Município de Benedito Novo sofre com enchentes e inundações que tendem a se agravar nesta semana com mais chuva prevista para o Nordeste de Santa Catarina | PREFEITURA MUNICIPAL DE BENEDITO NOVO/DIVULGAÇÃO

A MetSul Meteorologia adverte que o cenário que se pode esperar nesta semana no estado de Santa Catarina é crítico pelo excesso de chuva. Já choveu com volumes excepcionalmente altos em algumas localidades com inundações e rios fora do leito, e ainda se espera uma enorme quantidade de chuva por cair no decorrer da semana que agravará muito a situação no estado catarinense.

Trata-se de um evento de instabilidade de muitos dias seguidos e que sequer chegou a sua metade. Até o começo desta segunda-feira, os acumulados de chuva em 72 horas já atingiam 356 mm em Schroeder, 273 mm em Joinville, 238 mm em Benedito Novo, 223 mm em Luiz Alves e 217 mm em Jaraguá do Sul.

Os volumes mais extremos se se concentram, portanto, como vinha sendo alertado desde a semana passada pela MetSul, no setor Nordeste do território catarinense e em áreas ao Leste do estado da Grande Florianópolis para o Norte.

A avaliação de que o cenário deve se tornar crítico baseia-se na avaliação da chuva que já caiu em grande quantidade e a persistência da instabilidade ainda por muitos dias com acumulados altíssimos que vão se somar aos muito elevados volumes já registrados.

Com isso, o solo ficará saturado com risco máximo de deslizamentos de terra e os níveis dos rios tendem a subir ainda mais com maior número de pessoas afetadas por inundações e enchentes.

Trata-se de um cenário extremamente preocupante o que se desenha para esta semana em Santa Catarina a partir do que indicam os modelos numéricos. O tempo não vai firmar nesta semana e se prognostica chuva todos os dias nas áreas mais castigadas pela instabilidade no Leste e no Nordeste catarinense, embora se preveja a diminuição da chuva e intervalos com melhoria no final da semana.

Aporte de umidade do mar vai aumentar

A chuva que ocorre em Santa Catarina tem forte componente orográfico pela interação do vento que vem do mar com o relevo local da Serra do Mar. O vento de Leste a Nordeste vem carregado de umidade e traz chuva.

O ar úmido oceânico ao encontrar a barreira física dos morros e montanhas acaba ascendendo na atmosfera. Quanto mais alto na atmosfera, mais frio. E o ar úmido, ao se elevar, acaba encontrando ar mais frio e termina por se condensar, gerando nuvens e chuva. Este tipo de chuva é chamado de orográfica ou induzida pelo relevo, e costuma trazer elevados volumes.

Projeção do modelo norte-americano GFS de vento em 850 hPa (1500 metros de altitude) indica intensificação do vento de Leste e Nordeste do mar para o continente nesta primeira metade da semana com aumento do aporte de umidade | METSUL

Os dados dos modelos indicam que as correntes de vento do mar para o continente deverão prosseguir nesta semana em direção ao Leste de Santa Catarina, o que explica o porquê de a chuva prosseguir e com tendência de aumento significativo das precipitações também no Sul catarinense.

Modelo GFS (EUA) indica altos valores de água precipitável com abundante umidade no Leste e no Nordeste de Santa Catarina nesta semana | METSUL

Os mesmos dados apontam ainda índices de água precipitável elevados no Leste catarinense acompanhando o aporte de umidade oceânico, o que dá suporte para as projeções de elevados acumulados de precipitação ainda por cair.

Vem muita chuva ainda

O grande ponto de preocupação está nos acumulados que são indicados para esta semana em Santa Catarina. Aos mais de 200 mm a 300 mm que já caíram em diversos municípios do Nordeste catarinense, a semana poderá trazer acumulados adicionais de 200 mm a 400 mm. O modelo europeu, por exemplo, projeta para esta semana 200 mm a 250 mm para a área de Joinville e 150 mm a 200 mm para a região de Florianópolis.

Projeção de chuva do modelo canadense para o estado de Santa Catarina nesta semana aponta volumes de 200 mm a 300 mm para o Leste e o Nordeste catarinense que se somarão ao que já choveu | METSUL

Conforme a rodada da 0Z desta segunda-feira, o modelo do serviço meteorológico do Canadá projeta nos próximos dez dias 368 mm para Joinville, 351 mm para Schroeder, 374 mm para Florianópolis, 346 mm para Itajaí, 294 mm para Blumenau, 277 mm para São Francisco do Sul, 321 mm para Balneário Camboriú, 181 mm em Rio do Sul, 271 mm para Tubarão e 243 mm para Criciúma. A maior parte destes volumes é prevista para os próximos quatro a cincos dias.

Projeção de chuva do modelo alemão Icon para a semana em Santa Catarina | METSUL

Como a MetSul Meteorologia vem insistindo, não se trata de um evento de chuva extrema com caráter generalizado em Santa Catarina. Os volumes extremos a excepcionais ocorrem em zonas mais a Leste e o Nordeste do estado, mas, em particular, em área mais a Nordeste do território catarinense, em pontos entre a Grande Florianópolis e a divisa com o Paraná na costa e na região de Joinville.

Na área de Florianópolis e da Grande Florianópolis, a chuva não apenas será volumosa como tende a ser persistente, com períodos de precipitações fortes a torrenciais. Modelos indicam que o tempo estará chuvoso na região da capital catarinense até sexta-feira, esperando-se uma melhoria no final da semana e no decorrer da semana que vem. Embora já chova com altos volumes neste começo de semana, o risco maior de chuva forte seria entre terça e a quinta.

Inundações e enchentes vão se agravar

É inevitável ante o cenário de chuva projetado pelos modelos numéricos que se agravem, inclusive muito em algumas cidades, as consequências da chuva com grande impacto para a população. A tendência é de os rios já sob cheia aumentarem ainda mais os seus níveis e outros entrarem em cota de cheia.

A região do Nordeste catarinense, em especial do Vale do Rio Itajaí-Açu, é a que vai exigir mais atenção na condição hidrológica. Cidades como Rio do Sul e Blumenau deverão monitorar muito atentamento os avisos da Defesa Civil local porque a perspectiva é de piora do quadro hidrológico.

É crítico ainda o risco de transbordamento de córregos e arroios por conta dos volumes altos somados de vários dias e episódios de chuva torrencial, afinal em vários momentos a chuva deve ser intensa com elevados acumulados de chuva em curto período.

A sucessão de dias de chuva volumosa e os acumulados extremos projetados pelos modelos farão o risco de deslizamentos extremamente elevado no Leste e Nordeste de Santa Catarina, onde o relevo é mais acidentado e com muitos morros.

O Nordeste catarinense, principalmente, terá maior risco de escorregamentos de encostas pelo relevo da região. São esperadas quedas de barreiras e é alta a probabilidade que o tráfego venha a ser afetado em algumas estradas com bloqueios parciais ou totais, seja por água acumulada ou deslizamentos.