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Períodos de maior instabilidade no Brasil nestes dez últimos dias de agosto acompanha ingresso da Oscilação Antártica em sua fase negativa. Na foto, raios em Caxias do Sul (RS) na madrugada de hoje. | DENIS GOERL

O que ocorre na Antártida tem reflexos no clima do Brasil. O padrão de circulação de ventos ao redor do continente antártico neste final de mês de agosto tende a ter reflexos no tempo do Centro-Sul do território brasileiro com aumento de chuva e um episódio de frio, antecipa a MetSul Meteorologia.

No momento e ainda nos próximos dias, o regime de vento ao redor do contente antártica vai estar mais enfraquecido e isso determinará uma maior ondulação das correntes de jato (vento) nas altitudes em que voam os aviões de carreira, fazendo com que a atmosfera fique mais ativa em fenômenos nas latitudes médias da América do Sul.

Quando isso ocorre há tendência de mais ciclones no Atlântico Sul, aumento da chuva no Sul e às vezes no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil, e ainda uma maior propensão ao ingresso de massas de ar frio no Sul do território brasileiro.

O ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul e Santa Catarina entre os dias 15 e 15 de junho, com enormes impactos humanos e econômicos no estado gaúcho, e o ciclone intenso da metade de julho com muitos estragos, coincidiram com uma queda de variável que se denomina de Oscilação Antártica, que adentrou em território negativo.

Isso não significa que sempre que a oscilação da Antártida adentrar em valores negativos vai se dar um ciclone tão intenso como o verificado em julho ou junho. A maioria destes sistemas ainda se forma mais ao Sul do Atlântico.

A Meteorologia presta muita atenção nesta oscilação porque ela não apenas impacta o processo ciclogenético (formação de ciclones no Atlântico Sul), mas também tem repercussão na chuva que se precipita sobre o Sul e o Sudeste do Brasil.

O episódio de instabilidade de agora e dos próximos dias que vai levar chuva a muitas áreas do Sul, Sudeste e do Centro-Oeste, e a chuva ocorrida em muitas áreas do Centro do Brasil nos últimos dias, quando chegou a chover em Goiânia, encerrando um longo período seco por conta de frente fria associada a um intenso ciclone na costa da Argentina, tem as marcas da influência da Oscilação Antártica (AAO) em terreno negativo nesta segunda quinzena de agosto.

Uma massa de ar frio tardia de maior intensidade vai atuar no Sul do Brasil nestes últimos dias de agosto com temperatura abaixo da média e esta incursão de ar frio pode ser associada ao comportamento da AAO. A frente fria impulsionada pelo ar frio deve levar chuva para muitas áreas do Centro do Brasil no auge da estação seca, quando não deveria chover. Novo evento de instabilidade com chuva e temporais no Centro-Sul do país no final do mês também deve ser favorecido pela oscilação em terreno negativo.

Soma-se ainda neste fim de agosto uma outra variável para favorecer aumento da chuva e de temporais que é a passagem pelos meridianos da América do Sul da Oscilação de Madden-Julian, que circunda o planeta pelos trópicos a cada 30 a 60 dias com aumento da instabilidade por onde passa.

O que é a Oscilação Antártica

A chamada Oscilação Antártica (AAO) ou Modelo Anular Sul ou Meridional é uma das mais importantes variáveis que impacta as condições no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto na chuva como na temperatura.

Do que se trata? Trata-se de um índice de variabilidade relacionado ao cinturão de vento e de baixas pressões ao redor da Antártida. A Oscilação Antártica tem duas fases. A positiva e a negativa.

Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir a faixa equatorial. Com a maior ondulação da corrente de jato na fase negativa, crescem as chances de episódios de chuva mais volumosa e ciclones.

Estudos mostram que na fase negativa há uma maior propensão para chuva no Sul e Sudeste do Brasil. Modelos de previsão do tempo indicam que a Oscilação Antártica nesta segunda metade de agosto está em território negativo (AAO-), assim, pela climatologia histórica da AAO-, a tendência é de aumento da chuva.

Independente da condição do Pacífico (El Niño, neutralidade e La Niña), períodos de AAO- têm potencial de incrementar a precipitação no Sul do país. Com um El Niño atuando, como ocorre agora, a soma das duas variáveis (teleconexões) agravam ainda mais o risco de episódios de chuva volumosa ou excessiva assim como de tempestades.

Um trabalho publicado sobre vazão de rios do Rio Grande do Sul mostrou que os mais altos índices de vazão se deram sob El Niño mais Oscilação Antártica negativa, ou seja, a fase negativa incrementa a chuva que já é aumentada sob El Niño, piorando ainda mais o risco de eventos de precipitação e tempo severo.

Menos gelo na Antártida

Os níveis baixos recordes de extensão do gelo marinho da Antártica persistem e se tornaram ainda mais extremos nas últimas semanas. Desde o início de agosto, o crescimento em extensão que ocorre no inverno começou a se estabilizar. Condições altamente variáveis são típicas da extensão do gelo do mar Antártico perto do máximo sazonal, mas a situação atual é claramente notável, afirma o Centro de Gelo e Neve dos Estados Unidos (NSIDC).

Em 15 de agosto, a extensão do gelo marinho era de 15,12 milhões de quilômetros quadrados, ou 2,54 milhões de quilômetros quadrados abaixo da extensão média de 1981 a 2010 para 15 de agosto. Em 15 de agosto, a cobertura estava 1,73 milhão de quilômetros quadrados abaixo do recorde anterior de mínima cobertura para a data, em 1986.

A extensão do gelo marinho neste momento é particularmente baixa nos setores do Mar de Ross e do Leste do Mar de Weddell, mas se recuperou um pouco no Mar de Bellingshausen. O Mar de Amundsen e o Mar de Bellingshausen ocidental estão agora ligeiramente acima da média.