Anúncios

As águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial nos litorais do Peru e do Equador aqueceram e passaram a apresentar anomalias de temperatura acima da média histórica neste mês com um aquecimento ainda mais substancial nos últimos dias. O dado é relevante para a chuva no Sul do Brasil.

Anomalia de temperatura da superfície do mar em 20 de fevereiro | NASA

Oficialmente, o fenômeno La Niña prossegue. Isso porque a classificação se há El Niño, La Niña ou neutralidade se dá pelas anomalias da temperatura da superfície do mar no Pacífico Centro-Leste, numa região conhecida como Niño 3.4, e não nos litorais do Peru e do Equador que são parte de uma outra zona denominada Niño 1+2.

Mesmo assim, a La Niña está perto de acabar e a sua anomalia hoje está marginalmente acima da neutralidade. De acordo com o último boletim semana da NOAA, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar na região Niño 3.4 foi de -0,5ºC, ou seja, exatamente no La Niña fraca (-0,5ºC a -0,9ºC) e de um quadro de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC).

Por outro lado, a chamada região Niño 1+2 apresentou anomalia na última semana, de acordo com os dados da NOAA, de +0,8ºC. Durante os últimos dias, estas anomalias chegaram a passar de +1ºC, adentrando brevemente no território de El Niño costeiro, mesmo com La Niña presente no Pacífico Central Equatorial.


Só que não se pode falar no momento em El Niño costeiro coincidindo com La Niña no Pacífico Central. Seria necessário um período mais prolongado de aquecimento das águas nas costas peruanas e equatorianas. Este aquecimento não tem um mês e começou a se observar o avanço de águas mais frias do Golfo do Panamá nas últimas 72 horas.

Este é o terceiro verão seguido sob La Niña, que atingiu seu pico de intensidade em outubro. A última vez em que três verões consecutivos se deram sob a influência da La Niña foi entre 1998/1999 e 2000/2001. Isso explica o quadro de estiagem que assola centenas de municípios gaúchos.

O quase fim da La Niña não significará que seu efeito cesse de imediato. Mesmo oficialmente o Pacífico passando para neutralidade ainda não haverá a recuperação do déficit hídrico no Rio Grande do Sul tão cedo. A estiagem, assim, não termina tão cedo.

O que pode ocorrer, e o aquecimento do litoral peruano e equatoriano é um sinal, é que a chuva aumente em relação ao que vinha se registrando. Fevereiro agora, acompanhando águas mais quentes no Pacífico Leste, tem tido mais chuva que janeiro e algumas cidades gaúchas, inclusive já estão com precipitação superior à média histórica do mês.

O clima é complexo e dependendo da área do Pacífico que aquece ou se resfria os efeitos no Sul do Brasil variam. No caso dos litorais do Peru e do Equador, quando esta parte do Pacífico fica mais quente, há uma tendência de aumento da chuva no Rio Grande do Sul. O contrário ocorre quando se resfria.

Em 2005, por exemplo, havia El Niño que em tese deveria proporcionar um verão chuvoso, mas o que se teve foi uma brutal estiagem no Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul, à medida que o Pacífico Leste ficou frio enquanto o Pacífico Central seguia quente.

No sentido oposto, no verão de 2017 o Pacífico Central estava mais frio do que a média e o grande temor entre os produtores do Sul do Brasil era um verão de estiagem, mas na virada do ano se iniciou na costa peruana um evento de El Niño costeiro que resultou em um verão mais chuvoso no Sul do Brasil com uma grande safra.

Para que houvessem um aumento mais pronunciado das precipitações no Rio Grande do Sul esta área do Pacífico Leste, junto ao Peru e Equador, teria que aquecer mais e por um período mais prolongado agora no fim do verão e no outono. É o que indica o modelo climático norte-americano CFS.

Mas, atenção! Esta parte específica do Pacífico junto aos litorais do Peru e do Equador (região Niño 1+2) é a de mais difícil previsão e muitíssimas vezes modelos de clima não antecipam tendências corretamente para este setor do oceano, onde as mudanças são radicais. O comportamento das anomalias de temperatura da superfície do mar nesta região é muito errático e pode apresentar alterações bruscas em dias ou semanas.

Independentemente se houver El Niño ou La Niña presente no Pacífico Central, aquecimento ou resfriamento nesta zona do Pacífico Leste perto dos litorais do Peru e do Equador acaba tendo impacto na chuva no Sul do Brasil, o que exige especial atenção com o comportamento das temperaturas do oceano.

Anúncios