Um homem caminha entre casas destruídas durante ataques aéreos na cidade central ucraniana de Bila Tserkva. Ucranianos enfrentam, além das bombas, o frio extremo sem luz, água e comida em algumas cidades. | ARIS MESSINIS/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A neve está salvando as pessoas da sede na cidade ucraniana de Mariupol. Moradores, sem água, estão derretendo a neve que recolhem das ruas e telhados para poder beber. Corpos jazem nas ruas e pessoas famintas invadem lojas em busca de comida com escassez de luz, água e alimentos pelo cerco de tropas russas. Milhares se amontoam nos porões, tremendo ao som dos projéteis atingindo a cidade portuária estratégica.

Uma crise humanitária assola a cidade cercada de 430.000 habitantes. Na terça, uma tentativa de evacuar civis e entregar comida, água e remédios extremamente necessários através de um corredor seguro designado falhou, com autoridades ucranianas dizendo que as forças russas dispararam contra o comboio humanitário antes de chegar à cidade.

Um total de 1.207 civis de Mariupol morreram desde o início do cerco russo, informou a prefeitura da cidade. “Nove dias. Nove dias de bloqueio de Mariupol (…) Nove dias de genocídio da população civil”, informou a prefeitura em mensagem postada no Telegram, junto a um vídeo com declarações do prefeito horas depois de bombardeios russos destruírem um hospital pediátrico da cidade.

O “povo de Mariupol resiste”, acrescentou a prefeitura desta cidade industrial às margens do Mar de Azov, que tinha 450.000 habitantes antes do início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro. Ontem, um bombardeio aéreo russo atingiu um hospital pediátrico. O ataque “literalmente destruiu” uma maternidade no centro da cidade, que também incluía uma unidade pediátrica.

O ataque provocou uma onda de indignação internacional e levou a ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a pedirem “o cessar imediato dos ataques às instalações de saúde”. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, denunciou o ataque como “imoral” e prometeu que o presidente russo, Vladimir Putin, será responsabilizado “por seus crimes terríveis”.

Os vídeos divulgados retrataram o momento da evacuação do hospital, com uma mulher em uma maca e outra auxiliada por dois homens ao sair do prédio. As filmagens também mostram um enorme buraco no pátio do hospital, galhos de árvores arrancados e veículos em chamas.

Frio extremo vai piorar

Um forte sistema de bloqueio por um centro de alta pressão sobre o Oeste e Norte da Europa abriu caminho para que o ar muito frio do Ártico ingressasse no Norte da Ásia e na Europa Oriental. A onda polar traz temperaturas durante o dia 10ºC a 12ºC abaixo do normal no Leste da Ucrânia e 5ºC a 7ºC abaixo do normal na parte ocidental do país.

São os dias mais frios que o país experimenta em semanas, uma vez que a última onda de frio mais forte ocorreu no final de dezembro e por um tempo em meados e final de janeiro em meio a um inverno muito ameno. Nesta quinta, a Ucrânia registrou mínimas de -10,1ºC em Konotop, -10,2ºC em Poltava e -11,3ºC em Ai-Petri. Na vizinha Polônia, para onde grande parte dos refugiados da guerra está ingressando pelas fronteiras, as mínimas desta quinta-feira baixaram a valores de até -15,2ºC em Kasprowy Wierch.

A previsão para esta sexta-feira é de grande parte da Ucrânia ter temperaturas em torno de 10ºC abaixo de zero com sensação térmica pelo vento Leste de até 20ºC negativos. Partes do Nordeste da Ucrânia podem somar mais 10 a 15 centímetros de neve no final desta semana.

À medida que um reforço do ar do Ártico chega da Rússia no fim de semana, as temperaturas podem se aproximar de 20ºC negativosa no Nordeste ucraniano. A onda de frio seguirá ao menos até o meio do mês, quando a alta do bloqueio atmosférico começará a entrar em colapso. Na sequência, a Ucrânia deve experimentar dias de temperatura mais elevada e com menos frio.