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O inverno começa oficialmente pelo critério astronômico às 21h14 do dia 21 de junho. Já para a climatologia, o trimestre de junho a agosto (JJA) é considerado o chamado inverno climático ou meteorológico para fins de estatística, uma vez que a data astronômica é móvel. Em 2022, um mês antes da data astronômica o inverno vai começar a se instalar no Brasil.

O mês de maio até o momento tem anomalias de temperatura mínima perto ou acima da média na maior parte do Sul do Brasil e máximas abaixo da média em quase toda a região. Depois de um abril que foi marcado por temperatura perto ou abaixo da média na maioria das regiões do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, mas que foi mais quente na maior parte do Paraná. Março foi mais quente que a média no Paraná e mais frio que o normal em grande parte dos estados gaúcho e catarinense.

Com o padrão atmosférico que se projeta vai se instalar durante esta segunda quinzena de maio, a tendência é que muitas áreas do Sul do Brasil terminem o mês com temperatura próxima ou abaixo da média histórica. Como assinalado no prognóstico climático da MetSul para o outono de 2022, a segunda metade de maio, historicamente, apresenta características mais próximas do inverno e será o caso deste ano.

Os modelos numéricos analisados pela MetSul, e disponíveis ao assinante na seção de mapas do site, indicam para a semana que vem o ingresso da primeira massa de ar frio de forte intensidade do ano no Sul do Brasil e que vai alcançar áreas do Centro-Oeste, do Sudeste e mesmo do Norte do país (friagem) pela sua trajetória continental pelo interior da América do Sul.


Esta incursão de ar frio, assim como a MetSul já destacou no último fim de semana, será mais forte até agora no ano a alcançar o território brasileiro e trará as menores mínimas de 2022 até o momento na maioria dos estados do Centro-Sul do Brasil. Há expectativa de marcas abaixo de zero nos municípios tradicionalmente mais frios e de geada em estados do Sul, do Centro-Oeste e do Sudeste.

O frio será mais intenso entre os dias 19 e 21 deste mês, quando o ar frio vai progredir mais pelo território brasileiro, mas já antes a temperatura vai estar baixa em estados principalmente do Sul, sobretudo nas máximas com tardes mais frias, pela interação do ar frio com instabilidade. Por isso, nos mapas de anomalia de temperatura em 850 hPa (nível de pressão de 1.500 metros de altitude), o resfriamento é menos acentuado no período de 11 a 16 de maio e significativo entre 16 e 21 de maio.

Ritmo de inverno com ondas de frio

O frio, contudo, não se limitaria à próxima semana. O modelo climático norte-americano CFS, disponível ao assinante para consulta em nossa seção de mapas, projeta que na semana seguinte, entre os dias 21 a 26 de maio, persistiria o padrão de temperatura mais baixa com o registro de noites frias e geada, especialmente no Sul do Brasil enquanto o Brasil Central teria maior aquecimento.

Na primeira quinzena de junho, conforme os dados, uma nova massa de ar polar mais intensa pode atingir o Brasil com queda acentuada da temperatura nos estados do Sul, Centro-Oeste e da Região Sudeste, mais uma vez provocando geada em muitas cidades e registro de mínimas perto ou abaixo de zero em diversas localidades.

Como se observa, o predomínio nos próximos 30 dias será de ar frio no Sul do Brasil e em alguns momentos avançando até o Centro-Oeste e o Sudeste. A dinâmica é, claramente, de inverno com alta frequência de pulsos de ar frio e alguns de maior intensidade. Isso, entretanto, é muito importante destacar, não significa que os próximos 30 dias vão ser frios. Haverá vários dias com temperatura amena e alguns até mais agradáveis e quentes com maior probabilidade de dias de temperatura elevada à tarde no Brasil Central.

La Niña forte precipita chegada do inverno

A chegada do frio mais cedo neste ano tem todas as impressões digitais do fenômeno La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico na faixa equatorial. A atmosfera está em modo de La Niña desde o final do inverno de 2021 e o fenômeno trouxe a severa estiagem nos estados do Sul durante o verão que foi responsável pela quebra da safra com perdas bilionárias nas culturas de milho e soja.

Foi o que favoreceu também um evento de frio muito intenso para março com marcas históricas de temperatura baixa para o mês. Várias cidades no Rio Grande do Sul tiveram as suas mais baixas mínimas para marco desde 1964 e em Bagé foi observada a mínima absoluta para o mês desde o começo das observações em 1912. Estudo de analogia da MetSul mostra que frio cedo em março aumenta a probabilidade de eventos intensos de ar gelado no inverno. Agora, a La Niña vai antecipar o inverno.

Como a MetSul hoje destacou, este evento de La Niña no Pacífico será atipicamente prolongado, se estenderá ainda por vários meses e é o mais intenso nesta época do ano em uma geração. De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência climática dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central está em -1,2ºC. Esta é a região utilizada para classificar se há Niño ou Niña e, assim, é a mais observada. O valor de -1,2ºC está compreendido na faixa de intensidade moderada para La Niña que vai de -1,0ºC a -1,4ºC.

Já a anomalia no Pacífico Equatorial Leste, perto dos litorais do Peru e do Equador, foi de -1,5ºC na última semana. Valor dentro da faixa de forte intensidade que vai de -1,5ºC a -1,9ºC. Esta região mais a Leste, conforme estudos de correlação, possui forte influência na chuva do Sul do Brasil, particularmente no Rio Grande do Sul, no fim da primavera e verão. No inverno, ao contrário, mesmo estando muito fria podem ocorrer eventos de chuva volumosa, como se viu dias atrás no Sul do país. A sua influência no inverno se dá mais na temperatura, favorecendo fortes incursões de ar frio quando as anomalias são muito negativas, como agora.

A última anomalia semanal de abril de -1,1ºC para a região Central do Pacífico foi a mais fria em uma semana para o mês desde 1999. Já a anomalia do Pacífico Equatorial Central divulgada nesta semana de -1,2ºC é a menor em uma semana de maio desde o ano 2000, portanto há 22 anos. Valores tão baixos de temperatura para o Pacífico Equatorial nesta época do ano ocorreram poucas vezes na história recente, destacando-se 1985, 1988, 1999, 2000, 2008 e 2011.

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