Destruição no município baiano de Ubaíra em consequência da chuva extrema que atingiu o estado do Nordeste | Fernando Vivas/Governo da Bahia

Os moradores de cidades baianas afetadas por chuvas e inundações intensas tentavam recuperar o que podiam dos escombros à espera de mais ajuda e de uma melhora do tempo nos próximos dias. Ao menos 25 pessoas morreram em consequência de chuvas, deslizamentos e inundações desde o fim de novembro, quando foram registrados os primeiros temporais no Sul da Bahia, tanto em zonas costeiras quanto no interior.

“Passamos um sufoco muito grande, foi devastador aqui na rua. Cheguei em casa, já estava tomada de água. Entrei com água no umbigo”, contou à AFP a dona de casa Eliane Silva, diante dos poucos pertences que restaram de sua casa em Itambé, 600 quilômetros ao Sul de Salvador. “Minha mãe também perdeu tudo”, lamentava, contando que só pretende voltar para casa “depois que o sol esquentar, quando melhorar o tempo”, o que é esperado para os próximos dias.

Após a divulgação de imagens aéreas de cidades inteiras debaixo d’água nos últimos dias, nesta quarta-feira diversos grupos de autoridades e da sociedade civil podiam ser vistos na televisão distribuindo provisões, doações de alimentos, roupas, colchões e outros artigos de primeira necessidade.

“Estamos olhando nos escombros, tentando aproveitar o que dá. Está chegando muita ajuda, água mineral, doações de igrejas evangélicas, com roupa, alimento… Fazendeiros oferecendo leite”, contou Watson Gomes, um trabalhador rural que hospeda em sua casa dez pessoas que ficaram desabrigadas. “Só tenho um quarto e duas salas, mas todos cabem ali. A prefeitura e os empresários da cidade têm ajudado bastante com cestas básicas e também tem vindo ajuda de fora”, relatou Gomes.

As inundações afetaram 140 comunidades, um terço dos municípios baianos, e deslocaram mais de 90.000 pessoas de suas casas entre os quase meio milhão de flagelados. E um total de 44 rodovias estaduais sofreram interrupções ou danos em consequência das chuvas. O governador do estado, Rui Costa (PT), qualificou a tragédia de o “maior desastre” da história da Bahia.

Enquanto as águas baixam em alguns locais, onde se revelam montanhas de escombros, em outras se tornam uma ameaça. Quatro municípios – Itambé, Canavieiras, Mascote e Cândido Sales – foram alertados pelo Corpo de Bombeiros sobre possíveis inundações, diante do aumento do fluxo de água devido à abertura de comportas, em um rio de Minas Gerais. Moradores foram instados a deixar áreas de risco.

Os bombeiros da Bahia monitoram pelo menos dez barragens com risco de rompimento em diferentes rios com vazões acima do normal. Em Itapetinga, Carlos Batista da Silva aponta para a marca da água na parede acima de sua cabeça. Ele foi notificado sobre o transbordamento pouco antes de ver todos os seus pertences submersos.

“Resolvemos tirar os móveis, mas não deu tempo. Perdemos tudo, só consegui resgatar o televisor”, conta Silva, que jogou na rua os restos de seu sofá, algumas cadeiras e um micro-ondas inutilizável. João Vitor Gomes Santos, outro morador de Itapetinga, também se surpreendeu com a inundação. A água “chegou dentro da minha casa: guarda-roupa, cama, cômoda, a cama do meu filho… Foi tudo embora”, lamenta.