A MetSul acompanha vem acompanhando com enorme atenção há alguns dias projeções de modelos computadorizados pra próxima semana e que indicam a formação junto à costa do Sul do Brasil de mais um centro de baixa pressão com características atípicas na climatologia regional. A maioria das simulações computadorizadas mantém o ciclone longe da orla, a cerca de 200 a 400 quilômetros da faixa costeira, dependendo do modelo. Em uma saída, o modelo Europeu chegou a projetar o centro do ciclone muito próximo da costa catarinense, mas recuou do indicativo. O Cosmos, modelo rodado no Brasil pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é que tem projetado o centro de circulação do ciclone mais perto do litoral a ponto de em várias saídas nas últimas 48 horas ter indicado que alcançaria terra na altura da área de Florianópolis.


O que pode se dizer e não se pode dizer? Com segurança, pode se afirmar que é média a alta a probabilidade de formação do sistema, afinal há consenso entre os modelos quanto a sua formação. Há razoável consenso ainda entre os modelos sobre a intensidade deste centro de baixa pressão que não seria profundo e, conforme a maioria das simulações de ontem e hoje, manteria sua pressão mínima central acima de 1000 hPa. O que não se pode dizer ainda com precisão e segurança é a trajetória exata do sistema. Modelos, em geral, têm indicado um lento e errático deslocamento sobre o oceano na costa do Sul do Brasil, aliás uma característica muito mais de sistemas subtropicais (caso do ciclone subtropical sem nome de janeiro de 2009 no Sul do Rio Grande do Sul) que tropicais. A julgar pelos dados disponíveis hoje, o sistema se manteria com sua trajetória em alto mar, mas com a ressalva do chamado “cone de incerteza” em que a área de alerta é mais ampla. O cenário está longe, assim, de consolidado. O que se enfatiza é crucial necessidade de acompanhamento durante os próximos dias.


Caso venha mesmo a se formar, os indicativos são de que, inicialmente, se trataria de depressão atmosférica de natureza tropical (com o centro quente) no litoral paulista, até porque totalmente embebida em ar quente, mas que evoluiria para subtropical (centro quente em superfície e frio em altura) à medida que se desloca para o Sul e se intensifica com o gradiente de massas de ar mais quente ao Norte e mais fria ao Sul. Bapo, em fevereiro, teve breve característica subtropical, sendo extratropical na maior parte. Mapas de temperatura em 850 hPa do GFS abaixo pra semana que vem evidenciam o cenário.


O NOAA (Estados Unidos) em sua análise diária para a América do Sul de fez mera citação da possibilidade de formação de um ciclone subtropical na próxima semana na costa do Sul do Brasil. Já para o Met Office (Inglaterra) existe a chance de formação de uma tempestade tropical, porém é importante ressalvar que enquanto a previsão dos americanos é baseada numa análise, a tendência apontada pelo centro meteorológico inglês é mero “numerical guidance” ou indicativo de modelo.

Quanto aos impactos, o risco maior é chuva. Com base nas várias simulações numéricas analisadas, é possível se antecipar o risco de chuva forte no Sul e no Leste de São Paulo neste começo de semana e que depois entre segunda e quarta-feira se estenderia ainda ao Leste de Santa Catarina e do Paraná. Os acumulados podem ser significativos e com altos volumes em curtos intervalos, acima de 100 mm localmente, o que pode gerar problemas como alagamentos e ocasionais deslizamentos de terra. Deve ser considerado o risco de chuva forte a intensa ainda com altos volumes localizados semana que vem no Nordeste do Rio Grande do Sul, particularmente no Litoral Norte, e, sobretudo, na área de Osório a Torres. Aliás, o Sul de Santa Catarina e parte do Litoral Norte gaúcho são as áreas que as simulações, em geral, apontam com maior risco de chuva excessiva. Os volumes variam muito de um modelo para o outro, mas o efeito da orografia (relevo) pode trazer marcas de precipitação muito altas e acima do indicado pela maioria dos modelos. Interessante é observar que mesmo em áreas da Serra Gaúcha e da Grande Porto Alegre não é possível descartar a ocorrência de chuva localmente forte na metade da semana pela interação do ar quente com a circulação de umidade da baixa que favorecerá a formação de nuvens de natureza cumuliforme (aquelas grandes em formato de algodão) e que em alguns pontos podem ser bastante carregadas com granizo localizado e chuva forte. No tocante ao vento se espera intensificação do vento na primeira metade da semana entre a costa Norte do Rio Grande do Sul e o litoral do Paraná, com intensidade moderada e algumas rajadas, mas não há indicativo pelos dados de vento muito intenso. Há, ademais, risco de ressaca e de agitação marítima, em particular no litoral catarinense.


Se o serviço de Meteorologia da Marinha do Brasil (DHN) vier a designar este sistema como subtropical ou mesmo tropical, e como uma tempestade, na próxima semana ele receberá nome. Será designado como Cari, nome em tupi-guarani para “homem branco”. Seria a segunda designação apenas neste ano, já que em fevereiro último formou-se o ciclone subtropical Bapo (imagem de satélite da NASA acima). Antes de Bapo, a última tempestade oceânica a ser designada tinha sido em 2011 com o ciclone Arani. Nitidamente, vive-se um período mais ativo que o normal para ciclogênese na costa aqui do Sul do país.