NASA/Divulgação

Algo estranho está ocorrendo no Polo Sul do planeta. Nuvens que brilham no céu em grandes altitudes e que costumam aparecer nesta época do ano ainda não foram observadas. Nenhum dos nossos meteorologistas jamais viu estas nuvens e é provável que tampouco você, afinal é um tipo de nebulosidade que costuma aparecer apenas em latitudes muito altas.

Que nuvens são estas? São as nuvens noctilucentes (NLCs). Normalmente, nesta época do ano, as primeiras aparições de azul luminoso surgem na mesosfera acima da Antártida. Dados do experimento AIM da agência espacial norte-americana NASA, entretanto, mostram que a região em que aparecem as noctilucentes até o momento não está ativa.

As NLCs são as nuvens mais altas da Terra. Semeadas por meteoróides (poeira vinda do espaço), eles flutuam no limite do espaço a cerca de 83 quilômetros acima da superfície. As nuvens se formam quando vapor d’água no verão alcança até a mesosfera, permitindo que a água se cristalize em torno de partículas de poeira de meteoros.

A temporada no Hemisfério Sul para NLCs normalmente se estende de novembro a fevereiro. Onde, então, elas estão se já deveriam ter aparecido? Para encontrar a resposta, Lynn Harvey, do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da Universidade do Colorado (LASP), analisou os dados do Microwave Limb Sounder, da NASA.

De acordo com a pesquisadora, há uma “onda de calor” na mesosfera e isso está determinando a ausência das nuvens. “A temperatura em 2021 é mais alta do que nos outros anos”, disse Harvey.

Nuvens noctilucentes requerem frio extremo. As moléculas de água não vão aderir às partículas cósmicas sem que a temperatura esteja muito baixa. Assim, uma onda de calor para os padrões locais e não como conhecemos, mesmo que breve, já suficiente para que atrase o início da temporada das nuvens noctilucentes.

Cora Randall, da Universidade do Colorado, arrisca que em breve elas vão aparecer. “Se eu tivesse que colocar uma data, eu diria que a temporada começará neste início de dezembro, mas com uma grande incerteza. Uma declaração mais conservadora seria ficar atento”, afirmou.

No ano passado, a missão AIM da NASA avistou as primeiras nuvens noctilucentes, ou brilhantes, do verão em 8 de dezembro de 2020. Nos dias que se seguiram, os finos fios de nuvem lentamente se transformaram em pequenas nuvens no alto da Antártida.

As nuvens azuis e brancas brilhantes que flutuam cerca de 80 quilômetros na chamada mesosfera durante o verão antártico tem todos os três ingredientes para a sua formação: temperaturas extremamente frias, vapor de água e poeira de meteoro.

No verão, a mesosfera é mais úmida, pois o ar relativamente úmido que circula da baixa atmosfera traz vapor de água adicional. A poeira do meteoro vem de meteoros, que se transformam em poeira quando caem e queimam na atmosfera. Nuvens noctilucentes se formam quando as moléculas de água se aglutinam em torno da poeira fina e congelam.