As temperaturas abaixo de zero com sensação térmica congelante agravam a situação dos sobreviventes e dificultam o trabalho desesperado das equipes de emergência e resgates na Turquia e Síria, onde o balanço do terremoto de segunda-feira superou 16.000 mortes.

Um homem sírio se senta em meio aos escombros enquanto espera por notícias sobre os membros da família presos sob os destroços na cidade de Harim, na província de Idlib, no Noroeste da Síria, controlada pelos rebeldes, na fronteira com a Turquia | OMAR HAJ KADOUR/ AFP/METSUL METEOROLOGIA

Mais de 72 horas após o terremoto, o período com mais possibilidades de encontrar sobreviventes, as autoridades temem um aumento dramático do número de vítimas fatais devido ao elevado número de pessoas que, calculam, continuam presas nos escombros.

Após o choque inicial, o descontentamento é cada vez maior entre a população com a resposta das autoridades ao terremoto que, segundo admitiu o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, teve “deficiências”.

Vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes bloqueados nos escombros até que suas vozes não fossem mais ouvidas.

“Meu sobrinho, minha cunhada e a irmã da minha cunhada estão nos escombros. Estão presos nas ruínas e não há sinais devida”, afirmou Semire Coban, professora de uma creche na cidade turca de Hatay. “Não conseguimos chegar até eles. Tentamos falar com eles, mas não respondem”, acrescentou.

Os socorristas continuam encontrando sobreviventes entre os escombros, mas o balanço de mortes não para de aumentar. Os números mais recentes mostram 16.035 óbitos: 12.873 na Turquia e 3.162 na Síria.

Erdogan visitou na quarta-feira duas áreas muito afetadas pelo tremor, a cidade de Kahramanmaras (epicentro do terremoto) e a região de Hatay, na fronteira com a Síria. “Claro, há deficiências. É impossível estar preparado para um desastre como este”, disse.

No dia da visita, a rede social Twitter ficou inacessível na Turquia por quase 12 horas, de acordo com correspondentes da AFP e a organização NetBlocks, que monitora a liberdade de acesso à internet. A polícia anunciou a detenção de 18 pessoas por publicações consideradas “provocações” nas redes sociais, quase todas críticas à resposta do governo.O frio agrava a situação.

Apesar da temperatura de -5ºC, milhares de famílias em Gaziantep passaram a noite em carros ou barracas, impossibilitadas de retornar para suas casas ou com medo de voltar para os imóveis. Os pais caminhavam pelas ruas da cidade do sudeste da Turquia com os filhos no colo, enrolados em cobertores, para tentar reduzir os efeitos do frio. “Quando sentamos, dói. Tenho medo pelas pessoas presas nos escombros”, disse Melek Halici, com a filha de dois anos coberta por uma manta.

Mulheres turcas sentam-se perto de uma fogueira em meio aos escombros de prédios desabados em Kahramanmaras, três dias após um terremoto de magnitude 7,8 atingir o sSudeste da Turquia e causar devastação | OZAN KOSE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para Síria e Turquia. “Estamos correndo contra o tempo para juntos, salvar vidas”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como esta atinge uma população”, completou.

Na Síria, os Capacetes Brancos, que lideram os esforços de resgate nas zonas rebeldes, imploraram por ajuda. “Pedimos à comunidade internacional que assuma sua responsabilidade com as vítimas civis”, declarou à AFP o porta-voz do grupo de voluntários, Mohammad al Chebli. “É uma verdadeira corrida contra o tempo, as pessoas morrem a cada segundo nos escombros”, acrescentou.

Sírios fazem uma fogueira para se aquecer do frio abaixo de zero em meio às ruínas do terremoto no Norte do país | AFP/METSUL METEOROLOGIA

O coordenador da ONU na Síria também pediu ao governo sírio que facilite a entrega de ajuda humanitária às áreas sob controle rebelde e alertou que as reservas de emergência devem acabar em breve. “Deixem a política de lado e nos permitam realizar nossa tarefa humanitária”, disse à AFP El Mostafa Benlamlih.

O regime sírio de Bashar al Asad também pediu formalmente ajuda à União Europeia. Uma década de guerra civil e bombardeios aéreos da Síria e da Rússia destruíram hospitais, provocaram o colapso da economia e cortes diários de energia elétrica, combustíveis e do abastecimento de água.

A Comissão Europeia pediu aos países membros que respondam de maneira favorável aos pedidos de Damasco para o envio de alimentos e remédios, mas com vigilância para impedir o desvio de material. A União Europeia enviou rapidamente equipes de emergência para a Turquia, que também recebeu ajuda dos Estados Unidos, da China e dos países do Golfo, mas inicialmente ofereceu assistência mínima à Síria por causa das sanções contra o regime de Assad.