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Dados diários de monitoramento de anomalia de temperatura da superfície do mar analisados pela MetSul Meteorologia indicam que as condições de La Niña no Oceano Pacífico Equatorial apresentam sinais de enfraquecimento.

NOAA

De acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4).

O valor informado pela NOAA está na faixa de La Niña fraco (-0,5ºC a -0,9ºC). A maior anomalia negativa até agora nesta área do Pacífico que é usada para designar se há La Niña ou El Niño foi na semana de 25 de dezembro com -1,1ºC, o único registro semanal na faixa de intensidade moderada (-1ºC a -1,4ºC de anomalia).

Com base nos dados diários, não será surpresa se no boletim a ser divulgado pela NOAA na próxima semana mostrar anomalia nesta parte do Pacífico na faixa de neutralidade, ou seja, fora dos limites mínimos de La Niña de -0,5ºC. Isso, contudo, não significa o fim da La Niña, o que dependerá de semanas seguidas de anomalias em patamar neutro.

O episódio do fenômeno La Niña ingressou agora em fevereiro no seu terceiro mês e segue impactando o clima com aumento da chuva no Nordeste do Brasil e estiagem no Rio Grande do Sul, onde o clima seco e muito quente afeta a safra de verão e traz quebra parcial nas produções de soja e milho.

Conforme os dados da agência de clima do governo dos Estados Unidos, já são nove semanas seguidas em que a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Centro-Leste está em patamar de La Niña, sendo oito na faixa de La Niña fraca e uma semana na faixa de intensidade moderada.

Por outro lado, na chamada região Niño 1+2, que mede a temperatura do mar na costa do Peru e do Equador, mas não é usada para designar se há Niña ou Niño, a anomalia atual é de 0,1ºC.

Em nenhum momento esta parte do Pacífico apresentou anomalias em patamar de La Niña por muitas semanas consecutivas, ou seja, o evento atual tem características de um episódio de Pacífico Central e não o canônico que alcança também a costa da América do Sul.

E por quanto tempo segue a La Niña?

Não por muito tempo, ao menos pela análise que combina os dados diários de anomalia de temperatura da superfície do mar e os modelos de clima que são analisados pela MetSul Meteorologia.

De acordo com a nossa análise, ao menos no curto prazo, a tendência é que as condições de La Niña permaneçam com gradual transição para um quadro de neutralidade ao longo das próxima semanas.

Conforme a mais recente atualização mensal da NOAA, publicada ontem, para o trimestre climatológico de outono de 2025, que compreende os meses de março a maio, as estimativas são 34% de La Niña, 66% de neutralidade e 0% de El Niño.

NWS/NOAA

Para o trimestre abril a junho de 2025, os valores informados foram 29% de La Niña, 70% de neutralidade e 1% de El Niño. No trimestre de maio a julho, 27% de La Niña, 68% de neutralidade e 5% de El Niño. Já no trimestre de junho a agosto, o de inverno, 28% de probabilidade de La Niña, 60% de neutralidade e 12% de El Niño.

Por sua vez, no trimestre de julho a setembro, 32% de probabilidade de La Niña, 52% de neutralidade e 16% de El Niño. No trimestre de agosto a outubro, 35% de La Niña, 48% de neutro e 17% de El Niño. Finalmente, no trimestre de primavera, de setembro a novembro, a NOAA projeta hoje probabilidades de 36% de La Niña, 44% de neutralidade e 20% de El Niño.

O que é o fenômeno La Niña e como impacta o Brasil

O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.

Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a fase fria esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.

No Brasil, os efeitos variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.

Além da chuva, o fenômeno também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.

Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.

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