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NOAA

A La Niña no Oceano Pacífico Equatorial está no limite das intensidades fraca e moderada, de acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera, a agência oficial de clima e tempo do governo dos Estados Unidos que monitora as condições atmosférica e oceânicas do fenômeno.

Conforme a NOAA, em seu último boletim semanal, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central, a denominada região Niño 3.4, está em -1,0ºC. Tal anomalia está no limite das intensidades fraca (-0,5ºC a -0,9ºC) e moderada (-1,0ºC a -1,4ºC). Desde que a La Niña foi declarada na metade de outubro, é a terceira vez que um boletim semanal trouxe o fenômeno dentro da faixa de intensidade moderada.

Por sua vez, o Pacífico Equatorial Leste, a chamada região Niño 1+2, perto dos litorais do Peru e do Equador, apresentou anomalia igualmente de -1,0ºC. Esta região do Pacífico, em particular, deve ser atentamente monitorada porque tem grande impacto na chuva do Sul do Brasil durante o verão.

Independentemente se há El Niño ou La Niña, o comportamento da região Niño 1+2 é crucial para a chuva no verão gaúcho. Em 2005, por exemplo, mesmo com El Niño, resfriamento nesta parte do Pacífico favoreceu a seca daquele verão. Em 2017, com o Pacífico Central em estado de neutralidade, o Pacífico Leste superaqueceu em evento de El Niño costeiro que redundou em um verão chuvoso.

A tendência é que o fenômeno La Niña siga atuando durante todo o verão com probabilidade acima de 90% no trimestre de dezembro a fevereiro. No decorrer do verão deve enfraquecer até que as condições oceano-atmosfera típicas do fenômeno cessem no final da estação ou no começo do outono.

O que é a La Niña

A La Niña se caracteriza pelo resfriamento das águas superficiais da faixa equatorial do Oceano Pacífico com a alteração do regime de vento na região que impacta o padrão de circulação geral da atmosfera em escala global, inclusive no Brasil. Quando há um evento de La Niña há uma tendência de a Terra esfriar ou na fase atual de apresentar aquecimento menor que haveria estivesse sob El Niño.

No caso do Rio Grande do Sul, há estudos mostrando efeitos em produtividade agrícola pelas diferentes fases do Pacífico. Estes trabalhos levam em conta décadas de dados. Quando sob neutralidade a produtividade ficou acima da média em um terço dos anos, abaixo da média em outro terço e acima no terço restante.

Sob El Niño, a tendência maior foi de aumento de produtividade e com La Niña verificou-se uma probabilidade maior de perdas na produção. Há uma propensão a se fazer uma correlação entre El Niño e mais chuva no Sul do Brasil e La Niña a um maior risco de estiagem, mas esta é uma fórmula distante de correta e existem muitas ressalvas a serem feitas do ponto de vista histórico.

Nenhum evento de La Niña é igual ao outro. Apesar de a grande maioria das estiagens no Sul do país ter ocorrido sob neutralidade ou La Niña, a maior seca do Rio Grande do Sul neste século, em 2005, se deu com o Pacífico Equatorial oficialmente numa condição de El Niño. Da mesma forma já houve muitos meses bastante chuvosos e até enchentes durante episódios de La Niña.

No caso do último verão, por exemplo, a MetSul enfatizava que o evento de La Niña poderia trazer estiagem, como ocorreu com perdas no milho no começo da estação e pode se repetir agora no final de 2021, mas a mesma previsão indicava que janeiro poderia ser mais chuvoso do que a média, o que beneficiaria o ciclo de soja.

Até porque, sob La Niña, a média dos dados das últimas décadas mostra uma maior propensão para chuva acima da média do que abaixo da média durante o mês de janeiro na maioria dos anos em parte do Rio Grande do Sul. Assim, La Niña nem sempre é certeza de estiagem no Sul do Brasil nem tampouco de chuva acima da média mais ao Norte e o Nordeste do Brasil.

O que o fenômeno faz sim é aumentar a probabilidade de ocorrência destes cenários nas diferentes regiões do país. Por isso, se instalando um evento na primavera, aumenta muito o risco de estiagem no Sul do país no próximo verão.

Por fim, da mesma forma que não se pode fazer associação linear entre La Niña e seca ou El Niño e enchentes, a intensidade do fenômeno também não é o melhor parâmetro. Os dados históricos revelam que já houve casos de estiagens mais graves em eventos de La Niña fraco que sob forte a intenso. Isso se explica porque o Pacífico não é a única variável que influencia na chuva. Outras variáveis como a Oscilação de Madden-Julian (OMJ), a temperatura do Atlântico e a Oscilação Antártica podem atenuar ou aumentar os efeitos da La Niña.