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O Centro de Previsão Climática (CPC) da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência climática dos Estados Unidos, publicou a sua atualização mensal de probabilidade de cenários para o Oceano Pacífico, indicando mais de 80% de chance de instalação de um evento de La Niña para mais tarde neste ano.

NASA

De acordo com a atualização mensal de setembro, as probabilidades para o trimestre de setembro a novembro, da primavera, são de 71% de La Niña, 29% de neutralidade e 0% de El Niño, ou seja, a agência de tempo e clima norte-americana crê que a La Niña se instale oficialmente entre outubro e novembro, uma vez que agora em setembro é pouco provável.

Para o trimestre outubro a dezembro as probabilidades informadas pelo CPC são de 81% de La Niña, 19% de neutralidade e 0% de El Niño. Já para o trimestre de novembro de 2024 a janeiro de 2025 o indicativo da NOAA é de 83% de probabilidade de La Niña, 17% de neutralidade e 0% de El Niño.

Para o trimestre climatológico de verão, de dezembro a fevereiro, as probabilidades de acordo com a NOAA são de 77% de La Niña, 22% de neutralidade e 1% de El Niño. No trimestre de janeiro a março de 2025, as estimativas informadas foram de 63% de La Niña, 35% de neutralidade e 2% de El Niño. Em fevereiro a abril, 47% de La Niña, 49% de neutro e 4% de El Niño.

Já para o trimestre climatológico de outono de 2025, que compreende os meses de março a maio, as estimativas da NOAA são 33% de La Niña, 61% de neutralidade e 6% de El Niño. Por fim, para o trimestre abril a junho de 2025, os valores informados foram 22% de La Niña, 66% de neutralidade e 12% de El Niño.

Assim, conforme a análise da NOAA, existe uma altíssima probabilidade que um evento de La Niña seja declarado na primavera, atinja o seu máximo de intensidade entre o fim do ano e chegue ao fim entre o final do verão e o começo do próximo outono.

O que pensa a MetSul sobre as projeções?

Hoje, de acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4) está em -0,1ºC. O valor está na faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC).

Desde julho, esta região principal de monitoramento do Oceano Pacífico Equatorial Centro-Leste já apresentou quatro semanas com registros de valores negativos de anomalia de temperatura da superfície do mar, entre -0,1ºC e -0,2ºC, mas nenhum sequer perto de -0,5ºC que é o valor mínimo para La Niña.

Já a chamada região Niño 1+2, que monitora a temperatura da superfície do mar junto aos litorais do Peru e do Equador, apresenta anomalia agora de -0,4ºC, mas já chegou a -0,9ºC em junho. Embora relevante, esta área do Pacífico não é a usada para designar oficialmente se há um evento clássico.

NOAA

Para que um evento de La Niña seja declarado são necessárias várias semanas em que a anomalia da temperatura do Pacífico Centro-Leste apresente valores de -0,5ºC ou inferiores. Como destacado, nenhuma semana até agora sequer chegou perto de alcançar este patamar.

Nesse sentido, o entendimento da MetSul é que não haverá a declaração de um evento tão cedo, não no que resta deste mês de setembro e no começo de outubro. Se a La Niña se formar, o que não temos como uma certeza, a declaração se daria mais tardiamente.

Aliás, a tendência, de acordo com o nosso entendimento na MetSul Meteorologia, é de continuidade da fase neutra do Oceano Pacífico ao menos no curto prazo. Não projetamos que nas próximas quatro semanas seja declarado um evento, considerando as condições atuais.

Embora a NOAA estime probabilidades de até 83% de La Niña, não estamos convencidos na MetSul Meteorologia de uma probabilidade tão alta. A NOAA tem superestimado as probabilidades de La Niña por meses. Na atualização de maio, por exemplo, indicava 69% de chance de La Niña no trimestre julho a setembro. Então, o trimestre vai acabar sem La Niña.

O nosso entendimento para os próximos aponta dois possíveis cenários e são dois justamente porque as condições que esperamos são limítrofes, numa faixa muito perto de La Niña e neutralidade, ao redor de -0,5ºC de anomalia. No primeiro cenário, um evento de La Niña muito fraco e de curta duração se instala entre a primavera e o verão. No segundo, o Pacífico segue em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar negativas e perto de valores de La Niña, mas sem um caracterização do fenômeno.

O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil

O fenômeno tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase friaesteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

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