A primavera que tem início hoje não deve fugir muito das características históricas da estação. Com o Pacífico em estado de neutralidade, e até com viés mais frio no começo da estação, grandes extremos como do período 2015/2016 sob El Niño intenso não são esperados.

Projeta-se chuva irregular no Estado com grande variabilidade regional nos índices de precipitação, sem um padrão definido em escala estadual, com acumulados nesta primavera abaixo e acima da média conforme a região. Já a temperatura tende a não se distanciar muito da média com ocorrências de frio tardio e períodos de calor mais intenso em novembro e dezembro, inclusive com dias extremamente quentes.

Existe um fato nesta primavera, que quase nenhuma atenção tem merecido aqui no Brasil e que em outros países do Hemisfério Sul como Austrália e Nova Zelândia, tem recebido grande destaque.

O chamado Súbito Aquecimento Estratosférico. A temperatura na estratosfera subiu uma enormidade desde o fim de agosto no Polo Sul. A cerca de 30 mil metros de altitude subiu neste mês de 85ºC negativos para 0ºC.

Isso somente tinha sido observado antes pela ciência no Hemisfério Sul em 2002. E, justamente por ser algo quase inédito, são escassos os referenciais históricos de como pode atingir o nosso clima nos próximos meses.

Há um único trabalho publicado na literatura científica sobre o episódio de 2002. Esse fenômeno de Súbito Aquecimento Estratosférico, comum no Ártico e raríssimo na Antártida e capaz de alterar as correntes de jato (vento) e interferir por meses no clima do hemisfério, trouxe em 2002 chuva acima da média no período de outubro a janeiro no Sul do Brasil e temperatura muito abaixo da média na Argentina com alguns eventos de frio tardio aqui no Estado.

Só que o clima é caótico e muitas variáveis interagem ao mesmo tempo influenciando chuva e temperatura aqui no Rio Grande do Sul. Seja no Índico, Atlântico, Pacífico, na faixa equatorial e no polo Sul. Esse episódio de Súbito Aquecimento Estratosférico é um que se soma neste ano e que fez a previsão para esta primavera ser muito mais complexa e difícil.