A MetSul Meteorologia adverte que um ciclone de características atípicas para a climatologia regional deve atuar na costa do Sul do Brasil ao longo desta semana, trazendo riscos tanto na zona marítima como no continente. Uma vez formado, este ciclone será batizado como Cari (“homem branco” na língua tupi-guarani), o próximo nome constante da lista oficial da Meteorologia da Marinha do Brasil para a designação de ciclones anômalos após a tempestade subtropical Bapo de fevereiro. Este ciclone tende a ser maior e mais intenso que Bapo, oferecendo maiores riscos à área continental. Deve ser o quarto sistema atípico a ser nominado junto à costa brasileira desde 2010 e o segundo somente neste ano, o que é muito incomum.  


A esmagadora maioria das simulações computadorizadas segue projetando que o centro do ciclone se manterá sobre o oceano, em média entre cerca de 200 e 400 quilômetros da faixa costeira, conforme o modelo analisado. O sistema deve surgir entre os litorais de São Paulo e do Paraná, depois progredindo para Sul à medida que se intensifica. Algumas simulações computadorizadas que são rodadas no Brasil, casos dos modelos regionais Cosmos e ETA, entretanto, chegam a aproximar muito o centro do ciclone das costas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina ao longo desta semana, o que reforça a já enfatizada necessidade de muita atenção deste fenômeno. Já o seu deslocamento será ainda muito lento e errático. Foi o que seu viu no evento de janeiro de 2009 no Nordeste do Uruguai e no Sul do Rio Grande do Sul, episódio de ciclone subtropical sem nome que trouxe chuva extrema com danos e ao menos 8 mortes no Sul do Estado. Caso o sistema seja tropical, o lento deslocamento sobre as águas mais quentes abrirá margem para intensificação, o que seria o pior cenário.  


Há razoável consenso também entre os modelos analisados quanto à pressão mínima central deste centro de baixa pressão e que, conforme a maioria deles, ficaria entre 1000 hPa e 1005 hPa. Chama atenção, contudo, o indicativo que se observou em algumas das saídas do pacote de modelagem numérica de um ciclone concêntrico, assim simétrico. Neste caso, por experiência, sabe-se que a pressão mínima central do sistema é inferior ao que está sendo projetada, sinalizando um ciclone mais intenso. Foi o que se viu durante o episódio de 2004, quando se desenhava um sistema simétrico e os modelos indicavam valores de pressão no centro acima de 990 hPa, quando esta era de 970 hPa. Os dados estão a apontar ainda tendência de convecção moderada/profunda ao redor do centro da baixa, e que pode acusar maior intensificação do sistema.  


Os indicativos são de um sistema subtropical, mas ressalva-se a possibilidade de que em parte da vida deste ciclone ele apresenta características puramente tropicais. Modelagem numérica do Met Office projeta que o ciclone na costa do Sul do Brasil seria tempestade tropical (estágio anterior a de furacão em um ciclone tropical com vento sustentado entre 63 km/h e 118 km/h). De acordo com a projeção do modelo do Met Office da Inglaterra, a tempestade seria fraca no final da terça-feira (10) na costa, na altura de Laguna, porém passaria a ter intensidade moderada na manhã de quarta (11), também sobre o oceano, mas já na altura de Arroio do Sal. Na manhã de quinta, seguiria moderada, também em alto-mar, mais ao Sul, na altura de Rio Grande, mas deve começar a perder força por conta das águas mais frias na região da Correntes das Malvinas.

A MetSul Meteorologia mantém o indicativo dos riscos provocados por chuva associados a este sistema. A influência da depressão atmosférica trará risco de chuva forte a intensa em São Paulo e no Leste de Santa Catarina e do Paraná agora neste começo de semana. O aumento da umidade já favorece pancadas de chuva no Nordeste gaúcho nesta segunda-feira, não se descartando instabilidade também na área de Porto Alegre. Entre terça e quarta, pode chover forte a intensamente em pontos do Sul de Santa Catarina e do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Os acumulados podem ser significativos e com altos volumes em curtos intervalos, o que pode gerar problemas como alagamentos e ocasionais deslizamentos de terra. A região de Porto Alegre pode ter registro de períodos de chuva que não se descarta possa ser de forte intensidade de terça a quinta pelo abundante aporte de umidade da circulação do sistema. Espera-se a formação de nuvens de natureza cumuliforme no Nordeste gaúcho (Serra, Grande Porto Alegre e Litoral Norte) e no Leste do Estado ao longo da semana. Algumas destas nuvens devem ser bastante carregadas (TCu e Cb)  com risco de granizo e chuva forte a intensa que pode gerar alagamentos.


Se espera ambiente de atmosfera aquecida e com excessiva umidade, o que cria cenário ideal para precipitações localmente torrenciais e volumosas. Modelos indicam 100 mm a 150 mm nesta semana para o Nordeste gaúcho, sobretudo o Litoral Norte, e o Sul de Santa Catarina, mas enfatizamos que nestas regiões, em particular, não são descartados acumulados até bem superiores por efeito da orografia (relevo). Municípios situados juntos à encosta da Serra merecem especial atenção. Ciclones subtropicais ou tropicais possuem histórico de trazer volumes excepcionais localizados com inundação repentina e rápida subida de rios, por isso o quadro exige muita atenção. Recomenda-se enorme atenção ao se dirigir na BR-101 e na Estrada do Mar no período porque podem ocorrer alagamentos e até queda de barreiras não se pode afastar na área da 101.


Haverá uma intensificação do vento entre terça e quarta no Litoral Norte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, sobretudo de Florianópolis para o Sul (mapa acima). Entre a quarta-feira e quinta, o vento poderia soprar moderado com rajadas fortes no Nordeste do Rio Grande do Sul e na faixa Leste gaúcha de Rio Grande a Torres. O vento, conforme a maioria dos dados, seria mais forte no Litoral Norte gaúcho e na costa catarinense com velocidades possíveis de 70 km/h a 90 km/h, mas que advertimos podem ser localmente superiores. Pontos de maior altitude próximos da costa como os Aparados da Serra e o Planalto Sul Catarinense também podem enfrentar fortes rajadas de vento. A força do vento vai depender muito da maior ou menor aproximação/intensificação do centro do ciclone em relação ao continente. Chamamos ainda a atenção para a possibilidade de formação de trombas d’água (tornados sobre água) na costa e nas lagoas interiores nesta semana. Há, ademais, o risco de ressaca e de agitação marítima considerável em alto-mar, em particular no Litoral Norte gaúcho e na costa de Santa Catarina, mas outras áreas mais ao Sul e Norte também devem experimentar mar mais agitado e com ondas maiores. Não se recomenda a navegação na costa. Fique atento aos informes da MetSul aqui, nas redes sociais e na mídia.