Segue o drama dos caminhoneiros retidos pela neve nos Andes. Motoristas do Rio Grande do Sul e outros estados brasileiros estão entre os vários milhares de caminhoneiros retidos neste momento no Chile e na Argentina após o bloqueio da passagem internacional Cristo Redentor, há duas semanas, na Cordilheira dos Andes.
Principal passagem rodoviária entre os dois países, o local é utilizado para o transporte de cargas internacional e foi interditado por conta de sucessivas tempestades de neve nos Andes nesta segunda metade de agosto. Em determinado momento, a acumulação de neve na chamada alta montanha chegou a cinco metros.
A passagem, que liga a província argentina de Mendoza ao Chile pela Ruta Nacional 7, ainda não tem prazo de liberação, informaram as autoridades argentinas. A decisão foi tomada, segundo divulgado em nota oficial, considerando que os trabalhos de remoção da neve seguem no lado chileno.
O Passo do Cristo Redentor completa 13 dias fechado nesta terça pelas intensas tempestades de neve. São três mil caminhões retidos em Mendoza esperando para cruzar os Andes rumo ao Chile. Há esperança de uma janela de bom tempo entre esta quarta e a quinta-feira.
O grande problema está no lado chileno. No lado argentino, a pista da Ruta Nacional 7 está livre de neve até a boca do túnel, o que permitiu o trânsito interno após a forte nevasca que começou no sábado, 19 de agosto. Ocorre que no lado chileno, onde caiu a mesma quantidade de neve, há uma maior complexidade para retirar a neve na Ruta Nacional 60, além do trecho ser mais longo com 25 quilômetros que devem ser limpos enquanto no lado argentino são apenas 10 quilômetros. –
Nas últimas horas, a situação voltou a piorar. Uma nova forte nevasca atingiu a Cordilheira dos Andes com grande acúmulo de neve na passagem Cristo Redentor. Imagens da segunda-feira na passagem mostravam visibilidade quase zero com vento intenso e neve forte (“viento blanco”).
Na chamada Área de Controle Integrado, no distrito administrativo de Uspallata, há cerca de 250 caminhões retidos. Conforme militares argentinos, uma cozinha de campanha foi montada para a entrega de alimentos aos motoristas parados.
“Em Uspallata, algumas vezes por dia, nos trazem água e uma sopa muito boa. Mas só aqui. Há muitos outros caminhoneiros [retidos pela nevasca] que não tem onde comer”, declarou ao jornal Correio do Povo o motorista gaúcho Júlio Cezar Machado Baptista, retido há 15 dias no distrito argentino, quando retornava do Chile.
Dormindo dentro do veículo, Baptista incentiva os colegas a não desafiarem a neve. “Muitos caminhoneiros não entendem que é melhor esperar em um lugar seguro do que tentar cruzar a nevasca. Tem que esperar a natureza, tudo tem seu tempo”, afirmou ao jornal o motorista, que é natural de Uruguaiana.
⚠️Complejo Los Libertadores se mantiene CERRADO por acumulación de nieve en la ruta y contingencia en complejo argentino. #UPFinforma pic.twitter.com/7f8FHEAPVX
— Pasos Fronterizos (@UPFronterizos) August 26, 2023
Vindo também do município da Fronteira Oeste, Gunar Bertotti está em Santiago, desde o dia 12 de agosto, quando entregou uma carga de veículos. Retido com quatro colegas da mesma empresa, ele alegou descaso das autoridades chilenas com os caminhoneiros.
“Final de semana estava liberado [para trafegar], mas liberaram só para os turistas passearem. Os caminhões não tem valor nenhum para eles. Tem mais de cinco mil caminhões parados, entre o Chile e a Argentina”, destacou.
Por que tanta neve nestes últimos dias? Dois rios atmosféricos e uma frente fria atingiram o Chile nos últimos dias, com acumulados de precipitação extremos e inundações, sendo que nos pontos altos, a umidade se converteu em neve. O mau tempo causou ao menos três mortes e deixou mais de 34 mil pessoas isoladas no Chile.