Abril começou ainda com a presença do fenômeno La Niña atuando no Oceano Pacífico Equatorial.  O pico de intensidade do atual evento da La Niña foi alcançado em dezembro de 2021 e nos primeiros dias de janeiro.

Desde então, o resfriamento das águas na faixa equatorial do oceano tem oscilado e intensidade e na última semana se aproximou dos níveis observados no final de 2021. Na composição das anomalias de temperatura da superfície do mar das diferentes regiões Niño, o resfriamento no final do ano passado foi um pouco mais intenso do que se observou no final do verão.

Tradicionalmente, tanto com a La Niña como com o El Niño, o máximo de intensidade do evento se verifica, na maioria dos episódios, ao redor da virada do ano. Mesmo assim ocorrem flutuações nas anomalias de temperatura da superfície do mar, mais pronunciadas no Pacífico Leste que é uma região mais volátil.

Conforme o último boletim semanal da NOAA, a agência climática do governo dos Estados Unidos, a anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central na última semana foi de -0,7ºC. Assim, o resfriamento está na faixa considerada de fraca intensidade (-0,5ºC a -0,9ºC). Esta é a região usada para se definir a atuação de El Niño ou La Niña e sua força. No pico de intensidade no evento em curso, a anomalia chegou a -1,1ºC nesta área do Pacífico.

Já a anomalia medida no Pacífico Equatorial Leste, a chamada região Niño 1+2, foi de -1,0ºC na última semana após um breve período de aquecimento na segunda metade de março com a intrusão de águas mais quentes vindas do Golfo do Panamá. É anomalia considerada dentro da faixa de intensidade moderada (-1,0ºC a -1,4ºC). Esta região mais a Leste do Pacífico, em várias análises de correlação, mostrou ter grande impacto na chuva do Rio Grande do Sul.

A MetSul sempre acautela que é um erro se fazer uma relação linear entre intensidade de La Niña e severidade de estiagem no Rio Grande do Sul, portanto o enfraquecimento do fenômeno em curso desde o começo do ano não significa que a estiagem vai acabar. Ao contrário, a chuva deve seguir muito irregular no Estado. Precipitação até traz alívio em algumas áreas, como se está a observar desde março, mas o quadro está longe de se normalizar em algumas áreas pelo elevado déficit hídrico acumulados durante os últimos meses.

Observa-se em área da subsuperfície, portanto abaixo da superfície do mar, no Centro do Pacífico Equatorial, o crescimento de uma área de águas mais frias do que a média, o que deve sustentar a continuidade da La Niña durante o restante do outono. A projeção por vários modelos de clima indica a continuidade do fenômeno ao menos até o inverno deste ano.

A NOAA projeta 53% de probabilidade de o fenômeno seguir no nosso inverno (junho a agosto) e 40% a 50% de probabilidade de La Niña ou neutralidade nos meses seguintes. Na avaliação da MetSul Meteorologia, a probabilidade de a La Niña ainda estar atuando no Pacífico Equatorial até o fim do outono é altíssima. Neste momento, a tendência para o inverno é de La Niña mais fraca ou uma neutralidade fria.

É importante ressaltar que o período de março a junho marca o que se denomina de “barreira de previsibilidade”. Trata-se do período do ano em que as projeções para a temperatura do Pacífico têm menor índice de acerto. Portanto, projeções de mais longo prazo, como para o segundo semestre de 2022, devem ser vistas com muita cautela neste período.