul do Brasil e redução das precipitações no Norte e no Nordeste, o que é se de esperar com um El Niño que pode ser forte projetado para atuar entre 2023 e 2024. A redução das precipitações é especialmente maior na região amazônica enquanto para o Sul deve se esperar um aumento dos eventos extremos de chuva. No Sudeste, a tendência geral é de redução da chuva, excecação de áreas mais perto da costa em especial de São Paulo.

Projeção do Met Office de anomalia de chuva para o período novembro a março entre 2023 e 2027 (E) e para o período maio a setembro entre 2023 e 2027 (D) | OMM

Projeção do Met Office de anomalia de temperatura para o período novembro a março entre 2023 e 2027 (E) e para o período maio a setembro entre 2023 e 2027 (D) | OMM

Quanto à temperatura, a projeção do Met Office e da OMM indica aquecimento nos próximos cinco anos em todas as regiões do Brasil, mas com tendência de ser maior no Centro-Oeste, no Sudeste, Nordeste, e principalmente no Norte do país, onde se espera uma maior redução das precipitações que ajudam a regula a temperatura na região. Mais ao extremo Sul do Brasil o aquecimento seria menor.

O Acordo de Paris

O Acordo de Paris estabelece metas de longo prazo para orientar todas as nações a reduzir substancialmente as emissões globais de gases de efeito estufa para limitar o aumento da temperatura global neste século a 2°C, ao mesmo tempo em que busca limitar o aumento ainda mais a 1,5 °C, para evitar ou reduzir impactos adversos e perdas e danos relacionados.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas diz que os riscos relacionados ao clima para os sistemas naturais e humanos são maiores para o aquecimento global de 1,5 °C do que no presente, mas menores do que 2°C.